sábado, 1 de agosto de 2009

“A Grega” no Clube de Autores

Você já teve a sensação de estar realizando seus maiores sonhos? Ou melhor, você já realizou seus maiores sonhos? Quando eu comecei a fazer teatro, foi a primeira vez que tive essa sensação. Era uma delícia estar no meio de pessoas que gostavam de conversar sobre as mesmas coisas que você e conseguiam te compreender. As trocas eram bastante familiares e – quase – sempre estavavamos em sintonia.

Teatro foi uma grande realização na minha vida, que eu simplesmente adoro, mesmo longe dos palcos (escolha e opção pessoal!). Quando comecei a escrever (isso bem antes do teatro) também tive essa mesma sensação.

A primeira vez que eu comecei a escrever textos grandes, foi na Escola Nacional Junior, onde desenvolvi aventuras da minha turma em viagens de foguete, saindo de dentro do Morro ao lado da escola (foi assim que criei o esconderijo do meu personagem Combate). Depois eu comecei a desenvolver um texto sobre Alexander Ulianov III e com incentivo de minha professora de português, eu desenvolvi o que seria minha primeira versão de um romance sobre vampiros.

“Amor Sombrio” de romance, virou peça teatral e assim ficou, pois então conheci a minha Marcelle.

Uma ex-namorada que eu chamava gentilmente de “vampirinha” e Marcelle Anthemimuspor causa dela criei Marcelle Anthemimus, uma vampira secular, que vinha ao Brasil, com sua secretária, e contava a história a uma estudante de História, que ficou por anos sem nome.

Essa versão, para mim, não era o ideal, então a modifique completamente (cheguei a apagar todo o livro na época). Neste momento conheci minha ex-namorada, Caroline, e a partir daí criei uma nova personalidade e um nome para minha segunda personagem. A jornalista Caroline Guimarães, estudava comunicação social na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e foi chamada por Marcelle para ouvir sua história. Isso ainda não me satisfez.

cover_front_big Agora sem namoradas, precisei me basear em outras coisas, então comecei a contar a história do ponto de vista de Marcelle, como se fosse ela contando a todos sua história, sem delongas. Então era o seguinte, Caroline Guimarães, uma jornalista que trabalhava numa revista de grande circulação do estado do Espírito Santo, fora chamada pela historiadora Marcelle Anthemimus, sem um motivo aparente. Quando chega ao hotel em que Marcelle está instalada, descobre que ela é uma vampira. Totalmente descrente disso, precisou de provas para crer na afirmação da “grega”  só assim ouviu sua história. Marcelle pediu que Caroline contasse sua história do seu ponto de vista, ou melhor, como se fosse a própria grega contando a todos.

Daí surgiu a versão que está disponível no Clube de Autores de “A Grega”. Marcelle Anthemimus é uma vampira que viaja todo o mundo, após ser tragicamente num eterno ser depende de sangue humano para sobreviver. Durante suas viagens, conhece seus parceiros, encontra outros vampiros e enfrenta desavenças com um vampiro milenar. Marcelle conta toda a história a Caroline, que passa a mim todas as informações, pois some depois de receber ameaças.

Eu espero que curtam este romance sobre um vampira grega.

Link para adquirir o livro: http://clubedeautores.com.br/book/3535--A_Grega, que custa R$ 41,72 (mais custos de entrega).

Abaixo o promo do romance, feito pela minha amiga Luciana Waack:

livro do andré cópia

sábado, 11 de abril de 2009

Prole – Terceira Parte

Depois da primeira e da segunda parte deste conto, chego a vocês com a terceira parte do conto Prole, dos contos Em Busca do Conhecimento. Nesta parte, Miguel é Joshua conhecem muito mais do que a região em que seus descendentes moravam. Boa leitura!

imigrantes-no-esQuando acordaram, a pedido de Joshua – Miguel não estava muito animado com isso -, foram procurar Giacomo e Giancarlo:

- Pô, o cara se desfez de tua generosidade e cê ainda quer ir atrás dele? Cê acha que é quem? Gandhi?

- De onde você tirou Gandhi, agora? – Questionou Joshua, espantado.

- Ah qualé Joshua, té parece que sou tão ignorante assim. Você com essa de aceitar o modo que Giancarlo te trata, ta parecendo Gandhi, sim. Tá, se você quer procurá-los, vamos nessa, mas não espere que eu seja amigável com ele.

- Você já percebeu que parou de tratá-lo como nonno?

- Cê queria o quê? Pode até ser meu nonno, mas isso não dá motivos para destratar meus parentes, ou melhor, os parentes dele...

- Miguel, ele não sabe...

- Tô ciente disso, mas mesmo assim, não se destrata quem quer te ajudar. – Seguiram então o caminho deles, mas parecendo dois turistas do que pessoas com o objetivo de conviverem com o avô e o tio. Não reconheciam a cidade, sendo que já haviam visitado outras vezes, mas a infra-estrutura era completamente diferente, pois os prédios ainda não existiam, sendo o centro da cidade formado de casas, com uma igreja bem de frente para uma praça:

- Tá parecendo cenário de novela. – Exclamou Miguel, a certa altura. – Aí, cansei! Vamos parar por aqui e dar uma descansada. Pô, primeiro que num to acostumado de acordar tão cedo, segundo que já perdemos o objetivo dessa viagem, por mim nós voltamos para o nosso tempo, agora. – Quando terminaram de falar, duas jovens passavam por eles, deixando Miguel fascinado. Uma delas chegou a olhá-lo dentro dos olhos, com um enorme frisson:

- Você viu isso? – Arguiu Miguel, sacudindo o primo, com empolgação.

- O quê? – Questionou Joshua assustado, quando olhou na direção do dedo do primo, viu as jovens. – Miguel, é titia e nonna!

- Como é que é? Cê ta de sacanagem que nonna e titia eram tão gostosas?

- Miguel, mais respeito, são nossas parentes.

- Ah Joshua, elas nem tem consciência disso... – Ao terminar de falar, ouviram uma voz atrás deles, o que assustou-os:

- Eu tinha consciência de que algo estranho os cercava! – Na hora que olharam, viram Giácomo em pé, ao lado do braço de Miguel. – Que explicação vocês têm para nos dar?

O medo se apoderou de ambos, fazendo Miguel ficar sem ter o que dizer, foi quando Joshua começou a balbuciar:

- Somos pessoas que vieram num túnel gerado por um pequeno portal, que denominamos de Interportal. Ele gera uma força centrífuga, que traga os corpos a sua frente, enviando-os para qualquer lugar, sem distinção, mas graças ao trabalho do professor Fred, meu mentor, conseguimos ser enviados no tempo até o momento de encontrá-los, tanto você quanto o nonno...

- Joshua! – Gritou Miguel. – Que cê tá fazendo?

- Mas do que este jovem está a falar? – Perguntou Giácomo, completamente sem entender.

- Nada, Giácomo, ele somente está falando coisas incongruentes...

- Não Miguel. – Interrompeu Joshua, depois de respirar bastante. – Acho melhor contar tudo a nosso tio.

- Eu, tio de vocês? Do que está a falar, rapaz? Desde quando somos parentes? E por que ele lhe chamou de Joshua?

- Desculpe confundir sua cabeça desse jeito, Giácomo, mas agora já foi dito. Meu nome verdadeiro é Joshua. Eu e Miguel somos de outro tempo, viemos para cá através de um portal dimensional...

- Joshua, meu jovem, eu também li A Máquina do Tempo, de Wells...

- Não estou falando de um livro de ficção científica, Giácomo, estou falando de realidade. Viemos de uma faculdade do futuro, num interportal, que nos transportou para esta época, pois queríamos conhecê-los quando jovens, tanto você quanto nosso nonno, Giarcarlo.

- Tu queres me dizer que Giancarlo é nonno de vós? Isto está deveras confuso!

- Por favor, sente-se, pois temos muito para lhe contar, mas peço que tenha paciência, pois a história é longa! – Mesmo sentindo-se aturdido, Giácomo sentou e ouviu o relato de Joshua, enquanto Miguel não tirava o olhar vidrado das duas moças. Ao final da história, sem contar detalhes maiores, Giácomo levantou, como se na sua cabeça pesasse o universo:

- Quella è eccessivamenteioselvaggia da credere. Devono giocare con me, solo può essere. Come sarebbe viaggio possibile nel tempo? In libro delle possibilità scientifiche di romanzo di questo esista soltanto per accadere…28

- Ei… Ora so di dove Joshua ha tolto questa mania per mumble il desodernadamente.29 – Disse Miguel para o tio e depois se voltou para Joshua. – Pronto, cê embolou a cabeça do homem que ele até esqueceu o português.

