terça-feira, 16 de julho de 2019

Teatro Capixaba: Mini-biographia: Wilson Nunes

Republicação do projeto "Mini-biographia" que fiz de Wilson Nunes, em 15 de setembro de 2010, com grande ajuda do Dimensão Cultura.

Eu comecei esse projeto há alguns dias, timidamente, com a personagem de Milson Henriques, Marly, que ganhou corpo e voz com o ator e diretor José Luiz Gobbi. Depois parti para outra personagem da ficção, que é uma criação em dupla de Wilson Nunes e Edilson Pedrini (um a concebeu e o outro escreveu as falas dela), Melani Marques.
Agora o projeto Mini-Biographia toma outro rumo graças a duas pessoas, a atriz e produtora Karina Americano e Wagner Trarbach, que está cursando a faculdade de Rádio e TV na FAESA, que entrevistaram para o Dimensão Cultura, o ator, diretor, produtor, dramaturgo, locutor, professor de teatro, cantor, descobridor de talentos e – lógico! – criador de Melani Marques, Wilson Nunes. Esse trabalho foi gostoso de fazer, pois ver a trajetória de Wilson e tudo que ele conquistou de lá para cá, e simplesmente inebriante. Abaixo você poderá ver o resultado dessa Mini-Biographia:
Wilson não começou como ator como muitos devem acreditar, sua carreira se iniciou como cantor em um Festival de Música em Santa Tereza em 1980, ganhando o prêmio de Melhor Interprete do Festival com a música “Quadrilha no Arraiá”, forró do capixaba Zé Orlando. Nesse mesmo ano ele começou fazendo serestas no Álvares Cabral, em Vitória, no Clube do Português, que se localizava na Serra e no ARCI, em Vila Velha, e foi assim durante dois anos.
Em 1982, Wilson Nunes começou sua carreira como ator. Nesse ano ele fez seu primeiro teste com Milton Neves, criador da Vovó Bina, na Agência Vovó Bina, da Vovó Bina Produções Artísticas, e iniciou como Papai Noel em eventos natalinos no Centro da Praia Shopping e Boulevard da Praia, ambos localizados na Praia do Canto, em Vitória.
Seu primeiro trabalho em palco aconteceu na peça “O Gato Playboy”, de Paulo Pinheiro, como o Guarda Real. Ela servia, também, para animar festinhas de crianças, e era assim que Wilson começava a fazer a construção de suas personagens e suas improvisações, que são tão conhecidas e esperadas em seus espetáculos. O trabalho de interpretação, construção da personagem, era totalmente autodidata. Ele aprendia a ser ator indo assistir espetáculos com os atores e atrizes que já desenvolviam esse trabalho no Espírito Santo, como Geiza Ramos, Inácia Freitas, Vera Rocha e Cesar Sampaio, os diretores Milton Neves (que o descobrira) e Renato Saudino são suas melhores referências como diretores teatrais. Esses já eram os “gigantes” do nosso teatro e chegavam a intimidar Wilson, devido ao talento que possuíam, fazendo-o refletir muito em como poderia embarcar nesse meio que tanto o contagiava e o deixava feliz. Mas com os trabalhos desenvolvidos ao lado de Milton Neves, Wilson conseguiu embarcar no ramo de comerciais de TV.
Raridade na década de 1980, Wilson Nunes conseguiu fazer uma média de cinco comerciais nesse período, e mesmo sem muita experiência com vídeo, pois cursos em Vitória, tanto para teatro quanto para vídeo, não existiam, ele encarou e deu certo. Mas aquela década fora totalmente voltada para o teatro. Depois de “O Gato Playboy”, foi a vez da peça infantil de Maria Clara Machado, “Maria Minhoca”. Wilson ainda fez a personagem Halleyzinho na peça infantil “As Aventuras de Halleyzinho”, escrito e dirigido por Milton Neves, em comemoração com a passagem do cometa Halley em 1986. Enquanto esteve junto à Turma da Vovó Bina, Wilson aprendeu a seriedade e o comprometimento com o teatro. Dedicado como é, Wilson as vezes, para participar dos ensaios com a Turma da Vovó Bina, ia de Maruípe ao Centro, andando e lendo o texto da peça.
Já na década de 1990, Wilson Nunes começou estrelando, ao lado de Marlon Christie, Tadeu Schneider e Gilberto Helmer, a peça “Os Gatos do Beco”, escrito e dirigido por Alvarito Mendes Filho. A peça se tornou um grande sucesso na época, e foi o pontapé para o início da carreira solo de Wilson. A peça infantil era uma mistura de Beatles com o musical da Broadway – de forma bem mais humilde - “Cats”. As lembranças carinhosas de Wilson com esse espetáculo, vem desde as improvisações engraçadas dentro do elenco até os acidentes que sofrera, como a queda do palco do Teatro da Garoto, em Vila Velha, no qual ele saiu mancando, mas sem descaracterizar a personagem, continuou miando. Após esse grande sucesso ao lado de Alvarito, Wilson participou de sua primeira peça teatral adulta, “Hello Creuzodete 2: A Missão”.
Primeiro surgiu o convite pelo autor Milson Henriques e o ator José Luiz Gobbi, após verem o trabalho de Wilson em “Os Gatos do Beco”, para um teste. Milson já conhecia Wilson da época em que ele fazia serestas, e depois de tantas vezes ir assistir ao espetáculo infantil, o convite foi feito.
No mesmo dia do teste, Wilson foi contratado para a continuação de “Hello Creuzodete”, no qual Gobbi fazia a personagem central Marly, criada por Milson Henriques para as tiras de jornal. Como “Os Gatos do Beco”, “Hello Creuzodete 2: A Missão” também fora um grande sucesso, estreando no Teatro Glória e depois indo para o Teatro Galpão, aonde ficou em cartaz com todos os fins de semana lotados, e levou Wilson Nunes a outros trabalhos.
Ele voltou a fazer infantil na peça “Pinóquio, O Menino”, que ficou um mês em cartaz no Teatro João Caetano, do Rio de Janeiro, após a vinda do diretor Rogério Fróes à capital. Quando retornou, Wilson teve sua estreia como diretor profissional de teatro em “Minha Sogra 44”, que foi também seu primeiro texto para os palcos. A peça contava a história de Fred e Duda, o primeiro um funcionário de banco e o outro era um transformista. Ambos eram namorados e viviam bem, até que um dia recebem o telefonema da mãe do Fred, Dona Carmelita, que queria visitá-los. Assim sendo, para que ela não saiba do caso de ambos, eles decidem colocar a empregada Lauriete como esposa do Fred, só que a mãe deste, cria um grande interesse pela falsa esposa, criando uma grande bagunça dentro da casa. No elenco, com Wilson Nunes, estavam Célia Sampaio, Gilberto Helmer e Mauro Pinheiro.
O sistema de direção adotado por Wilson é muito interessante, pois para estar em palco e dirigir ao mesmo tempo, ele adotou pedras para fazer a demarcação de cena. Sendo assim, cada ator era uma pedra, com uma cor diferente, e quando ele movimentava tinha ideia de como desenrolaria a trama, podendo se encaixar depois.
Dentro de todos os trabalhos, Wilson Nunes, após seu sucesso em “Hello Creuzodete II: A Missão”, recebeu vários convites, dentre eles se tornou locutor. Em um projeto na Praça Costa Pereira, chamado “Sobre Mesa”, que acontecia em uma grande estrutura, todas as quartas-feiras ao meio-dia, ele era o Entertainer, que apresentava os músicos que cantavam, além de divertir àqueles que transitavam pela praça.
Mas o teatro sempre foi o foco de Wilson, que voltou a ser convidado por Milson Henriques e José Luiz Gobbi para encenar a peça “Hello Creuzodete III: A Perereca da Marly”, uma comédia infantil satirizando o conto Cinderela. Foi nesta mesma época que Wilson Nunes sofreu sua paralisia facial, duas semanas antes de estear a peça. Todo o lado esquerdo de seu rosto simplesmente parou, mas ele não deixou de estrear como Cacilda, uma das irmãs más da “Marly Cinderela”, fazendo uso da paralisia para composição da personagem. Como anteriormente, A Perereca da Marly fora outro grande sucesso.
Em 1999, Alvarito Mendes Filho retorna com o espetáculo Os Gatos do Beco, no mesmo período em que Wilson começou a dar aula de teatro na Escola de Teatro, Dança e Música FAFI, por convite do diretor e dramaturgo Erlon Paschoal.
No ano posterior, em 2000, Wilson estreou “Por Favor, Matem Minha Empregada”, dando vida a socialite Melani Marques. O texto era de Edilson Pedrini, que apresentou a peça à Wilson dentro de uma boate. No elenco, além de Wilson e Edilson, tínhamos Altair Caetano, Eder Faé, Flaviano Avilloni e Stael Magesck. O espetáculo era uma comédia besteirol que teve público recorde na época de 80.000 espectadores, tendo sucesso repetido em 2001. Em 2002 estreia “Por Favor Matem Minha Empregada 2”, com retorno de todos os atores do primeiro e acréscimo da atriz Alexandra Rosa. Em 2003, Wilson fica somente como diretor da peça infanto-juvenil “No Tempo do Vinil”, aonde descobre vários talentos como Higor Campanharo e Léia Rodrigues, que trabalha até hoje com Wilson. A peça é narrada por uma freira em uma escola de meninas, suas lembranças das alunas que por ali passaram e dos rapazes que elas vieram a conhecer. O sucesso foi tanto que ela ganhou o Prêmio de Melhor Peça infanto-juvenil no Festival Nacional de Guaçuí. Neste mesmo ano Wilson é chamado por Milson Henriques para dirigir “Filho Adolescente, Pais Aborrecentes”.
Em 2004, Wilson decidi adaptar a obra de William Shakespeare, “Romeu e Julieta... O Amor Venceu!”, para o palco do Teatro Galpão, voltando a atuar e dirigir nesse trabalho, ao lado de alguns talentos que ele descobrira em “No Tempo do Vinil”. Já em 2005, ele monta “Por Favor, Matem Meu Patrão”, onde fazia uma crítica, bem humorada, ao descaso das repartições públicas. Em 2006 ele iniciou a montagem de “Minha Sogra é de Matar”, uma releitura da peça “Minha Sogra 44”, com a introdução de uma nova personagem, A estreia aconteceu em 2007, sendo que ficou no ano anterior levando “Por Favor, Matem Meu Patrão” para outras cidades do Espírito Santo.
Mesmo com “Minha Sogra é de Matar” ainda em cartaz, em 2008 Wilson volta com Melani Marques, mas dessa vez ela incorpora Cleópatra na peça “Luz, Câmera... Cleópatra em Ação”. No enredo, Melani decide fazer um filme sobre Cleópatra, aonde ela é a personagem. Como em suas outras passadas pelo teatro, a peça se torna um verdadeiro sucesso e leva a Wilson fazer sua primeira Dobradinha Cultural encenando em um fim de semana “Minha Sogra é de Matar” e no outro “Luz, Câmera... Cleópatra em Ação”.
Wilson nunca negou a essência de seus espetáculos, que são besteirol, pois é isso que as torna verdadeiros sucessos.
Em 2009, Wilson é novamente convidado por José Luiz Gobbi, que agora encara a produção, e o multimídia Milson Henriques, para dirigir o conto infantil de Milson “O Bello e as feras”. A história fala sobre a imigração italiana no Espírito Santo e conta as aventuras de Bello, um italiano que decide se embrenhar na Mata Atlântica e se depara na disputa entre Dona Onça e Dona Jiboia, para descobrirem qual delas é a Rainha das florestas brasileiras, e para tal ambas precisam devorar um humano, no caso, Bello. Com a ajuda de uma linda Beija-flor, um macaquinho e um gambá, ele consegue se safar.
No ano de 2010, Wilson volta aos palcos atuando como Melani Marques novamente na peça “Minha Empregada é de Matar 3 – 10 Anos Depois...”. Dessa vez, a candidata a socialite decide se candidatar a Deputada Federal. A peça traz de volta vários atores da primeira montagem ao lado de novos atores e esteve em cartaz no Clube dos Oficiais, a partir do dia 26 de setembro de 2010 (domingo), as 19h30.
Wilson Nunes é um daqueles atores que estima por ser capixaba, sem pensar em fazer carreira fora do estado, e sua carreira ascende a cada novo trabalho que desenvolve, seja como apresentador, diretor, ator, descobridor de talentos ou mesmo dramaturgo, seus trabalhos encantam a todos que acompanham sua carreira. Um excelente profissional, que respeita a todos que trabalham com ele, desde o ator com quem divide a cena até mesmo ao contrarregra, ele trata a todos igualitariamente (posso falar por experiência própria!).
Aqui termino essa Mini-Biographia, deixando-os com os vídeos que tanto me ajudaram.


Sobre Wilson...

Wilson Nunes em um desenho que fiz dele.

