Maria Luiza Carone Furtado (Maria Casadevall) faz parte de
uma das nobres famílias de São Paulo. Mãe de um menino, ela não pensa em outra
vida, a não ser a que planejou com seu marido no Rio de Janeiro, montar um
restaurante.
Quando não consegue mais notícias de seu marido, Maria Luiza
decide ir ao Rio de Janeiro e descobre que ela foi duplamente traída, pois além
do marido ter casos com outras mulheres, ele roubara todas as suas finanças,
deixando-a somente com um local todo desestruturado.
Desesperada, Maria Luiza aceita o convite de sua amiga de
infância, Lígia Soares (Fernanda Vasconcellos), casada com um vereador do Rio
de Janeiro, Augusto Soares (Gustavo Vaz), para dar um passeio no iate do
produtor musical Roberto (Gustavo Machado). No iate Maria Luiza conhece o músico
em ascensão, Chico Carvalho (Leandro Lima), e se encanta com seu estilo de
música, a Bossa Nova. Após tomar um porre, a cunhada de Lígia, Thereza Soares
(Mel Lisboa), casada com o empresário e bom-vivant
Nelson Soares (Alexandre Cioletti), leva Maria Luiza para sua casa, onde ela
reencontra Chico e este a leva ao verdadeiro Rio de Janeiro, um morro onde está
acontecendo uma roda de samba. Lá Malu – apelido que ganhou de Chico –
reencontra Adélia Araújo (Pathy Dejesus), que a salvara no dia anterior quando
Malu decidiu colocar fogo nas roupas e coisas do marido. Adélia é uma mulher
independente e trabalhadora, que dá duro para sustentar sua filha, Conceição (Sarah
Vitória), e é apaixonada pelo músico Capitão (Ícaro Silva).
Após ver aquela Roda de Samba e não conseguindo esquecer do
estilo de música do Chico, Malu tem a ideia de abrir uma boate, no Rio de
Janeiro, de música ao vivo. Para isso ela convida Adélia, que decide embarcar
em sua empreitada.
Não vou escrever mais nada, pois “Coisa Mais Linda” é uma
grande surpresa de série brasileira na Netflix. Estou apaixonado!
Acredito que, quem não assistiu ainda e ler essa resenha vai
achar que é uma série como outra qualquer que fala sobre o empoderamento
feminino, mas estamos falando de uma história que se transcorre em 1959, em
pleno período de mulheres submissas aos maridos no Brasil.
Era uma época onde as mulheres não possuíam direitos,
somente deveres. Elas deveriam servir aos maridos e estarem sempre prontas para
serem verdadeiras senhoras do lar. Então a histórias dessas quatro mulheres:
Malu, Adélia, Lígia e Theresa, está muito a frente de sua época, como ocorriam
com várias mulheres que dificilmente aparecem nas histórias.
A Bossa Nova era um nome conhecido desde a década de 1930,
mas ela somente tomou forma na década de 1950, com compositores como Dick
Farney, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Boscoli, João Gilberto, maestro
Tom Jobim e Vinicius de Moraes. As músicas misturavam jazz com samba e eram
minimalistas, com tons delicados e bem compassados. Elas buscavam retratar as
belezas do Rio de Janeiro, bem como os amores ganhados e perdidos.
Mas a década de 1950 não era uma das mais belas décadas para
as mulheres. Elas tinham somente o direito de poder trabalhar fora, mas não esquecendo
de serem mulheres do lar que tinham de cuidar de seu marido. Quando alguma
mulher tentava a liberdade ou mesmo ser independente, era chamada dos mais
variados nomes inapropriados. Os homens se achavam tão talentosos e capazes que
eles escreviam revistas voltadas para mulheres. Elas não votavam (já mencionei
isso?), pois as achavam incapazes disso. A violência dentro do lar era tratada
como um mero conflito familiar.
“Coisa Mais Linda” mostra o princípio de uma busca pela
emancipação e aceitação do lugar da mulher na sociedade. Mulheres fortes,
decididas, determinadas e capazes de cuidar de si mesmas e daqueles que amam.
Nada as impedem de conquistar o que desejam.
Em partes, “Coisa Mais Linda” me lembrou a minissérie global
“Anos Dourados”, e em outra me lembrou a série estadunidense “Sra. Maisel”,
exatamente mostrando mulheres no seu redescobrir de liberdade social e conjugal.
Liberdade essa conquistada no princípio da Segunda Guerra Mundial, quando
precisaram largar as vassouras e ser o pilar do lar, pois é o que elas são e
sempre serão.
Já diz o ditado: “Pois trás de um grande homem, existe uma
grande mulher”, pois sem ela o homem e a sociedade não progridem. A luta por
seus direitos advém do final do século XVIII, e tomaram força com a medida do
tempo. Hoje, elas somente não dominam o mundo porque ainda a sociedade é
machista, às vezes, vindo delas mesmas.
“Coisa Mais Linda” poderia ser um grito, mas é somente uma
série que mostra que conquistas vêm de lutas e batalhas que, as vezes, podem
até ser perdidas.
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