- Eu não me esqueci de nada, rapaz Miguel. Este teu modo de expressar não é comum e o relato das roupas, nem havia me tocado de quão parecido esta roupa tua e com a minha, rapaz Josu... Quer dizer, Joshua. Sendo isto verdade, apesar do absurdo, eu gostaria de mais detalhes, como com quem eu casarei, se eu serei feliz...

- Não. – Estacou Joshua. – Infelizmente este tipo de informação não poderia lhe fornecer, mas sim, você será uma pessoa muito feliz... Nem sei mais como chamá-lo!

- Prefiro que continue me chamando de Giácomo, não estou acostumado de ser tio, ainda tão novo, se podem compreender. – Os dois balançaram a cabeça, em afirmação. – Não podemos abrir isso a Giancarlo, pois ele não acreditaria, na verdade nem eu estou acreditando... Certo, não espero que entrem em mais detalhes, mas se vão conviver conosco, peço a vós que entendam meu irmão e rapaz Miguel, mantenha-se como um italiano... Como conhece tão bem a Itália? Ainda mais a região de Calábria? – Arguiu Miguel.

- Já fui para lá, como meus pais, numa viagem de verão minha mãe queria conhecer a região onde vocês dois nasceram, então meu pai deu este presente de natal para ela.

- Com certeza, é um belo presente. Nossa, é tão fácil assim viajar para os lugares? – Antes que Miguel respondesse, Joshua interpôs:

- Acho melhor esquecermos o futuro e nos concentrarmos no agora. Aonde vocês dois dormiram, Giácomo? – Meio desnorteado com aquela posição de Joshua, depois de todas as outras informações, Giácomo demorou a processar:

- Ah... Nós conhecemos uma família, no final da rua. Discendenti degli italiani. Moram aqui desde a chegada dos primeiros colonizadores. Mio fratello ficou por lá, relatando fatos atuais da Itália, quando vi as meninas deles saindo, aproveitei para me retirar também. Quando os vi aqui, sentados, decidi me aproximar. Ao ver o giovanotto Miguel falando fluentemente o português, sabia que algo estava errado. Pensei que ambos eram trapaceiros, enganadores, que pretendiam nos dar o golpe, mas isso foi muito além do que pensei. – O sorriso transbordava do rosto de Giácomo. – Quando eu imaginaria encontrar alguém do meu futuro? – Ignorando àquilo, Miguel indagou:

- Carai, sabe o que me veio à cabeça agora... Será que madrinha num é filha de titio não? – Aquilo espantou a Giácomo é Joshua. – Pô, é verdade, vocês dois quando estão nervosos, balbuciam desenfreadamente, só pode ser genético.

- Rapaz Miguel, isto foi... Inusitado! Mas o balbuciar é algo que sempre acontece a todos na família, mesmo Giancarlo faz isso...

- Então eu acho que to na família errada. – Com um sorriso desdenhoso no rosto, olhou para Joshua. – Será que não me trocaram na maternidade?

- Ah Miguel, deixa de falar besteira! – Respondeu Joshua, com um sorriso aliviante no rosto. As coisas acalmaram, mas durante um breve silêncio, Miguel falou:

- Então tio... Quer dizer, Giácomo, cê tá de olho em alguma das duas?

- Ahn?... Não meu rapaz. Nada contra as italianas, pelo contrário, as duas jovens são belas, mas não mexem comigo. Acredito que não seja o meu momento. – Falou, olhando para Joshua, que aparentou impassível.

- Então tá, vou nessa! – E seguiu na direção das meninas quando Joshua segurou no seu braço, quase sendo carregado pelo primo.

- Miguel, uma delas é nossa avó! – Disse, ao pé do ouvido do primo, sem que Giácomo ouvisse. – Miguel, dando com os ombros, pronunciou sem som audível “qual das duas?”, aquilo deixou Joshua inquieto, fazendo-o sacudir a cabeça em negação ao que o primo estava por fazer, e apontou o dedo em direção da mais loira. Se soltando de Joshua, Miguel fez sinal de ok e continuou o caminho:

- It doesn’t forget to speak in Italian!30

- Por que o inglês? – Questionou Giácomo, ao se aproximar de Joshua, que olhava o primo, desiludido.

- É uma língua que aprendemos em um curso.

- Por que ele sabe italiano e você não?

- Porque o nonno ensinou a ele, mas não a mim.

- E por que Giancarlo não fez isso? Vocês dois são netos dele, oras! – Observando o olhar curioso e atento de Giácomo, Joshua respirou fundo e disse:

- Eu sei que está ansioso para saber do futuro, Giácomo, mas não posso lhe contar, pois pode interferir no continuum e assim eu posso terminar criando outra dimensão, gerando um delta no espaço-tempo.

- Meu rapaz, tu falas difícil. Acredito que era o mais querido dos netos. – Desolado, Joshua tocou no ombro e Giácomo, fazendo-o sentar.

- Giácomo, nonno nunca me conheceu. – Aquilo arregalou os olhos do italiano. – Ele não quis me conhecer, pois minha mãe, sua sobrinha, se casou com um brasileiro, sem raízes italianas. Conhece bem o preconceito de Giancarlo quanto a isso. – Giácomo balançou em afirmação. – Então, eu vim para cá para conhecê-lo...

- Mas sua mãe, ela se casou numa igreja cristã-católica, não? Quem a levou ao altar?

- Você! – Respondeu taxativo. – Você, de certa forma, foi meu verdadeiro nonno, Giácomo. Só que não aceitava que eu o chamasse assim, pois esperava que seu irmão perdoasse a filha, como ele fez contigo... – Percebendo que falara demais, preferiu parar. Percebendo, Giácomo olhou com desconfiança, mas não persistiu. Olhando em outra direção, deixando Giácomo e Joshua, Miguel se aproximou das duas jovens:

- Attendo non interrompere niente! Buon giorno, senhoritas?31 – As duas se entreolharam e a que parecia mais nova comentou:

- Diana, ele é italiano, como aquele outro que ficou a conversar com nosso pai.

- Deu para perceber não é Minerva, mas pelo menos ele parece mais bonito, pena que é novo demais para mim. – Miguel quis sorrir, mas continuou fingindo que não entendia nada, foi quando Diana, ajeitando suas longas madeixas loiras, falou. – Você aprendeu com a vovó falar italiano, então conversa com ele. Pergunte de onde ele é...

- Está bem. – Disse Minerva, e com seus olhos cor de jade, que deixou Miguel mais fascinado ainda, ela disse a ele. – Dove di voi lode? È arrivato qui con Giancarlo e Giácomo?32

- Ah, Giancarlo e Giácomo erano venuto lo stessi in treno che laioed il mio cugino, ma noi non arrivano insieme al Brasile,ioarriva qui bene prima. Stava funzionando in una locanda dei miei zii, nel capitale.33 – Contou, dando prosseguimento no relato criado por Joshua sobre o motivo de eles estarem ali. – Il miei cugino ed io sono venuto fino a qui, conoscere il posto di atterraggio del nostro dello stesso paese un quando erano arrivato al paese. Miniera di fortuna da attraversare con i giovani così bei, che il relativo favore?34

- Denomino Minerva e la mia sorella se denomina Diana. Esso siete gentile dire che sono bello, ma tutti parlano che la mia sorella è più graziosa.35 – Interrompendo a conversa dos dois, Diana exclama:

- E então, sobre o que estão falando?

- Sobre você. Ele disse que nós duas somos lindas, mas disse-lhe que todos elogiam a tua beleza, acima de todas.

- Já disse para não se menosprezar Minerva, você é mais bela que eu, só que ninguém ainda descobriu, pois és jovem. Babbo já se referiu várias vezes a ti como “olhos com cor do mar profundo”, isso é um grande elogio. Mas continue a conversa, não o deixe com essa cara de bobão. – Miguel gargalhava por dentro, mas não podia deixar refletir. Aprendera com o passar dos tempos a fazer cara de desentendido, ainda mais convivendo com seu primo Joshua, que sempre usava fórmulas e teorias em suas conversas. A pergunta que não saía de sua cabeça era: “Por que Joshua?”, já que os dois não tinham nada a ver, mas ele sempre encontrava a resposta, pois ele considerava o primo um aliado, o seu maior companheiro e amigo:

- Intendono essere molto tempo questo senso?36 – Ela perguntou.

- Bene, non so. Credo che dobbiamo ritornare presto verso il capitale, ma perchè voi non mostrate la regione me. Sarò molto felice nel sapere…37 - E antes que pudesse terminar, Joshua chegou e puxou o primo:

- What it thinks that’s making?38 – Ele questionou Miguel.