Sendo bem sincero, eu não vou falar sobre uma perda, mas sobre tudo que ele representa... mas, lógico, temos de falar sobre quem perdemos.
Perdemos Wilson Nunes!
Para alguns, esse nome não pode significar muito – falei para minha mãe e ela nem imaginava quem ele era –, mas para outros ele significa LUTA!
Anos atrás, quando perdemos um outro grande artista capixaba, Milson Henriques – tá, eu sei que ele nasceu no Rio de Janeiro, mas ele era mais capixaba do que carioca – eu pensei em vir aqui e prestar minha homenagem, mas eu conhecia Milson menos ainda do que conhecia Wilson. Milson teve uma grande influência na minha infância, quando eu estava caminhando na tentativa de aprender a desenhar. Já Wilson teve uma influência no meu lado artístico.
Eu decidi fazer teatro em 1998, quando embarquei em um curso particular cuja professora era a atriz Alcione Dias. Nessa época, o nome Wilson Nunes não tinha muito significado para mim, mesmo que ele já estivesse no cenário capixaba atuando em peças como “Os Gatos do Beco”, “Hello, Creuzodete II: A Missão”, “Pinóquio: O Menino”, “Minha Sogra 44”, entre outras.
Desse curso, fui para a Fafi, onde viria a conhecer o ator e diretor José Luiz Gobbi, com quem Wilson trabalhara em “Hello, Creuzodete II: A Missão” e “Hello, Creuzodete: A Perereca da Marly”, mas mesmo assim não conhecia muito sobre ele. Quando ocorreu uma apresentação em comemoração do aniversário de Vitória, no Parque Moscoso, onde Milson Henriques escrevera os esquetes, fiquei conhecendo Wilson, mas a distância, pois ele dirigia o trabalho. Depois ouvia coisas aqui e ali sobre ele, pois nem todos gostavam da forma dele fazer teatro – e ele sabia disso –, pois dava muita ênfase ao besteirol, às comédias “bobas”. Quando eu o conheci de fato, foi que acendeu meu fascínio pelo artista.
Wilson era humilde, mas não comedido. Nem poderia ser, pois na sua luta constante para fazer o teatro capixaba funcionar, ele corria atrás, batalhava insistentemente. Ele mesmo produzia seus trabalhos, pois sabia o que queria em cena. Comprava os tecidos, decidia a iluminação, dirigia seu elenco e fomentava seus espetáculos. Lógico que ele tinha aliados, aquelas pessoas que estavam ao seu lado e o ajudavam em tudo que ele precisava. Mas ele tinha essas pessoas a sua volta, pois ele acreditava nelas e elas nele.
Carismático, Wilson tratava todos com igualdade. Passei por uma experiência de ser seu contrarregra em uma viagem do espetáculo “O Bello e as Feras”, escrito por Milson Henriques.
Eu já tinha desistido do teatro. Não levara a frente minhas participações em “O Pássaro Azul” e “Boulevard, 83”, mas Wilson me chamou para acompanha-lo em uma viagem para Venda Nova do Imigrante com “O Bello e as Feras”. Lá, eu percebi o quanto todos a sua volta o amavam. Ele se preocupava com os mais jovens, pois se sentia como pai deles (era o responsável), mas não deixava de se preocupar com os adultos.
Nessa viagem, Milson Henriques estava junto, também. E, em uma conversa com ele, percebi sua admiração e carinho por Wilson. Eles estavam pensando em desenvolver muitos trabalhos juntos.
Wilson ainda tentou me chamar para outro trabalho em continuação – ele estava realizando uma nova montagem para “Minha Sogra é de Matar” – mas eu já havia embarcado na Faculdade de História e não pude seguir junto.
Meu contato com Wilson, depois disso, foi somente por telefone ou por mensagens. Só que, uma vez, quando terminara de escrever uma peça de teatro, eu entrei em contato com ele e enviei por e-mail. Nos encontramos e ele foi bem sincero comigo, o que aumentou ainda mais minha admiração por ele.
Quando Milson partiu para o outro lado, foi uma perda tremenda para Wilson. Ele sofreu muito e, constantemente, buscava lembrar a todos da importância de Milson para o nosso cenário artístico-cênico. Milson deixou com ele a responsabilidade de cuidar de seu acervo que, em uma conversa recente com Wilson, estava totalmente organizado.
Essa conversa ocorreu, pois eu desistira, totalmente, do teatro. Queria desativar o blog Teatro Capixaba, larguei a página no Facebook – passei para Wyller Villaças –, abandonei o grupo e queria “quebrar” todos os laços, em definitivo, pois trilhei outro caminho e me afastei totalmente da cena cênica-teatral. Então Wilson entrou em contato comigo pedindo que eu ligasse para ele e conversamos.
Ele me lembrou da importância do blog e no quanto aquilo significava para o nosso teatro. Wilson era assim, uma pessoa incentivadora, motivadora e amiga.
Agora eu menciono a perda: Em 25 de junho de 2016, nós perdemos Milson Henriques e, no dia 16 de julho de 2019, nós perdemos Wilson Tadeu Nunes. O Elísio, com certeza, está sorrindo mais do que nunca agora!

domingo, 7 de julho de 2019

O ÚLTIMO DOS CZARES (The Last Czars, 2019)


Nicolau II (Robert Jack) se torna o novo Czar com a morte de seu pai, Alexandre III. Perto do final do século XIX, se casa com a bela Alexandra Fyodorovna (Susanna Herbert) e é coroado czar. Seu período como czar foi um período de extremo desenvolvimento industrial de toda a Rússia, mas também acarretou em movimentos contra a autarquia do soberano. A insatisfação do povo russo crescia drasticamente, pois viam o país crescer, mas não haviam melhoras em suas condições de vida.
Nicolau pouco demonstrava sua preocupação com o povo, pois vivia cercado de seus ministros e conselheiros, que decidiam as posições que ele deveria tomar, tanto que entrou em um conflito contra o Império japonês, que foi uma catástrofe. Suas preocupações estavam voltadas para gerar um herdeiro, pois somente tivera filhas – Olga, Tatyana, Maria e Anastasia. Quando Alexey nasce, descobre que o menino tem hemofilia e, para após anos brucando ajudar seu herdeiro, entra em cena o “padre” Grigory Rasputin (Ben Cartwright), que impressionantemente deixa o jovem herdeiro melhor. Com isso, a czarina, crendo que Rasputin é uma benção, exige que sua permanência seja constante na corte, trazendo problemas para o governo totalitarista de Nicolau.
Com o crescimento dos problemas, atentados aos conselheiros de Nicolau, ele estabelece o Duma – um órgão legislativo do Império Russo.
Com a chegada da Primeira Guerra Mundial, os conselheiros de Nicolau o recomendam a entrar nessa nova guerra, contra o Império Austro-húngaro e a Alemanha. Com isso, os problemas tencionam ainda mais e a Revolução bate a porta do governo, com protestos, interrupções de batalhas, até o total domínio do poder russo, levando até pedido do czar de abrir mão do poder, encerrando séculos de domínio Romanov no império russo.
Isso é o resumo do resumo de “O Último dos Czares”, série documental da Netflix sobre os últimos anos de Nicolau II à frente do Império Russo.
A série tem caráter de documentário, mesmo com atores interpretando e atuando como os pivôs da crise que levaria a Queda dos Romanov. Ela é sempre intercalada com comentários e explanações de historiadores de grandes universidades mundiais, dando clareza do que ocorreu na Rússia de 1896 a 1917. Além disso, traz como pano de fundo a história da descoberta de uma jovem que diz ser a filha mais nova de Nicolau e Alexandra, Anastasia.
“O Último dos Czares” é um fantástico trabalho de estudo e compreensão histórica do que ocorreu com os últimos dos Romanov e o início da Revolução Russa, que levou a criação da União Soviética, uma Estado Comunista Totalitarista, que durou de 1917 a 1985, quando Gorbachev iniciou a Perestroika e a Glasnost.

sábado, 6 de julho de 2019

HUMAN - O que faz de nós humanos?


O que nos torna humanos? Amor? Força? Determinação? Obstinação? Emprego? Riqueza? Probreza? Felicidade? Tristeza?
Cada humano existe e vive uma realidade diferente de tudo e de todos. Alguns têm semelhanças, mas como eles encaram a realidade, muitas vezes, é de forma diferente.
O que é realmente amor? O que é ter Força, determinação e obstinação? O que é ser empregado? O que é riqueza? Ou pobreza?
A série documental “Human” – disponível, completa, no YouTube – mostra esses vários aspectos de ser humano.
Amamos, odiamos, lutamos, sobrevivemos, trabalhamos, nos importamos, somos esnobes, desprezamos os outros... pois somos humanos.
“Human” chega a ser mais do que um documentário, pois é o relato de várias vidas, vários tipos, religiões, gêneros, espécies humanas que sofrem, riem, se magoam, mas sempre descobrem que a vida humana, por mais dura ou “fácil” que seja, precisa ser vivida em sua plenitude.
No YouTube, individualmente, são 96 vídeos de cada ser humano que dá seu depoimento. Já a série-documental é dividida em três volume de uma hora e meia cada um. O conhecimento que cada um desses volumes traz no faz pensar um pouco sobre nós mesmos, seres humanos como cada um que narra sua vida em vídeos.
O que somos nós? Quem somos nós? O que nos diferencia? A cor de nossa pele? Nossa sexualidade? Nossa religião? Nossa condição social? Por que isso nos diferencia, já que respiramos o mesmo ar, precisamos de nos alimentar? Precisamos amar!
A iniciativa do diretor francês Yann Arthus-Bertrand é maravilhosa com “Human”. Contando com o apoio e produção da Humankind Production, da Google Cultural Institute, Foundation Goodplanet, “Human” se torna o mais abrangente e emocionante relato mundial do que a humanidade significa no geral.
Você tem soldados, sobreviventes, esposas e maridos – não importa o gênero –, trabalhadores, judeus e mulçumanos – que considero mais do que uma religião –, brancos, negros e amarelos – raça só existe uma, a humana –, todo o tipo de seres humanos, que falam sobre seus amores, suas decepções, sua luta constante, seu sofrimento, sua felicidade.
Mesmo que eu esteja fazendo esse relato sobre “Human” – algo que eu desejava ter feito quando assisti pela primeira vez, mas (como agora) me achava incompetente para isso –, somente assistindo para conseguir compreender de verdade o quão importante essa série é.
Antes de finalizar esse texto, que lhes deixar algo expressivo, que o ex-presidente do Uruguai, Jose Alberto Mujica Cordano, fala em “Human”:

“Ou você é feliz com pouco, com pouca bagagem, pois a felicidade está em você, ou não consegue nada.
Isso não é a apologia da pobreza, mas da sobriedade. Só que inventamos uma sociedade de consumo... consumista e a economia tem de crescer, ou acontece uma tragédia.
Inventamos uma montanha de consumos supérfluos. Compra-se e descarta-se. Mas o que se gasta é tempo de vida.
Quando compro algo, ou você compra, não pagamos com dinheiro, pagamos com o tempo de vida que tivemos de gastar para ter aquele dinheiro. Mas tem um detalhe: tudo se compra, menos a vida. A vida se gasta. E é lamentável desperdiçar a vida para perder a liberdade”.

Human” pode ser assistido no YouTube:


P.S.: Se eu pareci repetitivo e cansativo, me perdoem, mas também sou humano!

quarta-feira, 27 de março de 2019

COISA MAIS LINDA (2019)


Maria Luiza Carone Furtado (Maria Casadevall) faz parte de uma das nobres famílias de São Paulo. Mãe de um menino, ela não pensa em outra vida, a não ser a que planejou com seu marido no Rio de Janeiro, montar um restaurante.
Quando não consegue mais notícias de seu marido, Maria Luiza decide ir ao Rio de Janeiro e descobre que ela foi duplamente traída, pois além do marido ter casos com outras mulheres, ele roubara todas as suas finanças, deixando-a somente com um local todo desestruturado.
Desesperada, Maria Luiza aceita o convite de sua amiga de infância, Lígia Soares (Fernanda Vasconcellos), casada com um vereador do Rio de Janeiro, Augusto Soares (Gustavo Vaz), para dar um passeio no iate do produtor musical Roberto (Gustavo Machado). No iate Maria Luiza conhece o músico em ascensão, Chico Carvalho (Leandro Lima), e se encanta com seu estilo de música, a Bossa Nova. Após tomar um porre, a cunhada de Lígia, Thereza Soares (Mel Lisboa), casada com o empresário e bom-vivant Nelson Soares (Alexandre Cioletti), leva Maria Luiza para sua casa, onde ela reencontra Chico e este a leva ao verdadeiro Rio de Janeiro, um morro onde está acontecendo uma roda de samba. Lá Malu – apelido que ganhou de Chico – reencontra Adélia Araújo (Pathy Dejesus), que a salvara no dia anterior quando Malu decidiu colocar fogo nas roupas e coisas do marido. Adélia é uma mulher independente e trabalhadora, que dá duro para sustentar sua filha, Conceição (Sarah Vitória), e é apaixonada pelo músico Capitão (Ícaro Silva).
Após ver aquela Roda de Samba e não conseguindo esquecer do estilo de música do Chico, Malu tem a ideia de abrir uma boate, no Rio de Janeiro, de música ao vivo. Para isso ela convida Adélia, que decide embarcar em sua empreitada.
Não vou escrever mais nada, pois “Coisa Mais Linda” é uma grande surpresa de série brasileira na Netflix. Estou apaixonado!
Acredito que, quem não assistiu ainda e ler essa resenha vai achar que é uma série como outra qualquer que fala sobre o empoderamento feminino, mas estamos falando de uma história que se transcorre em 1959, em pleno período de mulheres submissas aos maridos no Brasil.
Era uma época onde as mulheres não possuíam direitos, somente deveres. Elas deveriam servir aos maridos e estarem sempre prontas para serem verdadeiras senhoras do lar. Então a histórias dessas quatro mulheres: Malu, Adélia, Lígia e Theresa, está muito a frente de sua época, como ocorriam com várias mulheres que dificilmente aparecem nas histórias.
Sem contar que era o despertar de u novo estilo de som no Brasil, a Bossa nova.
A Bossa Nova era um nome conhecido desde a década de 1930, mas ela somente tomou forma na década de 1950, com compositores como Dick Farney, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Boscoli, João Gilberto, maestro Tom Jobim e Vinicius de Moraes. As músicas misturavam jazz com samba e eram minimalistas, com tons delicados e bem compassados. Elas buscavam retratar as belezas do Rio de Janeiro, bem como os amores ganhados e perdidos.
Mas a década de 1950 não era uma das mais belas décadas para as mulheres. Elas tinham somente o direito de poder trabalhar fora, mas não esquecendo de serem mulheres do lar que tinham de cuidar de seu marido. Quando alguma mulher tentava a liberdade ou mesmo ser independente, era chamada dos mais variados nomes inapropriados. Os homens se achavam tão talentosos e capazes que eles escreviam revistas voltadas para mulheres. Elas não votavam (já mencionei isso?), pois as achavam incapazes disso. A violência dentro do lar era tratada como um mero conflito familiar.
“Coisa Mais Linda” mostra o princípio de uma busca pela emancipação e aceitação do lugar da mulher na sociedade. Mulheres fortes, decididas, determinadas e capazes de cuidar de si mesmas e daqueles que amam. Nada as impedem de conquistar o que desejam.
Em partes, “Coisa Mais Linda” me lembrou a minissérie global “Anos Dourados”, e em outra me lembrou a série estadunidense “Sra. Maisel”, exatamente mostrando mulheres no seu redescobrir de liberdade social e conjugal. Liberdade essa conquistada no princípio da Segunda Guerra Mundial, quando precisaram largar as vassouras e ser o pilar do lar, pois é o que elas são e sempre serão.
Já diz o ditado: “Pois trás de um grande homem, existe uma grande mulher”, pois sem ela o homem e a sociedade não progridem. A luta por seus direitos advém do final do século XVIII, e tomaram força com a medida do tempo. Hoje, elas somente não dominam o mundo porque ainda a sociedade é machista, às vezes, vindo delas mesmas.
“Coisa Mais Linda” poderia ser um grito, mas é somente uma série que mostra que conquistas vêm de lutas e batalhas que, as vezes, podem até ser perdidas.