- Which its problem, Joshua? We have to use to advantage while we are here.39

- My problem…? – Esbravejou Joshua. – I’m not that I am giving on of my grandma and the sister of it…40 - Percebendo o tom de discussão dos seus recém descobertos sobrinhos, Giácomo decidiu distrair as duas jovens:

- Buon giorno minhas jovens, é meu irmão, aonde se encontra? – Se desviando da discussão de Joshua e Miguel, Diana proferiu:

- Bom dia, signore Giácomo. Ele ficou a conversar com nosso babbo a respeito da Itália. Ele parece muito apaixonado pelo seu país.

- Sim, meu irmão é... Como se diz?... Deslumbrado pelo nosso país. Precisou que fossemos convocados para a guerra, para convencê-lo a vir.

- Vocês foram convocados? – Diana pareceu fascinada, enquanto Minerva se mantinha entretida com a discussão de Joshua e Miguel. – Mas por que não aceitaram a convocação?

- Ah, são tempos difíceis na Itália, minha cara. O governante do país se aliou a outros governantes de natura dubbiosa, por isso nostro padre preferiu que nós viéssemos para o seu país, assim não teríamos de sofrer a vergonha de servir a um homem que se mistura com assassinos.

- Mas como assim?

- Corre uma história de que o governante della Germania construiu campos de concentração e que neles, aqueles que não se submetem, são mortos. Disseram também que ele odeia os ebrei e por isso os mata, também.

- Ouvimos no rádio que todos estão sendo convocados para ir à guerra. Que o presidente enviará soldados nossos para a região da guerra, parece que eles irão para o seu país.

- Se for assim, só posso desejar-lhes boa sorte e agradecer a Deus por não estar lá. – Percebendo que os dois ainda discutiam e que Minerva parecia entretida com aquilo, Giancarlo procurou lhe chamar a atenção. – E aonde as duas estavam a ir?

- Ah, - disse Diana, cutucando a irmã. – nossa mãe pediu que fossemos ao mercado. Será que o signore e seus amigos nos acompanhariam? – Se aproximando de Joshua e Miguel, Giácomo respondeu:

- Seria um imenso prazer acompanhar as duas jovens. – Percebendo que falavam com eles também, Joshua respondeu:

- Seria de muito agrado acompanhá-las. – E Miguel, por sua vez, falou:

- Sarei adulato in quanto segue.41 – E seguiram com as jovens. Eles permaneceram atrás dela, em sinal de respeito, cochichando:

- Por que não podemos seguir ao lado delas? – indagou Miguel.

- Em sinal de respeito, devemos deixar as jovens seguirem à frente. Somos acompanhantes, não noivos. – Retrucou Giácomo. – A mais jovem, Minerva, ficara entretida na conversa de ambos, será que ela compreendeu o que diziam?

Joshua refletiu sobre o que Giácomo falara, mas não recordava de comentarem que Diana, tia-avó dele e de Miguel, compreendesse inglês:

- Eu acredito que não. O inglês era uma língua pouco difundida nesta região do país, então acho difícil... – Antes de continuar, percebeu que estava deixando Giancarlo confuso, novamente. – Desculpe, ti... Quer dizer, Giácomo.

- Tutto Il buon, é que ainda não me acostumei com essa idéia de viaggio nel tempo, mas vamos, elas entraram logo ali. – E aceleraram o passo, entrando logo depois delas.

Ao saírem, carregavam as compras das jovens, que seguiam à frente, cochichando e rindo. Miguel, devido ao seu porte físico, era o que carregava o mais pesado:

- Carai, como elas iriam carregar tanto peso? – reclamou, aos murmúrios.

- Tenha compostura, rapaz Miguel. – Censurou Giácomo. – Rapaz Joshua, percebeste na jovem que estava no estabelecimento, acompanhada do pai? – Joshua reformulou tudo em sua memória, para ver se encontrava o rosto que Giácomo falava e lembrou que fora a primeira pessoa que ele reparara dentro do mercadinho, assim que entraram:

- Sim, uma jovem índia. Deve ser nativa a região.

- Tens certa razão. Será que seria muito incomodo eu convidá-la, pois desconheço os costumes dos nativos de a cá.

- Giácomo, eu acredito que somente ela poderá lhe responder isso, ou ela ou o pai dela.

- Estais deveras certo neste argumento. Mais tarde retornarei ao centro para ver se consigo localizá-la. – Joshua nunca pensara que eu tio-avô fosse tão determinado. - E gostaria que viesse junto, pois caso eu fique nervoso, poderás me ajudar... E quem sabe, encontre alguém que lhe interesse, também.

- É, quem sabe. – Argumentou desdenhosamente Miguel, pois sabia que o primo faria qualquer coisa, menos trair suas lembranças sobre Alicsirp. Joshua olhou irritado para o primo, mas concordou em ir, pois adoraria conhecer sua tia-avó jovem, também.

Quando chegaram a casa delas, Minerva falou para Miguel, com um sorriso no rosto:

- Può prendere questo per la cucina, la mia madre riceverà da voi.42 – E seguiu para a cozinha, com Joshua e Giácomo atrás. Ao chegar lá, Miguel colocou o que carregava sobre uma grossa mesa de madeira, que aparentava ser bem pesada:

- Signora Ceres, trouxemos suas compras. – Ceres se encontrava de frente para um fogão de lenha, de costas para eles. Era uma mulher corpulenta. Seus cabelos negros formavam um coque, em cima da cabeça, presos desgrenhadamente, aparentando ter sido feito as pressas.

- Grazie, jovem Giácomo. – Quando se virou, reparou nos dois rapazes ao lado de Giácomo. – Quem são estes?

- Desculpe-me minha senhora, eu me chamo Josué e este é meu primo Miguel. Ele veio da Itália, como Giácomo e Giancarlo. – Joshua disse, pegando na mão grossa e calejada de Ceres e beijando-a. – Viemos da capital para a cá, na intenção de conhecer aonde nossos parentes desembarcaram ao chegar no país.

- Que coisa boa. Então és descendente de italiano?

- Sim senhora, mas somente em parte. Minha mãe é casada com um brasileiro, descendente de portugueses.

- Ora, mas não somos todos brasileiros? Sem contar com o jovem Giácomo, Giancarlo e seu primo aqui, todos nós nascemos e vivemos nesta terra abençoada. – Ela abriu um sorriso amarelado. – Fico imensamente agradecida pela bonaventura de vós. Peço-vos que fiquem para o almoço.

- Se não for nenhum incomodo. – Replicou gentilmente Joshua.

- De jeito maneira, será um imenso prazer. Por favor, jovem Giácomo, siga com os jovens para a sala de visitas, meu marido deve estar por lá com vosso irmão. – E eles saíram da cozinha atrás de Giácomo:

- I wait that it hasn’t forgotten that I’m dissimulating not to know Portuguese, “Josué”.43 – Esbravejou Miguel.

- It can leave, I didn’t forget, but it now painted distrust with the commentary of Giácomo. E if Minerva will understand what we talk?44 – Indagou Joshua.

- This would be possible? I never knew of it to know the English.45 – E pararam de falar assim que chegaram à sala, com Joshua dando com os ombros. No sofá estava sentado Giancarlo, enquanto numa cadeira, que mais lembrava uma espreguiçadeira, estava sentado o pai de Diana e Minerva, Enéias. Os três se aproximaram, ao sinal deste:

- Buon giorno, giovane Giácomo, quem são seus amigos? – Perguntou entre uma tragada do seu cigarro de palha, que empesteava a sala com o cheiro, mas antes que pudesse responder, Giancarlo interpôs:

- Sono i due giovani che erano venuto lo stessi in treno che io ed il mio fratello. Uno è stato sopportato in Italia, come noi e l'altro è sopportato qui, nel paese.46 – As últimas palavras foram ditas com certo desdém, mas Enéias preferiu ignorar e continuou:

- Bem, um jovem nativo, como nós. – Ele sorriu, sem dentes estavam amarelados, devido ao fumo. – O que lhes trazes aqui, jovens? Ah, pardons me ma non deve non capire niente di che cosa dico, io che ho chiesto che cosa portate loro qui.47

- Nós viemos descobrir mais sobre o local onde nossos parentes desembarcaram. – Respondeu Joshua. – Meu nome é Josué e este é meu primo Miguel, ele veio de Calábria, também.

- Minha família, os Gialdi, vieram da Província de Parma, na região de Emilia-Romagna. In quale provincia pagamento rinviato la relativa famiglia, Miguel?48

- Sono venuto della provincia di Catanzaro.49 – Respondeu Miguel.

- Catanzaro? Ma i membri della relativa famiglia non erano venuto durante l'immigrazione grande del secolo XIX? Non mi ricordo del mio padre per non accennare nessuno di Catanzaro. Senza contare quel conosco tutti qui le famiglie residenti e nessuno di questa provincia.50 – Miguel ficara nervoso, mas tentando não demonstrar falou com o primo, em inglês:

- I find that I complicated myself. It wants to know on the region of Catanzaro, therefore nobody lode of this province for here in the period of the great immigration.51 – Enéias estranhou a lingual que Miguel falava:

- Que idioma é está que ele está usando. – Num ato de impulso, Joshua respondeu:

- Inglês, senhor. Com sua licença. – E respondeu ao primo. - I don’t know I eat to help it; therefore my knowledge on the great immigration is well distinct. You don’t remember you’re welcome not, anything that grandpa can have mentioned?52

- Not, it’s silly one. One forgot that grandpa arrived now and it did not come with the other immigrants?53

- Then he thinks about something, fast, therefore it will start to distrust.54 – disse, percebendo que Enéias começava a olhá-los de modo estranho. Percebendo uma pausa na conversa dos dois, Eneías disse:

- Inglês? Minha filha mais nova estava aprendendo inglês, pois desejava ir para a guerra, mas não podia permitir que ela se envolvesse neste conflito. Se quiser posso ajudá-los, chamando-a. – Aquilo revirou o estômago dos dois, ela então podia entender o que eles falavam e deixava-os bem encrencados. Percebendo que ambos haviam se metido numa baita encrenca, Giácomo decidiu intervir:

- Você chegou a mencionar a província de Cosenza, Josué, acredito eu. – Percebendo a ajuda de Giácomo, Joshua se retomou e Miguel respirou aliviado:

- Ah sim, Cosenza, província de Calábria. Perdoe-nos senhor, é que quando iniciamos uma conversa em inglês, esquecemos do resto. - Sorriu, olhando pro primo, que fingia não compreender nada, assim como Giancarlo, que não entendia mesmo. – Nossa família vivia na província de Cosenza, mas depois que alguns vieram para o país, os outros foram para Catanzaro, onde Miguel nasceu.

- Ah sim, completamente compreensível. Bem, o importante é que estão aqui e poderemos conversar bastante. – Percebendo que Giancarlo não compreendia nada, se desculpou com o italiano:

- Mille giustificazioni, il mio giovanotto costoso, li lasciamo del colloquio all'esterno.55

- Se non importa con questo. Per l'abilità, dovrò imparare la vostra lingua, per potere partecipare ricompensa delle parole dette.56 – Falou Giancarlo, mio acanhado.

- Ciò non sarà problema, i miei più vecchi studi del figlio da essere insegnante. Così essendo, potrà da insegnare esso. – Olhou para Miguel e disse. - Per i giovani anche, se così volere.57

- Sarà un piacere, signore…58

- Dove sono i miei sensi, il mio nome è Enéias.59 – E cumprimentou Miguel, depois se virou para Joshua e se apresentou também. – Meu nome é Enéias, Enéias Gialdi.

Tradução:

28 – Isto é louco demais para eu acreditar. Eles devem estar brincando comigo, só pode ser. Como seria possível viagem no tempo? Somente em livro de ficção científica existem possibilidades disso acontecer...

29 - Ei... Agora eu sei de onde Joshua tirou essa mania de balbuciar desodernadamente.

(...)

30 - Não esqueça de falar em italiano!

(...)

31 - Espero não estar interrompendo nada! Bom dia, senhoritas?

32 - De onde você veio? Chegou aqui com Giancarlo e Giácomo?

33 - Ah, Giancarlo e Giácomo vieram no mesmo trem que eu e meu primo, mas não chegamos ao Brasil juntos, eu chegue aqui bem antes. Estava trabalhando em uma pousada dos meus tios, na capital.

34 - Meu primo e eu viemos até a cá, para conhecermos o local de desembarque de nossos conterrâneos quando chegaram ao país. Sorte a minha cruzar com tão belas jovens, qual a sua graça?

35 - Eu me chamo Minerva e minha irmã se chama Diana. Você é muito amável em dizer que sou bonita, mas todos falam que minha irmã é a mais graciosa.

36 - Pretendem ficar muito tempo por aqui?

37 - Bem, eu não sei. Acredito que deveremos voltar em breve para a capital, mas por que vós não me mostrais a região. Ficarei muito feliz em conhecer...

38 – O que pensa que está fazendo?

39 - Qual o seu problema, Joshua? Temos de aproveitar enquanto estamos aqui.

40 – Meu problema...? (...) Não sou eu que estou dando em cima de minha avó e da irmã dela...

41 - Eu ficaria lisonjeado em acompanhá-las.

(...)

42 - Pode levar isso para a cozinha, minha mãe receberá de você.

(...)

43 - Espero que não tenha esquecido que estou fingindo não saber português, "Josué".

44 - Pode deixar, não esqueci, mas pintou um receio agora com o comentário de Giácomo. E se Minerva estiver entendendo o que conversamos?

45 - Isso seria possível? Eu nunca soube dela conhecer o inglês.

(...)

46 - São os dois jovens que vieram no mesmo trem que eu e meu irmão. Um nasceu na Itália, como nós, e o outro é nascido aqui, no país.

47 -... perdoa-me mas não deve estar entendendo nada do que eu digo, eu perguntei o que lhes trazes aqui.

48 -... Em qual província mora sua família, Miguel?

49 - Eu vim da província de Catanzaro.

50 - Catanzaro? Mas membros de sua família não vieram durante a grande imigração do século XIX? Não me lembro de meu pai mencionar ninguém de Catanzaro. Sem contar que conheço todas as famílias residentes aqui e ninguém desta província.

51 - Acho que me encrenquei. Ele quer saber sobre a região de Catanzaro, pois ninguém veio desta província para a cá. no período da grande imigração.

52 – Eu não sei como ajudá-lo, pois meu conhecimento sobre a grande imigração é bem distinto. Você não se lembra de nada não, qualquer coisa que vovô possa ter mencionado?

53 - Não, seu bobo. Esqueceu-se que o vovô chegou agora e não veio com os outros imigrantes?

54 - Então pense em algo, rápido, pois ele começará a desconfiar.

55 - Mil desculpas, meu caro rapaz, deixamos você fora da conversa.

56 – Não se importe com isso. Pelo jeito, terei de aprender o vosso idioma, para poder participar mais gratificantemente das conversas.

57 - Isso não será problema, minha filha mais velha estuda para ser professora. Assim sendo, ela poderá lhe ensinar.(...) Para o jovem também, se assim desejar.

58 – Será uma honra, senhor...

59 - Aonde estão meu modos, meu nome é Enéias.

domingo, 29 de março de 2009

Prole – Segunda parte

Continuando o conto dos primos viajantes do Interportal, vamos agora seguir viagem e ver no que eles se metem. Antes, leia a primeira parte:imigrantes-italianosDepois de tomarem café, os dois partiram para o bairro mais próximo, na parte de trás da charrete do dono da pousada. Assim que os deixou no ponto final do bonde, desejou-lhes boa sorte e partiu. Joshua e Miguel pegaram o primeiro bonde para o centro da cidade e quando ambos chegaram, Miguel foi o primeiro a se expressar:

- Mas que bosta é essa? O que aconteceu com o Centro?

- Miguel, estamos em plena década de 1940, você esperava o quê?

- Mas ta tudo diferente. Até mesmo a praça... Olha o teatro? Pra onde iremos agora?

- Bem, podemos ir para a rodoviária, talvez encontremos nonno por lá ou não. De acordo com o que você me contou tempos atrás, ele teve a ajuda de uma pessoa daqui para chegar ao norte do estado, onde conheceu nonna.

- Mas a Rodoviária é longe pra cacete. Nós saltamos aqui, teríamos que andar muito...

- Na verdade, eu desconheço onde era a Rodoviária, então temos de tentar chegar a Ferroviária!

- E como chegamos lá?

- Daquele modo! – E apontou para um charreteiro, que conversava com seus colegas.

Os dois foram até o condutor da charrete e Joshua explicou onde desejavam ir. Montaram na parte de trás da charrete e seguiram em frente. Durante o percurso, Miguel perguntou, em inglês, pois Joshua persistira no fato de seu primo ser estrangeiro:

- Why to go for the city of grandma?¹

- Because it will not better have way to find our grandpa.²

- Muito estranho isso. – falou o charreteiro. Aquilo fez com que Joshua despertasse, acreditando que o homem conhecesse inglês.

- O que, meu bom senhor?

- É que eu nunca pensei que um dia pegaria um estrangeiro na minha charrete. Lógico, já carreguei muitos italianos, até mesmo alemães, teve até um inglês, uma vez, mas nunca um americano. Vocês estão indo pra ferrovia, pra que?

- Precisamos ir pro norte do estado... Uns companheiros dele se encontram por lá.

- Espero que estejam cuidando para que não aja espiões naquelas colônias do norte. Sabe como é, estamos cercados aqui, no norte tem os italianos e no sul os alemães. Dissera no rádio que nenhum cuidado é pouco, então temos de prestar atenção em todos eles.