domingo, 17 de março de 2019

O Começo do Fim - Primeira Parte


E aqui começo o último conto de "Em Busca do Conhecimento".
Comecei essas histórias como uma válvula de escape em 2008. As primeiras linhas foram escritas às mãos durante o primeiro encontro de blogueiros do Espírito Santo, o BlogcampES. "Odal Ortuo Od" mostrava um universo paralelo, inverso, onde Joshua e Miguel conheciam Aiarp, Alicsirp e se metiam em um grande problema com a chegada a Espilce.
Sim, são nomes estranho e difíceis de dizer, mas nunca sabemos como nossa imaginação funcionará, não é?
"O Começo do Fim" é um retorno a esse mundo paralelo, no qual, desta vez, vai Fred, professor de Joshua e criador do Interpotal.
Não sou físico, mas sou fascinado pelas teorias e estudos da Fisica (longe dos cálculos, pois odeio cálculos). Devo ter cometido vários equívocos no transcorrer das histórias, mas a ficção científica torna o impossível no possível, mesmo que cometa alguns erros no processo.
Ok, vamos parar com a ladainha e partir para a história. Espero que curtam a terceira e última parte de "Em Busca do Conhecimento" que começa aqui.

O COMEÇO NO FIM
Era o último ano de Joshua na faculdade e, desde o último retorno dele e de Miguel pelo Interportal, muitas coisas haviam acontecido e a mais significativa era que ele havia deixado o cargo de estagiário:
- Desculpe-me professor, eu sei que com isso eu estou lhe deixando na mão, mas Miguel, meu primo, não se sente bem-vindo até aqui, e para falar a verdade, o laboratório me traz muitas lembranças de coisas que me aconteceram e nas quais tenho certeza que não ocorrerão novamente. – Fred fitava Joshua de forma inexpressiva. – Mas eu ainda quero que o senhor continue a ser meu orientador na monografia, lógico, pois meu trabalho sobre wormholes não teria sentido sem a sua orientação.
Fred já havia percebido a ausência de Miguel, mas não por ele não aparecer mais no laboratório, fazendo gozações ou brincadeiras das pesquisas, mas sim por suas atitudes obtusas sempre que encontra ou mesmo esbarra com o professor na universidade:
- Eu acho que entendo pelo o que vocês dois estão passando, por isso falo que não precisa se preocupar com isso. Independentemente de você ser meu estagiário ou não, Joshua, eu continuarei com a sua orientação, pois John Wheeler[1] é o nosso grande desafio. – Falou sorrindo para seu aluno.
Fred mais do que achava que entendia Joshua e Miguel. A reclusão dele, na qual Miguel tanto reparava tinha um motivo, apesar dele não se abrir, mantendo somente o envolvimento professor-aluno, Fred já havia vivido também uma aventura amorosa.
Fred era jovem quando se apaixonou por uma moça na sua cidade e, por impulso, terminaram se casando. A ilusão da vida a dois acabou no primeiro mês morando junto com ela.
Enquanto ele trabalhava como balconista em uma farmácia, ela só queria saber de sair à noite, com as amigas, curtir fins-de-semana na praia, como se nada tivesse mudado. Não demorou muito, por causa das brigas, se separaram.
Com um pouco de dinheiro que recebeu de um acordo que fizera com o dono da farmácia, Frederico Bispo – seu nome completo - se mudou para a capital e iniciou um cursinho para fazer o vestibular. Foram doze anos entre a graduação e o doutorado, aos quais ele se dedicou com afinco, sem nada que pudesse intervir.
Quando Fred conseguiu a vaga para professor na universidade, ele transformou o laboratório em sua casa, pois aonde ele residia só servia de local para dormir e tomar banho. Todos os seus livros e suas anotações estavam no laboratório, e nunca ele confiou em alguém para cuidar de suas coisas, até conhecer Joshua.
Fred via Joshua como um rapaz com uma sede por conhecimento que não vira em nenhum outro dos seus alunos em todos os seus seis anos lecionando.
Joshua havia sido seu primeiro estagiário e conseguia entende-lo como ninguém. Mesmo quando ficava nervoso e balbuciava, era coerente. Para Fred só existia um problema com Joshua, o seu primo Miguel.
Miguel era inconsequente, atrevido, valentão, que por vezes Fred ficou de não permitir seu acesso ao laboratório, mas seria o mesmo que perder seu melhor aluno, pois percebia a ligação fraternal de ambos, e mesmo que fosse tudo o que de pior o professor pudesse achar, sabia que ele faria de tudo pelo primo.
Terminou que ele se tornou de muita utilidade, pois se não fosse por sua curiosidade, o Interportal nunca teria sido testado em humanos. Não que Fred tivesse planejado antecipadamente o uso da máquina, mas, mais cedo ou mais tarde a curiosidade primitiva de Miguel o faria agir de forma pouco ortodoxa, tornando o experimento em humanos possível.
O experimento terminou se saindo melhor do que o esperado, apesar de todo o sofrimento que causara a Joshua. Quando entrevistou seu aluno, procurou evitar que ele lembrasse da jovem que ele havia deixado, mas sabia que era impossível, pois ele mesmo nunca havia esquecido de sua esposa. Na segunda vez, Fred esperava que seu melhor aluno optasse por voltar à Aiarp, mas decidiram, graças a sensatez de Joshua, ir para um período aonde a possibilidade de controle era maior.
Parecia que Joshua sabia que eles deveriam estar lá, pois o passado de seus avôs e de seu tio-avô estavam ligados intimamente com a presença de ambos naquela época. O que não se esperava – Joshua sim – era que Miguel se apaixonaria por sua tia-avó. Fred soube de uma breve conversa com seu aluno o que ocorrera, pois, depois disso, nada foi igual.
Fred tentou mudar a situação várias vezes, mas o afastamento de Miguel foi instantâneo, não demonstrando mais nenhum interesse pelo laboratório ou pelos experimentos com o Interportal.
Joshua, como era muito ligado ao primo, terminou se afastando também, aos poucos. Mas como era seu aluno mais aplicado e mais empenhado, Fred buscou de todas as formas mantê-lo como seu estagiário, mas foi em vão.
Durante alguns meses ficou a incerteza quanto à orientação da monografia de Joshua, mas então lhe chegou a proposta, o que lhe deu um certo alívio. Marcaram as datas dos encontros, mas quando eles aconteciam, Joshua parecia distante. Então, em seu tempo livre Fred trabalhava uma forma de ter seu melhor aluno de volta, trabalhando com ele.
Fred passava madrugadas acordado, buscando informações que pudessem elucidar a conexão entre dimensões, tentando compreender como manter o fluxo paralelo.
Buscou os estudos sobre a Teoria das Cordas, Espaços Pandimensionais, Fluxo Temporal e Relatividade, com o objetivo de conseguir informações que o pudesse guiar por um caminho correto para levar Joshua ao momento certo em Aiarp, para reencontrar Alicsirp observando Aul e as salertse em Uéc.
Ao fim de coeficientes, cálculos complexos, Fred acreditou ter achado o denominador comum que poderia levar Joshua à Aiarp. Usou seu computador novamente com objetivo de controlar a viagem e jogou nele seus cálculos. Não tinha certeza se daria certo e por isso ficou receoso de contar para Joshua na reunião que tiveram após a descoberta. E o seu receio fez com ele retornasse a fase de testes, iniciando com objetos inanimados até partir para algo com vida.
Como muitos, Fred era um amante dos animais da universidade. Há algum tempo havia adotado um dos cachorros que circulavam por ali. Antes de adotá-lo, Fred sempre deixava um prato de comida e outro de água, em frente ao laboratório para o animal. Mas quando uma ONG de proteção de animais chegou na universidade para recolher os cães e gatos, para dá-los a novos lares, Fred tomou o cachorro nos braços e se prontificou a cuidar dele. Então um dos voluntários o orientou a procurar uma clínica veterinária para cuidar de doenças, dar um banho e vermifugar o animal, e foi o que Fred fez antes de leva-lo para casa.
Deu-lhe o nome de Wheels[2]. Ele era o principal motivo de Fred ainda ir à residência que se encontrava suas roupas, pois não podia manter Wheels no laboratório, já que era proibido manter animais que não fossem cobaias lá dentro. E como não era a favor de usar animais para pesquisa, o laboratório dele não possuía nenhuma cobaia.
Com o tempo que vinha passando no laboratório, em cima das pesquisas com o Interportal, Fred recorreu a Joshua para que fosse ao seu apartamento para alimentar e passear com Wheels, e este lhe questionou:
- Professor, não tenho nada contra ir ao seu apartamento e passear com Wheels, mas o senhor precisa sair um pouco do laboratório. Precisa visitar seu cachorro.
- Eu não posso no momento. – Respondeu Fred. – Estou concluindo algo muito importante, faça isso para mim, como um último favor.
Joshua ficou preocupado e lhe foi sincero:
- Professor Fred, não tenho nada contra o senhor. Eu e Miguel fizemos as viagens, pois desejávamos ir. Nunca fomos forçados ou ludibriados pelo senhor a fazer nada. Nem eu e nem Miguel achamos isso, só que o laboratório nos traz muitas lembranças que precisamos esquecer. Lógico que eu farei este favor para o senhor e irei no seu apartamento para dar comida, água e passear com o Wheels, mas por que tem ficado até tão tarde no laboratório? – Fred sabia que a pergunta era inevitável e já com a resposta na ponta da língua, disse:
- É uma pesquisa que estou fazendo que precisa de minha total atenção. Não posso falar mais nada, mas em breve você verá. – Finalizou, deixando Joshua com uma pulga atrás da orelha.
- Espero que não tenha relação com o Interportal. – Retrucou. – Apesar de ser um objeto fantástico, ele pode ser um problema muito sério também. – Fez uma pausa antes de continuar e falou. – Eu não sei por que o senhor ainda não o apresentou à comunidade científica. É uma das maiores descobertas e foi feita em um simples laboratório de uma universidade federal sem amplos recursos.
- Como eu lhe contei uma vez, sonho com uma máquina do tempo desde que li Wells na minha juventude. Hoje o Interportal é minha maior realização e divulga-lo para a comunidade científica seria inicialmente motivo de piadas, chacotas e difamação. Depois, alguns começariam a acreditar, e questionariam como eu fiz, até que viessem a tentar roubá-lo, ou então espionar-me, até por fim, intencionarem destruí-lo. Eu poderia torna-lo um peso de papel – apesar do tamanho dele –, mas nunca permitiria sua destruição. E, sinceramente, não sei se seria forte o bastante para aguentar os escárnios dos meus colegas. – E com isso encerrou a conversa. Fred retirou a chave de seu apartamento e entregou a Joshua, que comunicou:
- Hoje mesmo eu passo lá. – Se levantou e estendeu a mão para Fred, para cumprimenta-lo. – Quando será nosso próximo encontro?
- Bem, te passei material o suficiente agora, então vamos marcar para daqui a três meses, que aí você já me traz o trabalho finalizado, que tal?
Joshua tomou um grande susto com a proposta de Fred:
- Mas como assim? Daqui há três meses é um tempo longo demais e, mesmo tendo material o suficiente, ainda haverá a necessidade de seu conhecimento acerca de certos pontos que poderão ser para mim complexos e posso terminar divergindo de minhas ideias quanto ao material... – Fred percebeu que Joshua começar a divagar.
- Acalme-se Joshua, não fique nervoso. Nossas conversas têm demonstrado que você vem seguindo pelo caminho certo, agora só lhe falta escrever e aplicar os cálculos. Acredite quando digo que não faria isso se não tivesse total certeza que você está pronto. Terei de me ausentar por um tempo da universidade, devido a minha pesquisa, mas coloquei uma pessoa no meu lugar em que eu confio. Ele é um dos meus orientados em doutorado e adora Wheeler, como você. Ele estará ministrando minhas aulas e se você precisar poderá te ajudar também, já o deixei a par do seu trabalho.
- Professor Fred, o que pretende fazer? – Questionou Joshua de forma apreensiva e desconfiada, e não entendendo a preocupação, Fred disse:
- Como assim? Qual o motivo de seu questionamento?
- Professor, como bem sabe o Interportal é instável. Apesar de ter um certo controle do espaço-tempo com os acontecimentos nesta dimensão, qualquer tentativa de enviá-lo para uma outra poderia ocasionar em uma quebra, sem padrão exato de tempo onde desembarcar. – Ponderou Joshua. Fred fez ares de ofendido, mas se impressionou com a dedução de seu pupilo:
- Ainda falando sobre o Interportal? De onde tirou a ideia que eu vou usar ele para ir a algum lugar?
- Posso estar muito preocupado com minha monografia, mas ainda consigo reconhecer a fórmula de Laplace[3] no quadro branco quando a vejo. – Pontuou Joshua, apontado para o quadro que continha uma fórmula bem complexa. – Já discutimos e debatemos que é praticamente impossível ter certeza plena do tempo em que se pode parar.
- Não vou mentir dizendo que desisti disso, pois acredito que deva haver uma possibilidade, mesmo que remota, de encontrar o momento exato em que você e Miguel saíram de Aiarp. Foi então que pensei na Inversão do Tempo. – Fred tomou uma caneta na mão e foi em direção ao quadro.
- Pensamos no Tempo como algo linear e correto, enquanto em Aiarp seria inverso ao nosso, mas não no sentido de regressão temporal, mas sim de negatividade, de anterior ao ponto zero. – Mostrou no esquema que desenhara. – Este ponto seria o de encontro entre os dois planetas, como se eles colidissem, caso fizessem parte da mesma dimensão, mas com rotações em sentidos diferentes.
- Isso poderia ser certo, – alegou Joshua. – Como poderia ser totalmente errado. Professor, mesmo com o uso da Teoria da Impossibilidade de Arrow[4], as possibilidades de certezas são remotas, podendo enviar o viajante para outra dimensão, um outro tempo ou até mesmo os fins do Tempo de alguma dimensão ou da nossa própria. Não somos o Superman e nem Benjamin Bottom para conseguir correr o tempo ao contrário, pois seria remotamente inconcebível.
- Joshua, acalme-se. – Amainou Fred, receoso de que seu aluno voltasse a divagar. – Eu falei de uma possibilidade, mesmo que remota. Acredite, não pretendo enviar mais ninguém pelo Interportal. Mas pretendo fazer uma viagem de conhecimento. Eu pretendo – aumentou o tom da própria voz ao perceber que Joshua pretendia interrompê-lo. – me afastar um pouco do laboratório, só isso. – E sorriu para o seu discípulo.
O que Fred não tinha ideia, pois preferiu que Joshua não se aprofundasse no que havia descoberto em Aiarp, é que seu aluno buscava adiar o inevitável. Fred iria para Aiarp, se tornaria Ocirederf, seria mentor de Alicsirp e nem Joshua e nem Miguel nunca mais o veriam.
Fred não podia mentir para si mesmo dizendo que não estava preocupado com tudo que Joshua havia dito, mas ele tinha certeza de que seus cálculos estavam corretos.
No dia após a conversa com Joshua, decidiu tomar um café da manhã mais leve, pois lembrava dos relatos dele e de Miguel a respeito de refluxos estomacais após o transporte pelo Interportal ser finalizado. Joshua acreditava que tinha haver como o ponto de repuxo da máquina, que era o umbigo. Não importava a altura do sujeito, o ponto era sempre o mesmo.
Deixou comida e água para Wheels e escreveu uma carta de recomendações para Joshua e Miguel, pois sabia que terminariam ambos indo ao seu apartamento.
Ao chegar ao laboratório Fred escreveu outra carta, desta vez destinada a Roney, seu substituto, orientando-o como proceder em sala de aula e na orientação da monografia de Joshua. Depois passeou pelo laboratório até chegar a sua sala. Apagou a fórmula do quadro branco e foi ao computador, para programar um religamento de mês a mês, permanecendo assim por doze horas. Quando designou o ligamento, um brilho prismático surgiu de um dos lados do Interportal, enquanto o outro lado tinha uma luz branca fraca.
Fred respirou fundo, preparando-se para o que viria em seguida, e colocou-se em frente ao Interportal, sentindo a puxada central do ponto umbilical. Seu corpo parecia que estava sendo dobrado no meio e os órgãos internos pareciam ser tirados para fora de seu corpo. Uma luz envolveu-o e ele sentiu-se viajando em uma velocidade estupenda, até que tudo apagou.