- O que o senhor sabe sobre a destruição das lojas dos alemães e italianos que moram aqui.

- Eu não sei de nada, só acho uma vergonha. Olha, achei horrível o que aconteceu com aquele homem, também, mas tenho muitos amigos aqui e sei que eles não têm nada a ver com o acontecido. Moram aqui há tanto tempo, que seria impossível ter alguma culpa. Mas tanto no sul, quanto no norte, sempre chegam novos imigrantes. Desses sim, eu desconfio. Sem contar que me falaram que lá eles falam na língua nativa deles, assim ninguém entende. Pode um troço desses? – Joshua balançou a cabeça, em negação. Miguel ficara quieto, fingindo que nada entendia:

- How much time still I go to have to dissimulate that I do not understand nothing?³ - Miguel falou, a certa altura.

- Until arriving the train station.4 – Quanto atravessaram a última ponte, avistaram a estação a distância. Depois de pagarem ao charreteiro, seguiram a pé para a estação e a virão abarrotada de pessoas:

- Carai, isso aqui é mais movimentado que o Aeroporto.

- Pense assim, não teremos um aeroporto até a década de 1940, então as pessoas viajavam de trem ou navio...

- E ônibus! – impôs Miguel.

- Como?

- Não é porque você não sabe onde fica a rodoviária, que as pessoas não viajavam de ônibus. Talvez fossem poucos, mas tinha de acontecer... – Ignorando o questionamento de Miguel, Joshua prosseguiu:

- Precisamos comprar nossas passagens.

- Há! Eu sabia! – Gritou Miguel, chamando a atenção para ele.

- Para com isso, Miguel! Temos de tentar passar despercebidos. – Disse Joshua, num tom quase inaudível, e seguindo o exemplo do primo, Miguel falou:

- Não adianta, cê não vai admitir que estava errado, vai?

- Admitir o quê, Miguel? Você pirou? – reclamou Joshua, em um tom baixo.

- Que você estava errado, que existe transporte rodoviário nessa época.

- Miguel, você é louco. – resmungou Joshua, aborrecido. – Eu já não falei que não sei aonde era a rodoviária nessa época. Eu não sou onisciente, não sei de tudo. Procurei sobre transportes interestaduais dessa época, mas somente encontrei o ferroviário. Me dá um tempo. Vou comprar as passagens. – E saiu, pisando firme, com um Miguel que se sentia glorificado, atrás dele.

Tiveram de esperar um longo tempo até a saída do próximo trem, que somente saía à noite. Enquanto isso, ambos conversaram sobre o avô:

- Por que mesmo que o nonno não lhe ensinou italiano? – Miguel iniciou a covenrsa.

- Ah, você não me perguntou isso... Na verdade, ele somente iria ensinar para Abel, mas você é intrometido...

- É verdade. Abel sempre foi o preferido do nonno. Nonna sempre teve preferência pela Milena...

- E você pelas amigas dela. – Pontuou Joshua.

- O que posso fazer se ela tem amigas lindas. Mas não muda de papo, por que você não tinha você como preferência. Sempre foi o mais inteligente, um verdadeiro prodígio. Poderia ser um mimado, por ser filho único, mas não.

- Miguel, você sabe o motivo! Não vamos entrar nesse assunto. – Respondeu Joshua, um pouco nervoso.

- Pô, Joshua, juro que não. Lembro que sempre íamos à sua casa, pra visitar madrinha, mas não lembro o motivo disso...

- Porque nonno não gostava de papai, satisfeito. – Falou Joshua entre os dentes, para não chamar a atenção, mas com raiva.

- Ei, calma, véi. Não queria te magoar, só puxar uma conversa. – Meio que ignorando o primo, Joshua continuou o relato:

- Nonno nunca concordou com o namoro de mamãe e papai. Lembro dela me contar que os dois brigavam muito...

- Madrinha te contou isso?

- Lá em casa não escondemos nada, Miguel. É uma política criada por papai, pois uma vez mamãe precisou sair correndo com nossa a avó e Tia Francesca e não deu tempo de avisar a papai, então quando ele chegou lá, nonno inventou que ela estava saindo com um amigo de tio Luppino. O lance é que papai não deu crédito ao que nonno falou, pois sabia da falta de apreço por ele. Daí por diante, os dois criaram um código de honra, no qual não mentiriam entre si.

Quando papai foi pedir a mão de mamãe em noivado, nonno se recusou terminantemente, expulsando papai de sua casa a base de empurrões...

- Carai, eu desconhecia esse lado do nonno.

- Duvido, por várias vezes madrinha chegou lá em casa, falando que nonno lhe tratara a base de bordoadas, devido sua curiosidade indomável.

- Ah é, nossa acho que bloqueei isso! Ah, mas pelo menos aprendi coisa pra carai sobre a família. Era foda ser somente o Abel o preferido porque era filho de tio Luppino, o primo uomo del figlio, sendo que madrinha nasceu antes de todos.

- Mas mamãe nunca aceitou as imposições de nonno. Quando ele expulsou papai da casa, ela foi atrás dele e a partir daí, os dois moravam na mesma casa, mas não se falavam. Quando meus pais se casaram, quem a levou até o altar foi tio Giácomo, que se tornou meu “avô”, pois sempre me visitava, para depois contar a nonna, como nós estávamos.

Nem quando eu nasci nonna pode ir à maternidade nos ver, somente foi madrinha, sua mãe, e tio Giácomo, mais ninguém. Todos se afastaram menos madrinha. Quando nonno adoeceu, mamãe quis ir visitá-lo, mas madrinha lhe disse para não fazê-lo, além de papai e tio Giácomo. Depois então começamos a voltar à casa de nonna, mas a aceitação demorou. Por papai nunca teríamos voltado, mas ele fez isso, por mamãe.

- Mas isso acabou e agora vocês agora freqüentam a casa de nonna, sem nóias. Mas to impressionado com o nonno, pô se madrinha curtia ficar com padrinho, por que encrespar?

- Por causa das origens da família de papai. Nonno achava que mamãe deveria se casar com alguém de raízes iguais a dele, desde que não fosse siciliano. Papai não possui descendência italiana, a descendência dele é portuguesa e era isso que nonno não conseguia respeitar. Você sabia que quando tio Giácomo se casou com tia Bianca, nonno e ele pararam de se falar?

- Como cê sabe dessa história? – Perguntou Miguel, surpreso.

- Titio me contou. Tia Bianca tem descendência indígena, acho que isso é óbvio, e quando tia Margareth, irmã de nonna, foi deixada pelo italiano que sumiu, nonno quis que tio Giácomo e ela ficassem juntos, mas um amigo de titio, disse para ele batalhar por aquilo que queria...

- Tio Giácomo tinha amigos aqui no Brasil?

- Ele fez um amigo, ao que parece, já que nonno só estava interessado no namorado de tia Margareth, se tornaram grandes amigos, pois aparentemente ele tinha vindo de Calábria, também.

- Caramba, e eu pensei que sabia de mais coisas que você.

- Mas tio Giácomo e eu conversávamos muito, ou melhor, ainda conversamos. Como eu disse, ele era meu nonno. Eu ainda chamo a ele e tia Bianca assim. Titio diz que nonno sempre foi assim, preferia aos amigos do que a família, mas quando a coisa era relações pessoais, ele sempre tinha preferência pela união de italiano, sendo bem preconceituoso...

- Joshua! – Repreendeu Miguel.

- É verdade Miguel, nonno sempre foi preconceituoso com outras nacionalidades, um bom exemplo foi o que fez com tia Bianca e com meu pai. Ele se afastou de tio Giácomo e mamãe...

- Mas perdoou tio Giácomo, então provavelmente perdoaria madrinha. – Joshua dá uma boa gargalhada, mas não desperta atenções para ambos.

- Você não sabe de nada mesmo, não é? Nonno não perdoou tio Giácomo, ele precisou dele.

- Como assim? – Perguntou Miguel espantado.

- Você sabia que nonno teve problemas financeiros com a cantina, quando a abriu? Ficou devendo muitas pessoas e tal, por isso se mudou com nonna. Mesmo fugindo pra cá, com pouco dinheiro, deixou os problemas para trás, como não tinha muitos amigos, recorreu à única pessoa que tinha. Tio Giácomo estava indo bem com a plantação de café, então foi quando nonno quebrou o pacto de silêncio que havia feito com titio e lhe pediu ajuda. Titio arcou com todas as dívidas e ainda ajudou nonno a se estabelecer, ficando sócio dele na padaria. Quando tio Luppino tinha idade o suficiente para ser sócio de nonno, ele pediu a tio Giácomo para ceder à sociedade para os dois e foi o que titio fez, sem reclamar. Diferente de nonno, tio Giácomo sempre se preocupou com a família.

- Cara, acho que cê ta pré-julgando o nonno rápido demais. Pô, é só a palavra de tio Giácomo.

- A única figura mais próxima de um avô que eu já tive. – Com essas últimas palavras, Miguel não podia dizer muito. Os dois ficaram em silêncio, até a chegada do trem, quando embarcaram, foi então que o destino cruzou z vida de ambos:

- Carai, nem em um milhão de vidas eu acreditaria que isso fosse possível. - proferiu um assustado Miguel.

- Do que está falando Miguel. – Mas este não precisou dizer mais nada, quando Joshua direcionou o olhar para o mesmo local de seu primo, lá estavam duas figuras, trajando as mesmas roupas que eles e pareciam discordar de algo.

- O que fazemos agora? – Indagou Miguel. – Falamos com eles ou não?

- Melhor não, vamos deixá-los embarcar e... – Quando Joshua prestou atenção, seu primo tinha lhe ignorado e ido na direção dos dois italianos:

- Olá, posso aiutarlo?5 – Perguntou Miguel.

- Ah, un italiano. Infine qualcuno che possa fidarsi di. Dice il giovanotto, questo treno a me sta andando verso il nord del dichiarare?6 – Perguntou um dos italianos, que parecia mais apreensivo do que o outro.

- Sì, dire verità, io ed il mio cugino andanti per là, anche.7 – Respondeu Miguel, enquanto Joshua se aproximava.

- Non ho detto Giancarlo, ora io vado, noi che devo imbarcarmi.8 – argumentou o outro.

- O que estão falando? – Questionou Joshua ao se aproximar.

- Ora, um brasileiro. – Comentou um dos italianos, espantado. Meu nome é Giácomo. Como tu chamas?

- Me chamo... Josué e este é Miguel. – Disse Joshua, apontando para o primo.

- Il vostro cugino dice il portoghese?9 – Inquiriu Giancarlo, parecendo nervoso com aquilo.

- Sì, è stato sopportato qui, ma sono venuto di Calabria. Vocês è di dove?10 - Joshua olhou com certo espanto para o primo, mas passou despercebido, pois Giácomo e Giancarlo concentraram os olhos em Miguel.

- Calabria? La destinazione in loro ha sorriso oggi due volte. In primo luogo a quello in loro per presentargli un italiano ed in secondo luogo affinchè siano calabrese. Siamo di Calábria, anche. Ma perchè il relativo cugino è brasiliano e voi non?11 - Antes da conversa continuar, Joshua puxou o primo em um canto e o argüiu:

- O que pensa que está fazendo? Eu ouvi você dizer que a palavra Calábria?

- Pô, é a minha chance de nonno me dar atenção, Joshua, você não entende?

- E era por isso que você queria vir, para ganhar mais atenção do nonno?

- Peraí, cê que quis vir pra cá, por mim teríamos tentado ir pra Aiarp. Estamos aqui por sua causa, então me deixa aproveitar... – Antes que pudessem continuar, foram interrompidos por Giácomo:

- Perdoem-me, mas acredito que precisamos embarcar. – enquanto Miguel seguiu em frente, Giácomo ficou para trás, olhando para Joshua. – Me diga uma coisa, você aparenta ter poucos traços italianos, há quanto tempo tua família reside por a cá?

- Há bastante tempo. A família de minha mãe veio com os primeiros imigrantes italianos, meu pai a conheceu, mas meu nonno não gostava muito dele, devidos suas origens brasileiras.

- Acredito que tu passarás pelo mesmo com meu irmão. Ele tem uma certa aversão a outras nacionalidades...

- Como aprendeu português? – Questionou Joshua, mesmo sabendo da história.

- Ah, com uma ex-namorada, quando decidi residir em Lisboa, durante uns tempos. Ela tinha lindos olhos, cor de avelã, cabelos negros e sedosos. Inesquecível! Precisei aprender o português, e lhe ensinei o italiano. – Joshua ouviu a história, com um olhar nostálgico. – Algo lhe aconteceu?

- Não. – Disse, enxugando as lágrimas que pré-brotavam de seus olhos. – Só me recordei de uma ex-namorada. Bem, vamos? – E embarcaram no trem. Durante a viagem, Miguel e Joshua permaneceram juntos, lado a lado, conversando sobre o encontro fortuito:

- Por que você fez aquilo? – Contestou Joshua, primeiramente.

- Pra que esperar? Nós viemos para conhecer o nonno, então se tivemos a sorte de esbarrar com eles na estação, acho que fiz o mais correto.

- O lance é que você sempre é impetuoso, sempre age antes de discutir a situação.

- Ah, qualé Joshua, viva a vida um pouco mais. – Quando terminou de falar, visualizou Giancarlo vindo na direção deles. – Agora e melhor deixar pra lá, nonno, ou melhor, Giancarlo está vindo para cá.

- Olá. – Disse Giancarlo, ao se aproximar. – Miguel, potremmo andare per il ristorante del vagone?12

- È chiaramente, Giancarlo!13 – Se virou para Joshua. – Depois a gente se fala! – E sai, ao lado de seu futuro avô. Enquanto andavam, em direção do vagão-restaurante, Giancarlo começou a conversa com Miguel:

- Dove mese siete arrivato al Brasile, Miguel?14

- Amperora, ha un tre mesi che sono arrivato qui. Io miei genitori avevano trovato più meglio, a causa della guerra. Non hanno desiderato che ho rinviato all'esercito.15

- Di quale provincia era venuto?16

- Catanzaro. Io miei genitori hanno avuti una piccola casa seguente il comune di Taverna.17

- Capisco. Siamo della Reggio Calabria, di comune di Cardeto. Inoltre siamo venuto a qui a causa della guerra. Il nostro padre non ha desiderato che noi viessemos da fare parte dell'esercito di Mussolini. Ma siamo venuto da solo, che caso non è relativo. Dove sono i relativi genitori?18

- Amperora, avevano ammesso l'amministrazione di una locanda dei miei zii, i genitori di Josué. Il mio padre è nella presenza, mentre la mia madre prende la cura della cucina, con la mia zia, oltre essere il camareira.19

- Italiani legittimi, se abbassando i brasiliani, per potere sopravvivere. Attendo che questo non accade mai con me. Intendo conoscere una italiana e sposarla esso e sopravvivere per il mio cliente adeguato. Forse apre uno spaccio di bevande o qualche cosa di simile.20

- Non degradano i brasiliani. La mia zia è discendente degli italiani mai non ha curato i miei genitori poichè gli impiegati, per l'opposto, noi vivono molto bene. Abbiamo nostra stanza adeguata e posso studiare, senza avere bisogno di non chiedere soldi a nessuno, quindi guadagnano quello adeguato, con lavoro duro.­21 – O último comentário de Giancarlo pareceu ofender Miguel, que permaneceu quieto, enquanto bebiam café. Quando ambos retornaram para o vagão de passageiros, Miguel sentou-se ao lado de Joshua, enquanto o italiano seguiu até a sua poltrona:

- Tô muito decepcionado com nonno, Joshua. – Espantado, Joshua inquiriu:

- Por que, o que houve? O que vocês conversaram?

- Cê tinha razão, nonno é um tremendo preconceituoso...

- Miguel, o que vocês dois conversaram? – Interpelou Joshua, apreensivo.

- Criei uma história de que meus pais trabalhavam para os seus, numa pousada. Ele disse que ambos estão se rebaixando aos brasileiros. Que pretendia conhecer uma italiana, desposá-la e montar seu próprio negócio. Velho bastardo, mal sabe a merda que vai se meter...

- Calma Miguel, como disse, nós viemos para conhecê-lo, não para ofendê-lo.

- Pode deixar, não vou mudar a história. Como você e o professor disseram, seria impossível, não?

- Bem, impossível não seria, mas criaria uma vertente, uma nova dimensão, só que eu não quero voltar – ou talvez não voltar – ao nosso tempo e encontrar coisas mudadas, entendeu?

- Não vou fazer nada, pode deixar. Não sou nenhum Marty McFly. – Com isso ficaram em silêncio até chegaram à estação que desembarcariam. Assim que isso aconteceu, Giácomo e Giancarlo se aproximaram de ambos. Foi Giácomo que iniciou a conversa:

- Pelo que vejo, todos desembarcamos na mesma região.

- Quando nossa família chegou ao país, desembarcou aqui. Viemos para conhecer o local que nossos parentes viveram. – Respondeu Joshua. – E vocês, por que vieram para cá?

- Ficamos sabendo que esta é uma região promissora. Que as terras desta cidade são bem férteis, então decidimos nos estabelecer por a cá. Bem, espero que possamos nos ver novamente, pelo jeito a cidade é boa para isso.