[1] Físico estadunidense que criou a expressão “buraco negro”.
[2] Rodas, em inglês, mas o verdadeiro objetivo era brincar com o nome de H.G. Wells, autor de A Viagem no Tempo, A Guerra dos Mundos, entre outras grandes obras de ficção.
[3] Pierre-Simon, marquês de Laplace (1749-1827) foi um astrônomo e matemático francês que ficou conhecido como “Newton francês”, trabalhando a matemática astronômica, cosmologia e várias outras teorias, sendo a Transformada de Laplace uma teoria que analisa sistemas dinâmicos lineares.
[4] Kenneth Joseph Arrow (1921-2017) foi um economista estadunidense que criou a Teoria da Impossibilidade, dizia “que a soma das racionalidades individuais não produz uma racionalidade coletiva”.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Prole - Quinta parte

Uau... 2013 foi quando postei a quarta parte de Prole?
Bem, demorei mais tempo do que esperava para terminar a segunda parte de Em Busca do Conhecimento.
Muitas coisas aconteceram para essa demora acontecer, mas eu terminei tem dois anos, mais exatamente em julho de 2017.
Bem, tarda, mas não falha e publico AGORA a quinta parte do Segundo Capítulo de Em Busca do Conhecimento, Prole. Espero que gostem como eu!
Mas, lógico, antes de lerem essa parte, leaim a primeira, a segunda, a terceira e a quarta parte de Prole, a terceira parte de Em Busca do Conhecimento.

Enquanto ambos pensavam na atual situação que vivenciavam, na casa da família de Minerva, Joshua estava ansioso com o primo ter saído com ela, então Giácomo se aproximou, falando baixo com ele:
- Giancarlo está distraído com Sr. Enéias, quer sair? – Na ansiedade, Joshua somente balança a cabeça afirmativamente, e os dois saem. Do lado de fora, Giácomo volta a falar. – Tu parecias que explodiria, precisava te tirar de lá...
- É o Miguel. – esbravejou Joshua. – Ele sabe o que está em risco aqui.
- E o que está em risco? – Perguntou Giácomo intrigado. Então Joshua olhou espantado percebendo que poderia terminar estragando tudo.
- Hã... Não, nada. Sabe, melhor é irmos tomar um refresco na mercearia. – E seguiram para o local. Ao chegarem lá, se depararam com grupos de pessoas sentadas nas mesas, conversando e bebendo, que observaram os estrangeiros que chegavam e entravam. Joshua não tinha costume de beber bebidas alcoólicas, nem mesmo refrescos gaseificados, então pediu um suco enquanto Giácomo se servia de um copo de grappa, quando repararam que duas pessoas entravam na cantina. Eram a moça índia e um senhor mais velho, que ela acompanhava, que talvez fosse seu pai ou avô, mas Joshua já o imaginou como seu marido:
- Mas se não é a jovem rapariga que vimos mais cedo. – Argumentou Giácomo.
- Melhor deixarmos para lá, aquele pode ser o marido dela. – Respondeu Joshua, desviando o olhar.
- Será mesmo? – Giácomo se aproximou dos dois. – Boa tarde para vós. Chamo-me Giácomo. – Os nativos o encararam. – Vós sois próprios desta terra, decerto? Sabem falar à língua que me utilizo?
- Tens bastantes perguntas, mas para ambas a resposta é sim e pelo que vejo não é daqui, senhor... – falou o homem mais velho.
- Giácomo, meu nobre senhor, e tens razão em tua afirmação. Venho do estrangeiro, da Itália.
- Então é como a maioria que habita esta vila, como o senhor Adriano ali, que cuida deste armazém. Chamo-me Irani e esta é minha sobrinha, Bianca.
- Parece um nome incomum para uma jovem índia. – Argumentou Giácomo.
- Estamos em tempos diferentes, meu bom senhor. – argumentou o Irani. Giácomo ergueu a mão para cumprimentar a jovem. – Cumprimente o moço, Bianca. – Ela estendeu o braço e timidamente o cumprimentou:
- Olá! – Ela disse, com uma voz fraca e por trás de um sorriso acanhado.
- Perdoai-me pelos meus modos, mas onde estão os pais dela?
- É uma triste história, meu jovem, a mãe dela faleceu após o parto que a concebeu neste mundo, e o pai seguiu-a no ano passado, após contrair uma doença trazida pelos colonizadores. Não fora possível descobrir a cura dentro de nossa tribo e os médicos daqui não puderam atende-lo a tempo.
- É triste saber de tal fato. Ah, desculpe-me, este é um amigo... Josué! – Giácomo disse quando Joshua se aproximou dele. Ao olhar para a jovem índia, Joshua tentou lembrar-se do semblante de sua tia-avó, que sempre lhe pareceu sereno e agradável, e viu ali exatamente essa aparência tranquila, dando um sorriso descuidado.
- Por que sorri jovem?
- Perdoai-me, meu bom senhor, é que me lembrei de uma tia-avó que tenho cujas origens são indígenas, também. – Depois de falar, Joshua percebera a estupidez que cometera e olhou espantado para Giácomo, que respondeu com surpresa. – Podei nos dar licença! – E puxou o tio dali de dentro:
- Então é ela? – Alarmou-se Giácomo.
- Eu não disse isso, somente falei que tinha uma tia-avó...
- Pensai bem, Joshua, se eu sou o único irmão daquele que será vosso avô, então está claro que é minha esposa. E pelo sorriso que deste, com certeza ela é a minha futura companheira. – E sorriu como tivesse conquistado uma batalha de mentes.
- Do jeito que está falando, está se achando Sherlock Holmes. – Quando ia dar continuidade a conversa, Joshua viu Miguel acompanhado de Minerva. – Mas que merda...!
- Olha os modos, rapaz! – Pontuou Giácomo que acompanhou o olhar de Joshua e vira o mesmo que o seu sobrinho-neto, o casal andava de mãos dadas. – Mas o que tens demais ali?
- Nada, deixa que eu resolvo. – E deixou o tio-avô sozinho, indo na direção do primo, que verbalizou o mesmo que Joshua. – What are you doing?73
- Cumprimenta a moça pelo menos, Joshua...
- Como é que é? – Joshua se espantou, pois além do primo falar o nome verdadeiro dele, verbalizava em português. – Eu não acredito!
- Ah, qualé, somente você pode vacilar?
- Miguel, o que nós conversamos sobre isso?
- Não finjam que eu não estou aqui. – Argumentou Minerva. – Perdoai-me Joshua, mas se você pode contar para o Giácomo de onde vocês vieram, por que seu primo não pode fazer o mesmo comigo? – Joshua passou as mãos pelo cabelo, agitando-os, depois coçou o pescoço:
- Minerva, você não entende...
- O que eu não entendo? – Ela falou. – Que vocês não são deste tempo? Que vieram para cá para conhecer esta época e podem voltar a qualquer momento? – Joshua pensou: “- Ele não falou!”, e olhou pro primo, que balançou a cabeça e disse:
- Pois é.
- Ok então. – Joshua falou e abaixou a cabeça, quando a levantou, pediu:
- Minerva, posso falar com meu primo, em particular?
- Está bem, mas pode ter certeza, Joshua, ninguém mais saberá. Também não sei se acreditariam em mim... – Ela então foi numa direção, enquanto Joshua e Miguel foram noutra:
- O que você falou? – Questionou Joshua.
- Nada, sendo que ela tava desconfiada que fossemos parentes do nonno e do tio Giácomo, mas consegui ludibriá-la. Tudo que ela sabe é que somos do futuro e que ‘cê tem uma namorada noutra dimensão. – Mencionou Miguel.
- Você falou isso? – Perguntou Joshua, meio constrangido, mas preferiu não ouvir a resposta e continuou. – Miguel, você sabe que isso não vai dar certo, pois teremos de voltar em breve para o nosso tempo. Isso pode ser um grande erro...
- Mas tinha de rolar, não é? – Taxou Miguel.
- Como assim? – Indagou Joshua.
- Cara, tu não lembra da história? Nonno se aborrece com o cara que os ajudou, pois ele abandona Tia Minerva...
- E você acha isso certo? – Replicou Joshua impaciente. Miguel pareceu refletir sobre o que o primo dissera, daí bateu na própria testa fazendo um grande estrondo.
- Putz, como sou burro! Carai, sou eu que vou chatear a tia Minerva! Fudeu! – Depois pareceu que iria arrancar o pouco cabelo que tinha. – Pra piorar, to achando que to gostando dela.
- Então a coisa está bem pior do que nós esperávamos. – falou Joshua, cansadamente. – Isso não vai acabar bem. Ambos seguiram na direção de Minerva, que percebeu a aflição deles:
- O que tu falaste para ele, Joshua? – Percebendo que Minerva estava a ponto de discutir com Joshua, Miguel a puxou:
- Depois nos falamos. – Ele disse para o primo, saindo dali com a jovem.
- O que ele lhe disse? Tu estás com semblante alarmado. – Ela colocou, assim que tomaram uma boa distância.
- Não foi nada, só que ele me fez perceber que eu posso estar cometendo um tremendo erro.
- Mas não tem nada de errado nos nossos sentimentos, Miguel. – Minerva estava alarmada. – Eu sei que pode não ser para sempre, mas porque não podemos aproveitar enquanto tu estás aqui? O que há de mal? – Miguel gostava daquilo, pois nunca havia visto uma mulher tão forte como Minerva, mas sabia o que seria o resultado da relação de ambos.
- ‘Cê não tem ideia do que vai acontecer... ou melhor, do que está acontecendo. Eu tô gostando mesmo de você, Minerva, mas isso não é certo... – A cabeça de Miguel parecia embaralhada, pois conhecia a verdade do resultaria aquela relação, mas não queria desistir dela facilmente.
Enquanto Miguel e Minerva continuavam a conversa, Joshua retornou à mercearia, e lá se deparou com Giácomo sentado em uma mesa com Irani e Bianca. Achou melhor não atrapalhar, mas ouviu a voz de seu tio-avô lhe chamando:
- Jovem Josué, aproxima-te para estar a conversar com nós. – Então Joshua foi na direção deles. – E então, a donde está o teu primo Miguel e a jovem Minerva.
- Estão a conversar sobre outros assuntos dos quais não tenho conhecimento. – Disse numa voz entristecida, pois sabia que nada de bom poderia sair daquela conversa.
Miguel e Minerva se sentaram em um banco na praça central da cidade:
- O que vocês ainda está me escondendo, Miguel. – questionou Minerva. – Sei que ainda existem coisas que não quer me contar. Sabe, não sei se consigo confiar que vocês só estão ajudando Giácomo e Giancarlo... – mas antes dela continuar, apareceram Diana, acompanhada de Giancarlo:
- Você não disse que iria ver sua amiga, Minerva? – Arguiu Diana, enquanto Giancarlo se dirigiu à Miguel, perguntando-lhe:
- Che cosa è, giovane Miguel? 74
- Onestamente, Giancarlo, non è tutto ciò che può interessarvi. – Miguel encontrava-se extremamente estressado com tudo, e como sua maior raiva era a forma como seu avô havia tratado Joshua, ele descontou tudo em Giancarlo. - Si mostrano un disprezzo enorme per mia cugina ed è interessato a me. Mi scusi! 75
Miguel saiu andando, depois de trombar propositalmente em Giancarlo, quase derrubando-o. Diana ficou chateada com a atitude de Miguel:
- Ma questo è un modo di trattare una persona che si prende cura di lui?76 – Ela falou, para que Giancarlo entendesse, e teve uma resposta imediata de Minerva:
- Scusami, sorella mia, signor Giancarlo, ma Miguel è arrabbiato per qualcos'altro. Scusi.77 – e foi atrás de Miguel. Assim que o alcançou, ofegante, disse:
- Você anda bem rápido. – tentou amenizar a situação, mas percebeu a tensão no rosto. – Miguel...
- Minerva, pare de me questionar, caramba. – Ele estava irado. Sua cabeça parecia que ia explodir. Ele olhou para ela que estava assustada com a reação dele, então buscou se acalmar e em um tom mais apaziguado, disse:
– Olha, me desculpa, mas em tão pouco tempo eu nunca tive um sentimento tão bom por alguém, e o problema disso é que eu não poderia sentir isso, pois somos muito distantes, e com vidas muito diferentes. Já vi o que aconteceu com meu primo quando ele teve de deixar Aiarp e... – ela colocou um dedo sobre os lábios dele.
- Deixe-me lhe dizer uma coisa, Miguel. Eu não sei o que vai acontecer amanhã ou daqui há dez dias ou dez anos, mas eu também nunca me importei com isso. Eu sempre vivo cada dia de cada vez. Meus pais sempre me acharam estranha, pois eu costumo querer coisas e fazer coisas que outras raparigas de minha idade não estão acostumadas a fazer. Minha sorella quer se casar, ter filhos, constituir uma família, enquanto eu pretendo exercer uma profissão, deixando o casamento para segundo plano. Se amanhã eu e você não estivermos juntos, pelo menos vivemos estes momentos juntos. – Miguel estava sem palavras. A força que percebera antes em Minerva, voltara como nunca, fazendo-o esquecer de tudo. Ele queria estar longe dali, com ela, sem ninguém para atrapalhá-los, nem mesmo Joshua.
Enquanto isso, Joshua dividia mesa com seu tio-avô, e percebeu tudo que acontecia na praça, perdendo a concentração da conversa na mesa:
- Josué? – Ele ouviu e era Giácomo lhe chamando a atenção, fazendo-o perceber que estava totalmente ausente da conversa:
- O quê? – Disse, demonstrando a distração. – Me perdoem a distração, mas estava a cá a observar a praça. Teu irmão estava lá há poucos momentos atrás, Giácomo. Será que está a sua procura?
- Acho que é improvável. – Argumentou Giácomo, não prolongando o assunto. – Eu estava a cá a conversar com o Sr. Irani sobre suas origens e ele disse que tua árvore advém dos aimorés, como os portugueses os chamara quando a cá vieram para colonizar. Diz ele que parte dos costumes precisaram ser alterados, como o uso dos botoques, adornos que usavam nos lábios e nas orelhas, para não causarem sustos aos colonos que vieram para esta região. Aderiram as religiões locais, frequentando igrejas, e negociam alimentos e costumes agrícolas com aqueles que aqui chegam. Fantástico, não? – Joshua, ouvira a tudo desta vez, mas sua mente ainda mantinha-se concentrada no que estava acontecendo com seu primo e sua tia-avó. Era insensato para ele, mas sabia que não tinha como fazer alguma coisa, até o anoitecer.
Na praça, Miguel e Minerva haviam se sentado novamente, pois Giancarlo e Diana já haviam ido embora:
- Por que agiu daquela forma com Giancarlo? Pensei que vocês estavam aqui para ajudar a ele e ao irmão dele.
- Sim, tem razão, mas foi ele que começou tratando meu primo muito mal. Se fosse menos arrogante e prepotente, eu não o trataria daquele jeito.
- Quer me contar o que houve? – Disse Minerva, calmamente, percebendo o quão alterado Miguel ficara, e esperando que aquilo o fizesse se acalmar. Mesmo ainda tenso, Miguel olhou nos olhos de Minerva e reparou em algo que não havia percebido antes, eles tinham uma tonalidade acinzentada:
- Seus olhos são lindos. – Se viu pronunciando em voz alta, fazendo-a sorrir.
- Meu babbo me disse que eu tinhas enormes olhos de coruja, por isso deu-me o nome de Minerva, a deusa romana da sabedoria. – ela argumentou. – Ele sempre foi muito ligado a mitologia, gosta muito das histórias. – ela fez uma pausa. – Você está prestando atenção em alguma coisa que estou falando? – ela disse, sorrindo, e Miguel pareceu acordar de um maravilhoso sonho. – Então, você quer me dizer o que aconteceu?
Colocando a cabeça no lugar, Miguel explicou que sua atitude tinha a ver com a forma que Giancarlo havia tratado seu primo desde que eles se encontraram. Ao fim da explicação, Minerva falou:
- Então Giancarlo destratou vosso primo? – ela disse, demonstrando perplexidade. – Mas somente por que ele falar português e não italiano?
- Não é isso. – argumentou Miguel, com a voz cansada. – O pai do meu primo não é italiano, o que o torna um mestiço (acho que é essa a palavra) e, de acordo com Giácomo, o irmão dele não vai com a cara de quem não é purosangue.
-Mas isso é criar um pré conceito de uma pessoa que ele mal conhece. - comentou Minerva. - Não imaginava que o Giancarlo fosse esse tipo de pessoa. Babbo precisa saber disso.
Falando de Enéias, ele terminou cruzando o caminho de Giácomo e Joshua, encontrando-os na mercearia:
- Giovane78 Giácomo, jovem Josué. Estão a cá a conversar com Irani. - e Enéias o cumprimentou como um amigo bem antigo. - Adriano, traga um copo de grappa para mim. Então qual o proseado de vocês?
- Estava a cá a questionar Irani a respeito de terras para adquirir. - argumentou Giácomo. - Estou com a intenção de iniciar uma plantação de algo por essas redondezas.
- Café. - pontuou Enéias. - Esse tipo de plantação dá-se bem com essas terras. Eu bem que quis iniciar uma plantação, mas devido a problemas com o abrasivo sol, fico impossibilitado de poder trabalhar com esse tipo de cousas. Então produzo meu próprio artesanato. Faço pequenas estátuas de argila que vem da região litorânea, além de trabalhar com cadeiras.
- És um artista, então? - Arguiu Giácomo.
- Quem me dera fosse. Sou somente um homem que gosta de manter as mãos ocupadas com um ofício. - colocou Enéias e reparou em Joshua. - O, meu jovem, tu pareces que desmaiará em breve. Passa algo contigo?
Joshua estava aturdido. Desde que vira Enéias chegando na mercearia, uma preocupação tomou conta dele, pois sabia que bem perto dali Miguel e Minerva encontravam-se sentados na praça. Reparando na palidez do jovem, Giácomo disse:
- O rapaz Josué está assim por causa do que ocorre na praça. - Os olhos de Joshua arregalaram-se. Enéias virou-se e viu sua filha mais velha com Miguel e respirou profundamente, soltando o vento com um certo desânimo:
- É, minha corujinha sempre foi a frente no tempo. - Ele colocou. - Desde que nascera, percebi que não seria uma moçoila como as outras. Foi crescendo e demonstrando uma indiferença com determinados costumes. Contei-lhes do inglês. - Ele pontuou. - Enquanto Diana preocupa-se com os afazeres da casa, Minerva quer o mundo. Quem sabe, quando esta guerra passar não a mando para Parma. De lá, ela poderá conhecer a Europa. Quem sabe? - Naquele instante, Minerva vinha da praça determinada, pois vira o pai sentado na mesa com Irani, Bianca, Joshua e Giácomo:
- Babbo, scusi, mas preciso lhe falar sobre Giancarlo. - Ela parecia aborrecida e Joshua, que já estava de olhos arregalados, levantou-se e ficou em riste. Numa reação determinada, sem falar nada, puxou Miguel e Minerva para longe dali. Ela protestava, mas em um tom mais baixo, Joshua arguiu, em inglês:
- What do you think you're doing?79
- Babbo needs to know how Giancarlo treated him. - Respondeu Minerva, consternada. - He can't disown you, create a pre concept with your person.80 - Respirando fundo, mas ainda em um tom mais baixo, Joshua falou:
- Look, I understand your concern and thank you, Minerva, but even if you come to explain to your father about Giancarlo's prejudiced actions, it will not change him.81 - Colocou Joshua.
- But he is walking with my sorella. - Respondeu Minerva. - Babbo has always said that no matter the differences, we must treat everyone alike, because we do not know tomorrow.82 - Nesse interim, Enéias veio na direção deles:
- Meu rapaz, isso é forma de agir com uma moça? - Argumentou Enéias, com rigidez. - Mesmo que mia figlia seja uma moçoila bem independente, existem modos para tratá-la. - Aparentando aborrecido, Enéias pegou na mão de Minerva e falou com Miguel. - Perdonami, giovane Miguel, ma porterò mia figlia a casa. Non era per lei essere per strada, soprattutto perché era una ragazza di famiglia.83 - E saíram na direção de sua casa. - Joshua e Miguel ficaram surpresos com a ação imediatista do bisavô, pois sempre ouviram deu avô e tio que ele era um homem ponderado e calmo. Quando tomaram uma certa distância, Joshua se virou para Miguel para pedir desculpas, mas este logo disse:
- Carai, isso que foi raciocínio rápido. Tu falou em inglês antes mesmo de eu pensar em entender. - Joshua ficou surpreso com a atitude do primo:
- Não está aborrecido comigo? - Questionou Joshua.
- Por que estaria? - arguiu Miguel. - Só porque 'cê afastou a gente do bisa e do tio Giácomo? 'Cê fez o certo. Ia ser a maior encrenca esse lance da Minerva com o nonno. Desnecessário. - Mas depois veio um tapa na nuca de Joshua:
- Ei. Se não está aborrecido, por que me bateu? - perguntou Joshua, esfregando a parte de trás do pescoço.
- Por causa dessa sua ideia de girico de vir pra cá. A gente sabia que Min... puta que pariu... que a tia Minerva se apaixonaria pelo cara que ajudou o nonno e do tio Giácomo. Na hora que começamos a perceber que este cara era eu, deveríamos ter voltado. - Encabulado, Joshua disse:
- Eu percebi. - Miguel parecia revoltado. - 'Pera, 'pera... não havíamos como mudar isso. Lembra o que falamos a respeito dos acontecimentos?
-Lembro. Aquele lance de que se você estava lá, era porque tinha de acontecer e todo o blá, blá, blá chato que você e o Fred tiveram depois que falei do filme. - Pontuou Miguel. - Mas desde quando você sabia, exatamente?
-Descobri somente depois que você começou a falar com o nonno e tio Giácomo. - Joshua percebeu um olhar perdigueiro de Miguel para ele. - Juro por tudo que é mais sagrado em minha vida. Naquele momento eu liguei os pontos. Tentei e fiz de tudo para tentar mudar, mas já estava feito, nós estávamos participando da formação de nossa família.
-Bem, se é para ser assim, que seja. - Falou Miguel, decepcionado. Naquele momento, Giácomo veio na direção dos dois:
-Wow, vocês dois são bem... intensi. - Giácomo falou, de forma exarcebada. - Ora, eu conversei com o nativo, Irani, e ele me disse que consigo comprar terras por a cá. Ele tem contatos que falará para que eu possa comprar por um... prezzo accessibile84.
-Mas seu irmão vai concordar com isso? - Arguiu Joshua.
-Jovem Josué, nostro padre foi bem generoso para conosco. Ele... affittato suas terras e, depois de trocar per denaro em uma... cambio valuta, nos deu o suficiente para podermos dar início em nostra attività, tanto para mim quanto para mio fratello. Não faço ideia de como Giarcarlo vai usar a parte dele, mas ho vou trabalhar na lavoura85. - pontuou. Com tantas idas e vindas daquele dia, Joshua estava cansado e falou com Miguel para retornarem à pousada, pois queria descansar após aquele dia agitado. Miguel ainda pensou em retornar à casa de Enéias, para voltar a ver Minerva - seu coração tinha sido arrebatado pelo sentimento com a jovem -, mas ponderou sobre a situação e decidiu acompanhar o primo. Eles se despediram de Giácomo, que retornou para a casa de Enéias, e foram para pousada.
No dia seguinte, Miguel e Joshua foram, receosos, até a casa de Enéias. Quando chegaram lá, foram recepcionados por Ceres, que os recebeu com animação:
-Rapazes, que prazer revê-los. - ela iniciou em português, mas lembrou que Miguel – fingia - não entendia a língua nativa. - Perdonami, giovane Miguel. Buon giorno a voi.86 Bom dia para você também, jovem Josué. Tomam café? - Ambos sorriram para a bisnonna, que esbanjava a generosidade que tantos ouviram falar.
-Sou muito agradecido, minha senhora, - falou Joshua. - mas devo recusar. Viemos falar com o senhor seu esposo, ele encontra-se?
-Ah sim, ele está ao fundo da casa, a trabalhar, consertando uma cadeira do signori Ventoruzzo. Adentrem e podem ir até lá - Ela gracejou com um extenso sorriso no rosto. Joshua e Miguel passaram pela sala, onde a mesa estava posta do café da manhã, mas não tinha ninguém nela. "Ou já tomaram café ou nem acordaram ainda, o que eu duvido muito", pensou Joshua, enquanto Miguel só pensava se cruzaria o caminho com Minerva e isso o assustava, ao mesmo tempo que deixava extasiado, se tornando uma miríade de sentimentos internos. Percebendo a aflição do primo, pois haviam conversado mais, na pousada, a respeito da situação de Miguel e Minerva, em um tom sussurrado, Joshua falou:
-Vai dar tudo certo, Miguel. Não fique aflito antes do tempo. - Antes que Miguel pudesse responder, eles chegaram à oficina de Enéias e o viram sentado em um banco, trabalhando no tracejado de uma cadeira de palhinha. Percebendo a chegada dos dois jovens, Enéias virou-se para eles e levantou-se, mas antes que Joshua pudesse falar qualquer coisa, ele disse:
-Rapaz Josué, peço-lhe mil desculpas pela minha atitude com vosmecê ontem. Quando vi a forma que puxaste minha ragazza, perdi o brio e me enervei em demasia contigo. Minerva me explicou a situação, dessa forma lhe peço desculpa. - Ao ouvir a justificativa do bisavô, Miguel tentou controlar-se – pois ainda estava fingindo que não entendia nada –, enquanto Joshua questionou:
-Mas qual justificativa ela disse ao senhor? - Enéias olhou para Miguel e falou:
-Seria tão mais fácil uma conversa se ambos soubessem italiano ou português. - então continuou. - Bene, ela me falou sobre a forma como giovane Giancarlo lhe destratou, somente porque é um nativo dessa terra, um miscigenado de duas culturas distintas. Sinceramente, eu já percebera a atitude do rapaz, mas também percebi que mia figlia maggiore se apessoou com ele. Entenda, eu tenho due figlie e preciso casá-las com rapazes que elas venham a gostar. Não posso empurrá-las em casamentos que não lhes trarão a felicidade, pois tenho enorme apreço pelo que faz bem a ambas. Capisce? - Miguel demonstrava uma imparcialidade, como se não entendesse uma palavra do que fora falado. Mas quando seu bisavô falou sobre a felicidade de suas filhas, algo o corroeu por dentro como ácido, pois já pensava na tristeza que ficaria Minerva, após sua partida. Como estava prestando atenção no que seu bisavô falava, Joshua terminou não reparando no abatimento de seu primo. Compactuando com o que Enéias falou, Joshua balançou a cabeça, cumprimentou o bisavô e olhou para Miguel, reparando no semblante do primo. Este ergueu o braço, de forma automática e cumprimentou Enéias. Ao passarem pela sala, viram que já havia sido retirada por Ceres. Ela veio se despedir deles:
- Meus jovens, depois venham almoçar conosco. Farei um spaghetti alla putanesca. - E dirigiu-se a Miguel. - Sarà um piacere avervi per il pranzo.87 - De forma automática, Miguel assentiu.
Quando haviam tomado uma certa distância da casa, chegando perto da praça, Miguel sentou e fala de forma consternada e irada:
- Mas que merda que eu fiz? - Levantou a cabeça e olhou para Joshua. - Por que você me colocou nessa porra de roubada, Joshua? Eu vou destruir nossa tia. Eu vou ser o culpado dela se tornar uma solteirona...
- Ei, calma. - Disse Joshua tentando apaziguar a ira do primo. - Nunca falei que tia Minerva tornou-se uma solteirona.
- Mas nonno falava isso. Que tia Minerva era uma solteirona que não queria amar ninguém. Que tudo era culpa do italiano que a largou sozinha. Esse sou eu... - Miguel segurava os cabelos, parecendo que ia arrancá-los com as mãos.
- Peraí. - Retrucou Joshua. - Eu posso não ter conhecido tia Minerva tão bem quanto você, mas eu sei que nonna me contou. Ela gostava de viajar. Chegou a ir à Europa, estudou em uma faculdade na Itália, morou na França, visitou a Grécia, o Egito, a Alemanha Ocidental – na época - e conheceu Austrália. Ela viveu a vida dela, mesmo que tivesse amado somente um homem, o scomparso88, como nonna o chamava. Acho que significa desaparecido
Ao ouvir as palavras de Joshua, Miguel melhorara o semblante. Ele tinha ouvido essa mesma história da avó, sobre o scomparso que fora o único amor da tia Minerva. Ela amara somente a ele e mais ninguém:
- Por que não me contou isso antes? - Perguntou Miguel, com uma entonação mais animada.
- Porque pensei que você lembra-se. - Respondeu Joshua, Naquele momento surgiu Giácomo, acompanhado de Irani e Bianca.
- Rapaz Josué e rapaz Miguel, como passaram à noite? - cumprimentou Giácomo.
-Tudo ótimo, Giácomo. Passamos na casa do Sr. Enéias, mas não o encontramos lá, nem você e nem seu irmão. - argumentou Joshua.
-Ah sim, eu despertei com os galos. Vim até a cantina para encontrar Irani e Bianca e fomos até o senhor que mi venderà as terras. - Chegou mais perto de Joshua, e falou-lhe ao pé do ouvido. - Posso trocar um dedo de prosa com vosmecê? - Depois dirigiu-se a Irani, Bianca e Miguel. - Com as vossas licenças, vou trocar um teco de palavras com meu amigo Josué. - E retiraram-se para o outro canto da praça:
- Rapaz Joshua, estou a me entusiasmar pela bela Bianca. - Giácomo falou aos cochichos. - Mas preocupa-me mio fratello. Ele nunca aceitaria uma sorella nativa dessa terra.
- E o que importa o que seu irmão aceita ou não, Giácomo. - argumentou Joshua, decidido. - Você já encarou uma relação com uma portuguesa no passado e ele demonstrou ser contra, também. Isso te impediu de gostar dela? De conviver com ela? Quem faz sua vida é você e não seu irmão.
- Tens razão em tuas palavras, mas tenho somente a ele a cá, nessas terras estrangeiras. Se ele ficar contra mim, quem eu teria como famiglia? - Pontuou Joshua.
- Você formará sua própria família, Giácomo. O importante é ser feliz e decidido com suas convicções. O resto se arranja com o tempo. - Finalizou Joshua. Giácomo assentiu com a cabeça e sorriu, então ambos voltaram para junto dos outros, que estavam em silêncio, pois Miguel não sabia se podia falar português:
- Oras, por que mantem-se mudo, rapaz Miguel. - Miguel olhou para Joshua, como se precisasse de autorização para soltar a voz e este deu com os ombros e sorriu. - Tens liberdade para falar, Rapaz Miguel, estamos entre amigos.
- Carai, assim fica difícil. - Viu o olhar repreendedor de Giácomo. - Tá, foi mal, saiu. O fod... Ah... o difícil é saber como falar e quando falar. Tá complicado. - Joshua deu uma risada, tímida. - Tá bom, pode rir, palhação. Aqui, 'cê viu Minerva?
- Ah sim. - Recordou Giácomo. - Ela e Diana foram à casa de uma vizinha para tricotarem.
- Ah tá. - Respondeu Miguel. - E suo fratello?
- Giancarlo ficou sabendo pelo Sr. Eneias que um senhor está querendo vender sua mercearia. É um italiano que decidiu ir embora para o sul e quer vender o negócio. - Explicou Giácomo.
- Bacana. Bem, vou nessa. Até mais pra vocês. - Foi na direção de Irani e Bianca, estendendo a mão para cumprimentá-los. - Foi um prazersão conhecê-los, principalmente você, tia. - Joshua deu um tapa na própria testa, mas Bianca ficou sem entender nada. Quando ele já encontrava-se a certa distância, Irani disse:
- Jeito diferente desse seu primo falar, não? - Joshua teve de raciocinar rápido, mesmo que fosse impossível pensar em algo que justificasse a atitude de Miguel:
- Ele não é daqui. Veio do sul para visitar-nos. Lá as pessoas têm trejeitos diferentes com as palavras. - O raciocínio imediato de Joshua impressionou Giácomo, que balançou a cabeça afirmativamente.
Nesse interim, Miguel tentou imaginar onde estaria Minerva, foi quando sentiu um par de mãos mornas e delicadas buscando tapar seus olhos em uma tentativa quase impossível. Ele segurou ambas mãos pequenas e virou-se, dando de frente com o lindo sorriso de Minerva e seus olhos griséu. Por pouco não a beijou de imediato e falou em português, mas percebeu a presença de Diana:
- Ciao, signore, come stai stamattina?89 - Minerva sorriu e falou com Miguel, em inglês:
- I missed you. Dreamed of me?90 - Diana percebeu que a irmã pretendia excluí-la da conversa e que fora bem íntimo o que falara para Miguel, pois seu rosto enrubescera:
- Ragazzo, Miguel, sai dove posso trovare il giovane Giancarlo?91 - Minerva olhou com espanto para a irmã:
- Não, Diana. Eu lhe contei que tipo de homem é esse italiano – Ao ouvir aquilo, Miguel precisou conter-se. - Ele destrata pessoas somente por elas não serem italianos como ele. Você não deveria... - Antes de concluir o que falava, Diana a interrompeu:
- Mia sorella, eu entendo sua apreensão, mas quem é a sorella maggiore dessa relação? - Ela falou, com um sorriso luminoso. - Eu vou tratar de ter uma conversa com Giarcarlo a respeito dessas atitudes dele, pode deixar. - E deu uma piscadela para a irmã. - Agora aproveite bem o seu bellissimo ragazzo italiano. - E saiu, deixando Minerva e Miguel com os rostos roseados e esquentados. Sentaram-se na praça, de mãos dadas, e começaram a conversar:
- Como você consegue se controlar entendendo tudo que nós falamos?
- Eu estudo Educação Física, então entendo bastante sobre perseverança e atitude. - Ele sorriu. - Aqui, o que 'cê contou pra sua irmã?
- A verdade.
- Qual verdade?
- Que ele destratou vosso primo de forma pré conceitual, somente por ele não ser un discedente legittima d'italiano.
- Mas o Joshua pediu...
- O Joshua pode pedir o que bem desejar, mas não posso suportar uma pessoa ser destratada somente por causa de suas origens. Não foi assim que meu pai nos ensinou. Hoje... - antes de Minerva continuar, Miguel deu-lhe um beijo ardente, que somente não viu quem não olhava para a praça da cidade. Ela correspondeu ao beijo com o mesmo ardor e ambos ficaram naquele momento durante um tempo considerável, que parecia ter feito o tempo parar, novamente.
Observando a praça, próximos a cantina, estavam Joshua, Giácomo, Irani e Bianca. Joshua parecia apático a situação, forçando Giácomo a questioná-lo:
- Meu caro rapaz, está a ficar com essa cara de ver o bonde passar. Nada vai dizer sobre o ato de vosso primo, em praça pública?
- Dizer o quê, Giácomo? - Arguiu Joshua. - Antes de encontrá-lo, Miguel tomou ciência de um fato que ele não lembrava e, sinceramente, já cheguei ao ponto de perceber que tudo, todas as nossas ações nesse período do tempo são factuais, ou seja, o que tiver de ser, será. - A atitude imparcial de Joshua assustou e espantou Giácomo. Enquanto isso, na praça, o beijo do casal terminara:
- Preciso lhe confessar uma coisa. - Falou Miguel. - O sentimento que sinto por você, eu nunca tive por nenhuma outra pessoa. Tô besta comigo mesmo, pois não tô acostumado com isso.
- Eu também aprecio muito tua presença, Miguel. Gosto deveras de ti, mas o que eu quero saber é o que esconde tanto? O que lhe aflige por dentro? - Miguel relembrou o que Joshua lhe contara sobre Minerva e então pensou, "foda-se":
- Seguinte, vou te contar tudo. Mas saca só, as coisas que vou te falar agora poderão ser absurdas e fora do comum, então mantem a cachola fresca.
- Quando você começa a utilizar essas gírias da tua época, fico perdida. - Disse Minerva. - Mas prometo que minha atenção estará voltada para ti e somente para ti. - Então Miguel começo do principio, contando o que já havia contado, mas colocando as partes que deixara de fora. A história perdurou até o fim do dia. Giácomo e Joshua, que estavam na cantina, conversando com Irani e aprendendo alguns costumes dos nativos da região, se despediram do indígena e foram na direção do casal. Vindo de uma direção diferente, estavam Diana e Giancarlo, que aparentava contrariado. Quando pararam perto de Miguel e Minerva, que pareciam ter terminado a conversa, Giancarlo, a contragosto, dirigiu-se a Joshua:
- Ragazzo, Josué, mi piacerebbe scusarmi per il modo in cui ti ho trattato.92 - Joshua olhava para a cara de Giancarlo, espantado. Poucos, como Miguel, conhecem como Joshua é. Como ele vinha convivendo esses dois dias, ouvindo direto as pessoas falarem a sua volta em italiano, ele começava a assimilar as palavras e compreender o que falavam, ou seja, ele entendeu uma parte do pedido de desculpas de Giancarlo, mas não podia perder a oportunidade e fazer uma cara de que não entendeu nada, forçando Miguel a falar-lhe, em inglês:
- You understand everything he said and you're doing that poker face on purpose, is not it?93
- Poker face?94 - questionou Minerva. 
- Who didn't understand anything.95 - E Minerva soltou uma risadinha, consternando Giancarlo:
- Guarda, tua sorella sta ridendo di me.96 - Aborrecido, parecia que ia partir, quando veio a resposta de Joshua, entre gaguejos:
- Io ... accetto ... le tue scuse.97 - E fez o semblante que Miguel mais odiava nele, que era de sua superioridade intelectual. Todos estavam abismados e perplexos com aquilo, boquiabertos e espantados de como Joshua articulara em italiano:
- Apesar de gaguejar, saiu-se molto bene, jovem Josué. - elogiou Giácomo.
- De onde veio isso? - Questionou Minerva e, sabendo que Miguel não poderia responder, Joshua articulou:
- Sempre tive facilidade com idiomas, desde que as ouça constantemente e possa assimila-las, me saio razoavelmente bem. - Se dirigindo para Miguel, Minerva questionou:
- What did he mean with this?98 - No que Miguel respondeu, com um sorriso malicioso:
- That he has a fucking brain in that little head.99 - Sem palavras e contrariado, Giancarlo baixou a cabeça e disse, somente:
- Scusa. - E retirou-se, seguido por Diana que, antes de sair, de um sorriso simpático para Joshua. Após eles criarem uma certa distância, todos bateram no ombro de Joshua e o cumprimentaram:
- Meu caro ragazzo, - disse Giácomo, sorridente. – nunca vi mio sorello ficar tão... stupito100. Então tens facilidades com idiomas?
- Bem, - Joshua começou a explicar-se. – o que eu faço é guardar as palavras em minha memória, criando um tipo de dicionário. Na medida que vou ouvindo-as, novamente, busco assimilá-las e tento arranhar uma fala. Foi assim que aprendi a falar ao contrário em Aiarp.
- Tu falas da primeira aventura que tiveram com o tal Interportal? – Questionou Minerva. Joshua olhou para Miguel e deu um sorriso solidário.
- Pelo jeito Miguel já lhe contou tudo, mesmo! – Joshua argumentou, sorrindo. – Mas deve ter sido a versão orelha de livro da história.
- Sim, ele me contou tudo, great-nephew.101 – Minerva falou, sorrindo de volta. Giácomo não entendera o que acontecia, mas o clima parecia mais leve e descontraído, então pontuou:
- Acho que devemos retirar-nos, pois a sua madre deve estar aspettarci. Andiamo a cena, giovani uomini e donne.102 - Enquanto Joshua e Giácomo saíam ombro a ombro, logo atrás vinham Miguel e Minerva, de mãos dadas.
Após o almoço e uma sesta, Eneias voltou para a oficina, Giancarlo decidiu sair para conversar com o dono da mercearia, novamente e, enquanto Minerva e Diana ajudavam sua mãe na limpeza das louças, Giácomo, Joshua e Miguel foram para cantina, onde sentaram para conversar:
- Então vossa inteligência é prodigiosa dessa forma? Uma memória fotográfica. – Argumentou Giácomo:
- Pois é, Giácomo. Tem alguém na família que seja CDF assim? – Questionou Miguel.
- Non capisco o que quer dizer, Miguel, ma non ricordo de ninguém de nossa famiglia com uma mente tão prodigiosa. Talvez venha de suas origens paternas, il giovane Joshua.103 – Respondeu Giácomo.
- Não sei de onde veio, sinceramente. – Colocou Joshua. – Nunca questionei minha mãe e meu pai quanto a isso. Mas você sempre dizia que eu poderia ter puxado o lado da nonna, Giácomo, por causa de Minerva... Falando nisso. – dirigiu-se a Miguel. – Você contou tudo para ela não foi?
- A versão resumida, mas sim. – Respondeu Miguel. – Contei tudo.
- Impressiona-me que tu compartilhaste com Minerva todo vosso conhecimento do futuro, il giovane Miguel, - argumentou Giácomo. – mas vós não compartilhais comigo.
- Giácomo, - disse Joshua. – não compartilhamos contigo, pois, ao contrário de Minerva, com quem temos quase contato nenhum. Eu nunca conheci Minerva antes desses dias que estamos aqui. E você, Miguel?
- Também não a conhecia pessoalmente. – Miguel respondeu. -  Nonna sempre falava dela, mas nunca a tinha visto, somente em fotos, como do casamento de nonna e nonno. Ou nos casamentos de meus pais e tios.
- Sim. – Lembrou Joshua. – Nas fotos do casamento de meus pais, ela também estava. Perguntei para minha mãe quem ela era e ela disse que era uma tia que estava representando a nonna. Na época nem liguei para isso. – Se voltou para Giácomo. – Entende, Giácomo, você era mais do que uma pessoa nas fotos, diferente de Minerva.
- Então eu era somente uma presença nas fotos? – Joshua quase engasga ao ouvir a voz de Minerva. Na presença da moça, todos levantaram de súbito:
- Tia... Minerva, – gaguejou Joshua. – a quanto tempo está nos ouvindo?
- Não o suficiente, pelo que vejo. – Respondeu Minerva. – Bem, rapazes, só vim até a cá, pois desejo prosear com o jovem Miguel, se nos permitirem. – Giácomo e Joshua deram um sorriso concedente. Miguel saiu com Minerva e foram sentar na praça, para conversar mais.
Os dias seguintes, se passaram de uma forma serena e cotidiana. Miguel e Minerva passavam o tempo que tinham livres, juntos, pois ele acordava cedo, com Joshua, para ajudar Giácomo em suas terras recém adquiridas e, às vezes, auxiliava Giancarlo na mercearia, já que tinham se entendido após o pedido de desculpas. Mesmo que desse pouca atenção a Joshua, Giancarlo não deixava de cumprimenta-lo, e Joshua o respondia, com muito prazer, em italiano. Giácomo se aproximara de Bianca, com o consentimento de Irani, e a cortejava com presentes e visitando-a em sua aldeia.
Passaram-se três meses e Giancarlo preparou um almoço, em sua casa, sobre a mercearia – ele e Giácomo haviam se mudado para lá – convidando a todos, até mesmo Joshua. Mas, para sua surpresa, seu irmão chamara Irani e Bianca. Chamando-o ao quarto, Giancarlo falou ao irmão:
- Tú não podes portare questo nativo para a cá. – Disse, de forma autoritária, ao seu irmão. – É um pranzo per gli italiani, gli indiani não saberão se comportar.104
Giancarlo aprendera um pouco de português com Minerva, que era uma professora paciente e dedicada:
- Como sempre ocorre contigo, fratello mio, - ponderou Giácomo. – Julgas as pessoas sem, ao menos, conoscerle. Irani e Bianca i miei ospiti. Se não os quiser a cá, não terá mia presenza, capisci. Quer isso na sua festa di matrimonio?105 – Mesmo aborrecidos, Giancarlo e Giácomo retornaram para seus convidados. Giancarlo fingiu que a presença de Irani e Bianca não existiam, mas isso não fazia diferença, pois os outros fizeram a presença deles serem bem-vindas.
Após terem comido generosamente, pois Giancarlo não poupara esforços para que o almoço fosse maravilhoso – mesmo que quem tivesse feito a comida tivesse sido Ceres, Minerva e Diana, ele que dera todos os produtos que vieram de sua mercearia – ele convidou a todos para prestarem atenção nele:
- Perdomani se todas as palavras não saírem in portoghese. Minerva tem sido un'insegnante eccellente, ma tem sido difficile parlare algumas palavras. Convidei a todos a cá, perché queria pedir a signor Eneias, levando em conta – olhou para Giácomo – delle tradizioni que temos come pilastro della nostra società, a mão de sua figlia Diana in matrimonio.106 – Todos, com exceção de Giácomo, sorriram e olharam para Enéias esperando sua resposta. Enéias levantou e ficou diante de Giancarlo, olhando direto nos olhos:
- Meu rapaz, - começou Enéias. – sempre sonhei em miei figlias conhecerem homens dedicados, trabalhadores, que lhe dessem uma vida segura e de boa providência. Vejo isso em ti, jovem Giancarlo. És dedicado aos seus afazeres, ao seu negócio, mantendo uma vida saudável, sem vícios. Percebi, em ti, algumas mudanças relevantes e, por isso, fico contente em conceder-lhe a mão de mia figlia Diana em casamento. – O aplauso foi uníssono, até mesmo Giácomo, que parecia aborrecido, aplaudiu a decisão:
- Sendo assim, - Giarcarlo dirigiu-se a Diana, ajoelhando diante dela, - io ti sposo, Diana. – e colocou em seu dedo uma bela aliança que encomendara. Percebendo que Giácomo estava mais distante, Joshua foi até ele:
- Parece aborrecido, Giácomo? – Questionou Joshua.
- Aborrecimentos típicos com mio fratello, giovane Joshua. – Respondeu Giácomo, com um sorriso sem sentido. – Nada com que precise se preocupar em demasia. E aí? – Questionou, mudando de assunto. – Já se passaram três meses e ainda a cá se encontram. Quando pretendem partir?
- Pois é. – Argumentou Joshua, olhando na direção de Miguel, que sorria, abraçado a Minerva. – Não tardará para partirmos. Minha preocupação é com Miguel. Acredito que terei de conversar com Minerva sobre isso e não com ele, mas fico temeroso dele se aborrecer, sendo assim, creio que terei de conversar com ambos. Vai ser difícil, mas precisa ser feito. – Giácomo olhou para o casal, que parecia totalmente distraído de tudo e plenamente felizes e abanou a cabeça, em concordância com o que Joshua falara.
Depois do festim, saíram em comitiva em direção a residência de Eneias:
- Me perdoem, por favor. – Joshua interrompeu a caminhada quando chegaram à praça. – Preciso ter uma prosa com meu primo e vossa filha, se me permitirem. – Eneias olhou firmemente para Joshua e depois direcionou o olhar para o casal, e com um abano de cabeça, concordou com o pedido do jovem. Após eles se afastarem, Joshua convidou-os para sentar, sabendo que não precisava mais fazer uso de outros idiomas, prosseguiu:
- Acredito que sabem o meu motivo dessa parada repentina.
- Eu não vou. – Sentenciou Miguel.
- Não é uma decisão somente sua, Miguel. – Argumentou Joshua. – Eu não posso voltar sem você para a nossa época. Sem contar que sabemos bem que você voltará comigo.
- Eu não posso voltar, Joshua. – Retrucou Miguel, com uma voz amargurada. – Não posso fazer isso com Minerva... – antes que pudesse continuar, Minerva o interrompeu:
- Miguel, amore mio, ti amo davvero,107 mas, por tudo que me contaste, eu seguirei minha vida de forma que sua presença estará sempre comigo. Você é parte de mim e eu sou parte de ti, e sempre seremos. – Ela deu um sorriso. – Chega a ser estranho, pois eu me apaixonei pelo meu sobrinho-neto e ele por mim. Definitivamente, o amor não tem fronteiras e pode transcender o tempo. Mio padre, uma vez me falou de um poeta, Virgílio. Já ouviu falar, Joshua. – Ele consentiu com a cabeça. – Então, existe um poema dele que, em determinada parte fala o seguinte, “l'amore vince tutto, l'amore tutto supporta”108, então sempre teremos um ao outro, mesmo que a distância – sendo essa o tempo – seja longa. Em que anos vocês estão no seu tempo?
- Em 1993. – Respondeu Joshua, pois Miguel parecia arrebentado por dentro, sem falar nada.
- Façamos o seguinte. Como disseste – Ela tocou o rosto de Miguel com um carinho enorme – eu viverei minha vida em plenitude. Viajarei, conhecerei outros mundos, outras pessoas. Terei minha vida toda para pensar sobre nós, sobre nosso amor e, quem sabe, nos reencontraremos. Usando de tua forma de pensar, creio que serei uma sessentona e tanto – não seria assim que tu falaria? – E o beijou nos lábios. Uma lágrima correu do olho de Miguel, e ele retribuiu ao beijo, com uma ardência de paixão avassaladora:
- Amanhã falaremos mais disso. – Argumentou Miguel, com um tom de tristeza.
- Não. – Pontuou Minerva. – Amanhã, bem cedo, partirão. – Ela olhou para Joshua. – Vocês devem ir. Não quero despedidas. Quero guardar tudo que vivemos aqui, na memória. Compreendeu, Joshua? – Ele abanou a cabeça, em concordância, com um olhar triste. E se dirigiu a Miguel:
- Miguel, eu sei pelo que está passando. – Miguel olhou com um semblante de ira, mas foi breve, pois lembrou pelo que Joshua passara em Aiarp. – Simplesmente não tínhamos como saber o que aconteceria. – Se voltou para Minerva. – Amanhã partiremos cedo. Vamos para a pensão, Miguel! – Minerva, com uma lágrima correndo pelo rosto, deu um último beijo na face de Miguel, levantou-se e foi para casa. O primo de Joshua não parecia que conseguiria levantar-se dali. Ficou cabisbaixo durante momentos a fio. Vendo-os na praça, Giácomo, que havia levado Irani e Bianca até a aldeia deles após o festim, foi em sua direção:
- Mais o que se passa com giovane Miguel? Parece extremamente abalado.
- Iremos embora amanhã, Giácomo. – Respondeu Joshua. – Iremos no raiar do dia, a pedido de Minerva. Ela não deseja despedidas.
- Então partiriam sem se despedir d’eu, pelo que aparenta. – Mencionou Giácomo.
- Me perdoe por isso, Giácomo, mas eu pensei em deixar Miguel na pousada e depois iria falar contigo, me despedir e explicar que estaríamos de partida. – Respondeu Joshua.
- Compreendo. – Disse Giácomo. – Bene, giovane Joshua. Nunca aceitarei que me chame de nonno, mas sempre o aceitarei como se fosse meu nipote. – E lhe deu um abraço caloroso. – Cuide de ti mesmo e de teu cugino. Addio, ragazzo mio.109 – E, com um sorriso e os olhos marejados, Joshua respondeu:
- Addio, mio amato zio.110 – E viu Giácomo ir na direção da mercearia. Foi até Miguel e ajudou-o a levantar-se. – Vamos nessa, Miguel. Vamos para casa. – E, ao invés de irem para a pousada, procuraram uma carroça que pudessem leva-los até a estação mais próxima e, de lá, pegaram o primeiro trem para a capital. Chegaram bem tarde da noite e, sabendo que a caminhada era longa, mas que não tinham nada a perder, começaram a andar na direção do canal que os levaria até o clube de golfe, novamente. No caminho para o clube, nada foi falado ou conversado. Em determinado momento, pois os calçados não eram próprios para caminhada, tiraram os sapatos e as meias e sentiram o chão frio de pedras. A Longa andança cansou Joshua, mas o preparo físico de Miguel o deixou bem.
Miguel estava taciturno, diferente. Joshua chegou a fazer alguns comentários na intenção de puxar um assunto, mas Miguel somente sabia responder monossilabicamente. No canal, quando chegaram, já era madrugada, e não viram nenhum sinal de pessoas. Pegaram uma pequena jangada que estava enlaçada e, então Miguel começou a remar, na direção do mangue que ficava atrás do clube. Ao desembarcarem, tentaram caminhar em silêncio, para não despertar os vigias do clube. À distância, viram um brilho fantasmagórico no local que deveriam ter chegado e foram até ele, ouvindo alguém chamando à distância. Ignoraram o chamado e, ao chegarem no brilho, o tocaram e sentiram um puxão no centro do corpo e, quando virão, estavam vomitando na sala do Interportal:
- E então, como foi? – Questionou Fred assim que os viu. Miguel o olhou de uma forma que parecia odiá-lo. Se dirigiu para Joshua e falou:
- Vou trocar de roupa. – E saiu na direção de onde tinha deixado seus trajes, antes de partir, há três meses atrás. Assim que ele saiu, Fred dirigiu-se unicamente à seu aluno:
- O que aconteceu com ele?
- O que eu sabia que aconteceria, infelizmente. – Respondeu Joshua. – Ele apaixonou-se pela nossa tia Minerva.
- Como você sabia que isso ia acontecer, Joshua? – Perguntou Fred, com espanto.
- Antes de partirmos, contei ao meu tio-avô sobre nossa aventura em Aiarp e ele não perguntou nada e nem ficou assustado, somente dizendo, “então já aconteceu”. Eu fiquei abismado com aquilo e então ele me contou sobre nossa passagem pelo tempo em que ele e nonno Giancarlo haviam chegado ao Brasil, foram ajudados por nós e do amor arrebatador entre Miguel e tia Minerva.
Sério, professor, tentei evitar tudo, mas era como imaginávamos. O tempo não pode ser mudado. Tudo o que tinha que acontecer, aconteceu.
- Quando me contou sobre essa viagem e o que poderia ocorrer, eu já suspeitava dessa influência no tempo. Não há como modificar o que já existe, somente deixar acontecer. – Refletiu Fred. Nesse momento, Miguel saiu do quarto, segurando as roupas que tinha chegado até ali e entregou a Joshua:
- Queime-as. – Pontuou. – Tô indo nessa. Tem problema?
- Não Miguel. – Disse Joshua. – Vai nessa. Nos falamos depois. – E Miguel saiu dali com o dia já raiando. Joshua olhou para seu professor e falou que ia se mudar e dirigiu-se ao escritório, onde havia deixado suas roupas.
No dia seguinte, Miguel acordou tarde e perdeu a hora da universidade. Sua mãe falou com ele que havia ouvido um choro de seu quarto e ele respondeu que não era nada, que estava tudo bem. Tomou café e saiu para correr. Quando chegou da corrida viu um carro vermelho escuro parado na frente de sua casa. Assim que entrava, ouviu um burburinho na sala, era a voz de sua mãe, que parecia animada, e de outra pessoa, que ele não reconheceu:
- Miguel, é você? – Perguntou sua mãe. Ele então foi na direção da voz dela e se deparou com uma senhora sentada na sala. Os cabelos dessa senhora eram uma mistura de preto com prateado. Batiam nos ombros. Seu semblante era de uma pessoa que envelhecera bem, com poucas rugas, mas bem bronzeada. Miguel, apesar da idade na aparência daquela mulher, a reconheceu:
- Miguel, essa é minha zia Minerva. – Disse sua mãe, animada. – Eu falei dela com você. É professora de idiomas e ajudou babbo a aprender português. Viajou – e ainda viaja – pelo mundo e montou uma escola de idiomas aqui, ensinando inglês e italiano, além de ajudar italianos a aprender português. – Minerva foi em direção à Miguel e disse:
- Ciao, bel ragazzo italiano.101 – Aquilo fez com que Miguel arregalasse os olhos de espanto. Ele ficou sem ação, até que sua mãe disse, toda feliz:
- Nossa, eu tinha até esquecido disso. – Se virou para Miguel. - Logo que você nasceu, zia Minerva foi-nos visitar na maternidade e disse exatamente isso. Que bom que está aqui, zia. Quanto tempo pretende ficar?
- Não muito. – Ela disse. Se virou para Miguel. – Miguel? Aprendeste o italiano devidamente? – Novamente ele ficara boquiaberto e sem reposta, deixando sua mãe falar por ele:
- Ah sim, zia. Babbo ensinou a ele, muito a contragosto. Queria somente ensinar o filho de meu irmão, mas Miguel conseguiu convencê-lo. – Minerva sorria, mas não tirava o olho de Miguel:
- Cassandra, minha querida. – Disse Minerva à mãe de Miguel. – Poderia me trazer uma xicara de café e alguma coisa para comer. Odeio comida de avião e não comi nada até o momento.
- Lógico, zia. – Respondeu a mãe de Miguel. – Meu querido, faça sala para zia Minerva, por favor. – Miguel somente balançou a cabeça, olhando para Minerva. Eles se sentaram na mesma poltrona, e Minerva falou:
- I missed you. Dreamed of me?102 – Miguel agiu sem pensar e abraçou a Minerva.
- Sim. – falou-lhe ao pé do ouvido. – Senti sua falta e sonhei com você. – Ao sair do abraço, olhou na direção da cozinha e, aos cochichos disse. – Como sabia quando tínhamos voltado? ‘Cê tem uma bola de cristal ou algo assim? – Minerva sorriu.
- Não. – Terminou dizendo. – Há uns dias atrás entrei em contato com a universidade que você e Joshua estudam e falei com o professor de Joshua, Fred – achou eu –, e pedi que me informasse quando vocês retornassem da viagem que estavam fazendo. Falei que era tia de ambos e ele prometeu que me diria quando chegariam. Ontem, de madrugada, recebi uma mensagem eletrônica desse professor, dizendo que vocês haviam chegado. Então me preparei e vim visita-lo. Faz tanto tempo, il mio bel ragazzo italiano.103
- Isso é loucura. – Colocou Miguel, se levantando e indo na direção contrária à dela. – Eu queria poder beija-la, mas não seria certo, não agora. – Minerva se levantou e foi na direção dele.
- Sim, eu sei. – Tocou-o no ombro. – Não seria adequado fazermos isso, mesmo que desejemos. Naquela época, naquele pequeno vilarejo, ainda não éramos tia e sobrinho, mas agora. Como eu prometera, vivi uma vida maravilhosa, Miguel, e nunca o esqueci. Nunca deixei de ama-lo, nenhum momento. Preferi não me casar, mas vivenciei muitas coisas. Minha vida foi plena e maravilhosa, da melhor forma que pude vive-la. Você é jovem, e lindo. Fiquei sabendo de suas aventuras com as amigas de uma de suas primas e, a cada uma dessas suas vivências, senti uma pontada de ciúmes, mas tinha ciência que era uma outra vida, sua primeira vida. Agora você retornou e, com certeza, és uma outra pessoa. Essa eu chamo de sua segunda vida, uma vida com uma nova experiência, uma nova vivência. Não se negue a nada, Miguel. Apaixone-se, ame – se for possível –, pois tu és um lindo homem, tanto por fora, quanto por dentro, e merece a felicidade que a vida lhe trará. Amore mio, ti amo davvero. – E tomou o rosto de Miguel entre as mãos, baixando-o sua testa a altura de seus lábios e, carinhosamente, o beijou. Ele sentiu uma gota pingar em sua testa e sabia que Minerva chorava, pois ele também estava com lágrimas nos olhos. Quando olhou novamente nos olhos dela, Minerva enxugava as lágrimas. – Faça-me um favor, diga a sua mãe que não poderei aguardar. – Mas, antes que ela pudesse sair, Miguel segurou delicadamente em sua mão:
- Por favor, não vá. – Ele falou. – Eu não vivi uma vida com você, mas gostaria de conhecer essa vida que você viveu. – Minerva sorriu e, de mãos dadas com Miguel, seguiram para tomar café com a mãe de Miguel.