- E por que nos separarmos, podemos residir no mesmo lugar. Olha, eu tenho um pouco de dinheiro, podemos ficar na mesma pousada.

- Seria excelente, eu e meu irmão... – Neste instante, Giancarlo interrompe:

- Su che cosa stanno parlando?22

- Josué dentro contribuirà a pagare loro una stanza in una locanda.23

- Preferisco dormire al relento. Se ora accettargli il sussidio, saremo dipendente di esso. Andiamo cercare per gli italiani che nell'aiuto loro. Miguel, sarà benvenuto seguire con noi.24 – Miguel, irado ao entender a conversa, rebateu de forma agressiva:

- Se preferisce dormire al relento, quando un umano offre il sussidio esso, allora è, ma non offre me lo stesso, ancora più quando il mio cugino lo ha aiutato sempre quando ho avuto bisogno di. Giácomo, se desiderare essere con noi, sarà benvenuto.25 – Todos se assustaram com a forma de falar de Miguel, até mesmo Joshua, que já havia conhecido aquele lado do primo e mesmo não entendo o que falava, sabia que aquilo havia sido um ataque:

- Miguel, has calm. I don’t know what you it said and nor, you have of if keeping calm.26

- Joshua, it was to offend you again. It said that it would prefer to sleep to the outdoors of what to accept its aid, as you waited that I reacted?27

- Que linguajar é esse que se falam? – argüiu Giácomo. Artodoado, Joshua se retomou:

- Ah, é inglês. Eu aprendi inglês por causa da pousada e ensinei ao meu primo...

- Assim ninguém entende a vocês, não é?

- Não. – Respondeu assustado. – Como trabalhamos na pousada e neste período de guerra, meu pai achou que seria necessário aprender inglês, contratou uma professora, uma inglesa, e ela me ensinou. Quando Miguel chegou ao Brasil, decidi lhe ensinar português e inglês.

- Em três meses? Ele até que aprendeu bem.

- A prática leva a perfeição, já dizia meu tio. – Contrapôs Joshua, sem pensar.

- Seu tio é um sábio, pois esse também é um ditado que eu sigo. - Joshua ruborizou, ao perceber o que havia mencionado. – Bem, não posso abandonar meu irmão. Se ele não deseja ficar com vocês, devo seguir com ele. Quem sabe nos veremos por aí, já que a cidade parece pequena, vejo possibilidades de isso acontecer. – E cada grupo seguiu por um caminho, com um Giancarlo atordoado pela reação de Miguel, que seguiu enfurecido, ao lado do primo.

Traduções (via WorldLingo):

1 – Por que ir para a cidade de nossa avó?

2 – Porque não teremos melhor maneira de encontrar nosso avô.

(...)

3 – Quanto tempo eu ainda vou ter de fingir que não entendo nada?

4 – Até chegarmos a estação de trem.

(...)

5 – Olá, eu posso ajudar-lhe?

6 – Ah, um italiano. Finalmente alguém em quem confiar. Diga-me, rapaz, você pode me dizer se este trem está indo para o norte?

7 – Sim, para dizer a verdade, eu e o meu primo aqui estamos indo, também.

8 – Eu não disse Giancarlo, agora vamos, precisamos embarcar.

9 – Seu primo fala português?

10 – Sim, ele nasceu aqui, mas eu vim de Calábria. Vocês são de onde?

11 – Calábria? O destino nos sorriu duas vezes hoje. Em primeiro lugar ele nos presenteou com um italiano, em segundo lugar você é um calabrese. Nós também somos de Calábria. Mar por que seu primo é brasileiro e você não?

(...)

12 – Miguel, nós poderíamos ir ao Vagão-restaurante?

13 – É claro, Giancarlo!

14 – Em que mês chegou ao Brasil, Miguel?

15 – Ah, tem uns três meses que chegamos aqui. Meus pais acharam melhor, por causa da guerra. Não queriam que eu entrasse para o exército.

16 – De qual província vocês vieram?

17 – Catanzaro. Os meus pais tinham um casebre na comuna de Taverna.

18 – Eu entendo. Nós somos de Régio Calábria, da comuna de Cardeto. Nós também viemos para cá por causa da guerra. Nosso pais não queria que entrássemos para o exército de Mussolini. Mas nós viemos sozinhos, ao contrário de você. Onde estão seus pais?

19 – Ah, estão trabalhando na administração de uma pousada dos meus tios, pais de Josué. Meu pai ajuda na portaria, enquanto minha mãe cuida da cozinha, com minha tia, além de ser camareira.

20 – Italianos legítimos se rebaixando aos brasileiros para poder sobreviver. Eu espero que isso não aconteça comigo. Eu espero conhecer uma italiana e me casar com ela e sobreviver por minha própria conta. Talvez abra uma cantina ou alguma coisa parecida com isso.

21 – Os brasileiros não nos desonram. Minha tia é descendente de italianos e nunca tratou meus pais como empregados, pelo contrário, nós vivemos muito bem. Nós temos nosso próprio quarto e eu posso estudar, sem ter a necessidade de pedir dinheiro a ninguém, pois ganham o suficiente, com trabalho duro.

(...)

22 – Sobre o que estão falando?

23 - Josué disse que pagará quarto para nós numa pousada.

24 – Prefiro dormir ao relento. Se aceitarmos a ajuda, ficaremos dependentes deles. Vamos procurar outros italianos para nos ajudar. Miguel será bem-vindo a vir conosco.

25 – Se prefere dormir ao relento quando um ser humano lhe oferece ajuda, então tudo bem, mas não me ofereça o mesmo, ainda mais quando meu primo sempre me ajudou que eu precisei. Giácomo, se quiser vir conosco, será bem-vindo.

26 – Miguel tenha calma. Eu não sei o que você disse e nem ele, mas você precisa se manter calmo.

27 - Joshua, ele te ofendeu novamente. Disse que preferia dormir ao relento a aceitar sua ajuda, como você esperava que eu reagisse?

Agora leia a terceira parte.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Prole- Primeira parte

Em uma tremenda necessidade de dar continuidade aos conto de “Em Busca de Conhecimento”, decidi por reescrever o segundo conto, Prole. Para não faltar com a verdade com os nosso veteranos da Segunda Guerra Mundial, preferi seguir em frente e mudar um pouco a linha de raciocínio deste conto.

Miguel e Joshua ainda vão em busca de suas heranças no passado, mas desta vez eles não vão para a guerra. Permanecem no Brasil, encontram o avô e as coisas tomam um rumo diferente. Leiam, apreciem e opinem, agradando ou não:

monumento.imigrante.italiano2

Discesa

Passaram-se dois meses desde a viagem de Joshua e Miguel ao universo de Aiarp. Apesar de Joshua raramente confessar (somente sobre pressão feita pelo primo), Miguel sabia o quanto ele sentia falta de Alicsirp e o que mais o aborrecia era a falta de sociabilização do primo:

- Pô, ficar de casa pra universidade e vice-versa num dá certo, Joshua. Cê tem de experimentar alguma coisa nova, não adianta ficar se lamentando.

- Eu não estou me lamentando! Estou fazendo o que eu sempre fiz, estudando, estagiando e indo pra casa, o que há de anormal nisso? Minha vida não precisa mudar só porque viajei para outro mundo. – Argumentou Joshua.

- Você sabe do que eu to falando. Você sente falta dela, já admitiu várias vezes... Tá, eu fiz uma pressãozinha, - contrapôs ao olhar reprovador por trás dos óculos. – mas já confessou. O teu chefe e professor – enfatizou. – já disse que o viu, várias vezes, em frente do Interportal desligado...

- É, pois é, sinto falta dela mesmo, - declarou, observando Miguel erguer os braços, como se louvasse o céu. – mas não vou me deixar ser tragado pelo Interportal para poder parar em outro lugar. Lembra o que Fred falou? Desde que havíamos sumido ele deixou a máquina ativa, mesmo quando as luzes eram apagadas do laboratório, pois se fosse desligado, seria impossível ele nos encontrar. Foram várias tentativas de que encontrássemos a corda, ele colocava de manhã e tirava quando sentia o corpo cansado. Foram três meses nesse processo. Se ele tivesse nos deixado, provavelmente eu hoje estaria morto...

- Até parece que eu ia deixar isso acontecer, aqueles anões nunca encostariam em você... Mas tudo bem, você não quer entrosar, mas isso não quer dizer que eu desisti de tentar. – E temporariamente, encerraram o debate.