Traduções (via Google Tradutor):


73 – O que está fazendo?

74 – O que houve, jovem Miguel?
75 - Sinceramente, Giancarlo, não é nada que possa lhe interessar. [...] Você demonstra um tremendo desprezo pelo meu primo e está interessado em mim. Com licença!
76 - Mas isso é forma de se tratar uma pessoa que se preocupa com ele?
77 - Com licença minha irmã, senhor Giancarlo, mas o Miguel está chateado com outra coisa. Desculpe.
78 – Jovem (...)
79 – O que vocês pensam que estão fazendo?
80 – Babbo precisa saber como Giancarlo o tratou. (...) - Ele não pode destratá-lo, criando um pré conceito com sua pessoa.
81 – Olha, eu entendo sua preocupação e agradeço, Minerva, mas mesmo que você explique ao seu pai as ações preconceituosas de Giancarlo, ele não mudará.
82 – Mas ele está andando com minha irmã. (...) - Babbo sempre disse que, não importa as diferenças, devemos tratar todos iguais, pois não conhecemos o amanhã.
83 – Perdoe-me, jovem Miguel, mas vou levar minha filha para casa. Não era para ela estar na rua, principalmente por ser uma moça de família.
84 – Nossa (...) intensos (...) Agora (...) preço acessível.
85 – (...) nosso pai (...) arrendado (...) por dinheiro (...) Casa de câmbio (...) nossa atividade (...) meu irmão (...) eu (...).
86 - Perdoe-me, jovem Miguel. Bom dia para você.
87 - Será um prazer tê-lo para o almoço.
88 - desaparecido
89 - Olá senhoritas. Como estão nesta manhã?
90 – Senti saudades de você. Sonhou comigo?
91 – Rapaz Miguel, você sabe onde eu poderia encontrar o jovem Giancarlo?
92 – Rapaz Josué, eu gostaria de pedir desculpas pela forma com tratei você.
93 - Você entendeu tudo que ele disse e está fazendo essa cara de paisagem de propósito, não é?
94 – Cara de paisagem?
95 – Que não entendeu nada.
96 – Olhe, sua irmã está rindo de mim.
97 – Eu aceito suas desculpas.
98 – O que ele quis dizer?
99 – Que ele tem um puta cérebro nessa cabeça pequena.
100 – surpreso.
101 – sobrinho-neto.
102 – (...) esperando por nós. Vamos cear, moços e moças.
103 - Não entendi (...) mas não me lembro (...) família (...) jovem (...).
104 – (...) podes trazer (...) almoço para italianos, indianos (...).
105 – (...) meu irmão (...) conhecê-las. (...) meus convidados. (...) não terá minha presença, entendeu. (...) festa de casamento?
106 - Me perdoem (...) em português. (...) uma excelente professora, mas (...) difícil falar (...) porque (...) senhor (...) as tradições que temos como um pilar de nossa sociedade (...) em casamento.
107 – Miguel, meu amor, te amo mesmo (...)
108 – “O amor a tudo vence, o amor a tudo suporta”.
109 – Adeus, meu menino.
100 – Adeus, meu tio amado.
101 – Olá, belo rapaz italiano.
102 – Senti sua falta. Sonhou comigo?
103 – (...) meu belo rapaz italiano.
104 – Meu amor, te amo mesmo.