Joshua contara a Miguel sobre a conclusão que chegara sobre Ocirederf e o professor Fred, dias depois de seu retorno:

- E aí, conseguiu falar com o eremita da ciência? – indagou o primo, como fazia há três meses, após a volta deles. O apelido surgira porque Fred contou que havia passado os dois meses e meio dentro do laboratório, sem contato com o mundo de fora, a espera do retorno deles, o mais interessante é que ele gostara tanto daquilo que decidiu que o único contato que teria daquele dia em diante seria com Joshua e, de sobra, Miguel: - “Cê é um verdadeiro eremita da ciência!”, enunciou Miguel, após a revelação, então era assim que ele agora se dirigia a Fred:

- Não consigo, por mais que eu tente. – relatou Joshua ao primo. – Quando começo a falar o que aconteceu, ele diz: - “Atenha-se aos fatos relevantes, como a cultura e os costumes. Sua história foi um acontecimento infortúnio, do qual certas partes não precisam ser relembradas.”, daí não falo mais nada. Ele sempre se esquiva.

- Carai, que cara complicado. Deixa eu contar pr’ele?!

- Não. – restringiu-o. – Você seria abrupto e indelicado... Exatamente, te conheço não é de hoje. Você seria capaz de chegar a ele e simplesmente falar: - “Professor, você morreu!”, sem dar chance dele se preparar, ou mais, colocando ele numa posição desconfortável. Nesse caso, é preferível a ignorância a uma verdade da qual eu nem tenho certeza que é real. – respondeu aos gestos de ingenuidade e surpresa simulada de Miguel.

Os dias seguintes seguiram cotidianamente, até que Fred surge de sua sala, no final de uma tarde:

- Vou precisar de ambos! – Ele intimou, deixando-os perplexos.

- De mim também? – inquiriu Miguel, surpreso.

- Lógico Miguel, como os dois foram bem sucedidos na viagem pelo Interportal, e as narrativas de Joshua foram enriquecedoras, gostaria que os dois fizessem uma nova. Andei experimentando viagens controladas, em simulações no computador. Elas foram excelentes. Acredito que poderei encaminhá-los para um período mais distinto, ou mesmo uma dimensão. Então, estão dispostos?

- E nossa família, professor? – indagou Joshua.

- Bem, diremos a eles que vocês farão uma viagem, com minha autorização e que provavelmente estarão sem comunicação. Não é uma mentira, mas uma omissão da verdade...

- Ta massa então, - estorvou Miguel. – bem vamos escolher...

- Nossas origens! Quando nosso avô veio para cá! – Disse Joshua, antes que Miguel finalizasse o que tinha a dizer.

- Bem, eu pensei que gostaria de voltar àquele universo, Joshua? – exprimiu surpresa, Fred.

- Eu também! – Vociferou Miguel. – Qualé o lance Joshua?

- Por mais que sejamos enviados a Aiarp, não temos certeza de onde pararemos. Apesar de eu ter feito aquela tabela dos ciclos de Aul, não temos certeza em que período, numa contagem de tempo, eles vivam.

- Tem razão Joshua. – asseverou Fred. – Eu poderia mandá-los muito a frente ou simplesmente ao princípio, completamente estranho a nós! Mantendo-os neste plano universal, tenho certo controle sobre o período do tempo. Quanto ao espaço, ele precisa...

- Ta, tá, nós sabemos, - atalhou Miguel. – ele precisa dar-nos sustentabilidade e condições de sobrevivência, Joshua já me fez este discurso antes, quando você nos deixou aqui sozinhos, propositalmente...

- Pode até ter sido proposital, pois eu ansiava por sua curiosidade Miguel, mas eu não podia presumir que vocês parassem em um universo paralelo e que demorassem tanto para o retorno. Agora terei certo controle para enviá-los a um período mais correto. – Legitimou Fred. – E manterei o Interportal aberto, como antes.

- E quando vamos? – interpelou Miguel.

- Amanhã. – assegurou o professor. – Assim terão tempo de conversar com seus familiares. Digam que é uma viagem de conhecimento.

- Este argumento eu gostei! – proferiu Miguel.

- Mas será que titia vai entender o motivo de você ir comigo Miguel? – inquiriu Joshua.

- Ah, mamãe sempre entende que eu te protejo Joshua. – Pontuou. – Então duvido que tenha algum problema eu ir contigo.

- Só não entendi uma coisa. – contestou Joshua. – Por que essa ansiedade por outra jornada? E será que não vamos interromper o fluxo temporal, indo ao passado?

- Não há como interferir Joshua. Essa é uma teoria criada pelo cinema. Se você está no passado, era necessário que você estivesse lá para a seqüência correta do fluxo temporal acontecesse, ou você acha que o Professor Emmett Brown não se lembrava que havia conhecido Marty McFly?

- Quem? – argüiu, espantado, Miguel.

- Vai me dizer que nunca assistiu De Volta Para o Futuro?

- Assistiu sim, professor, ele está de implicância com o senhor. Mas existe a interferência de Marty, fazendo a realidade dos pais dele alterar.

- Não exatamente Joshua. Você está colocando tudo numa simples linha universal e dimensional.

- Lógico! – Concluiu Joshua. - Se pensarmos em linhas multiversais e multidimensionais, Marty McFly foi colocado em um continuum onde era necessário e retornou ao presente deste, não interferindo em nada, só fazendo acontecer o necessário.

- Exato. Todas as viagens que ele faz não são temporais, mas sim multiversais. – completou o professor.

- Blá, blá, blá... Chato, chato, chato! – grasnou Miguel. – Carai, vocês dois são chatos! Tá, eu vi o filme, mas o legal é o lance de viajar no tempo e interferir nele. Pô, agora traumatizei, nem vou mais assistir o filme, porque vou ficar pensando nesse lance de multiverso e multidimensional que vocês falaram. Vamos nessa Joshua, to até com dor de cabeça. – Miguel pegou a mochila e começou a balbuciar coisas, enquanto saía. Joshua sacudiu os ombros e foi atrás do primo, correndo.

No outro dia, a ansiedade era a expressiva nos dois. Durante um intervalo mais longo, Miguel foi ao prédio onde o primo estudava e o tirou de sala:

- Miguel, esta aula de Física Quântica é muito importante para mim!

- Ah, cê é gênio, tira de letra! – gracejou. – O que você acha que vamos encontrar?

- Não sei, mas pelo menos torço para que conheçamos o vovô. Trouxe um óculos antigo dele. O grau é mais forte que o meu e a armação é bem pesada. Pelo menos não vou chegar com um aro fora do padrão da época. O que você trouxe?

- Ah, mamãe guarda umas roupas velhas do vovô, então eu trouxe um terno. Ela disse que ele chegou aqui o vestindo.

- Eu também trouxe um. Mamãe disse que pertenceu ao nosso tio-avô Giácomo. Eu cheguei a experimentá-lo, mas ele ficou largo e grande.

- Ta aí, a gente pode trocar. Nas fotos de família, tio Giácomo sempre aparentou ser mais alto e mais forte que o vovô.

- Então está combinado, agora me deixa voltar para a aula. Nos vemos no laboratório. – E saiu na direção da sua sala de aula. Vendo o primo retornar, Miguel também se retirou, remoendo as idéias.

No final da última aula, Miguel disparou na direção do laboratório, onde Joshua já se encontrava, auxiliando o professor Fred com os preparativos. Ele transformara suas duas últimas aulas em crédito, com seu trabalho no centro laboratorial, graças ao prestígio de Fred naquele centro. Quando chegou a sala do professor, o primo o esperava na porta:

- Cadê o terno? – perguntou Joshua.

- Tá dentro da mochila, mas vamos lá dentro, pois não quero pagar micão com essa velharia. – Então entraram e Fred saiu do seu escritório, que ele transformara em campo de provas:

- Troquem suas roupas e depois vamos ao Interportal. – Os dois trocaram de mochilas, quando Joshua ia se dirigindo à porta que dava para o corredor, Miguel interveio:

- Não tem banheiro aqui, não?

- Desde quando alguma sala daqui tem banheiro Miguel? – argumentou Joshua, abrindo a porta.

- Cê tá de sacanagem! Eu não vou desfilar por aí com roupa do meu avô!

- Sua roupa é do nosso tio-avô!

- Piorou. – Crocitou. – Tenho certeza que é mais feia que a do vovô! Ele era mais velho...

- Como era mais velho, ô anta... – disse Joshua, aborrecido. – Os dois eram gêmeos, só que tio Giácomo era mais alto.

- Já te falei pra parar de me chamar assim. – encolerizou Miguel. – Vovó sempre dizia que tio Giácomo nascera duas horas antes do vovô, isso o coloca mais velho.

- Nossa, que grande diferença! – Desdenhou Joshua. – Mas eles, sendo gêmeos, tornam suas roupas parecidas ou da mesma época.

- É, mas... – antes que Miguel pudesse continuar, Fred o interrompe:

- Parem com essa discussão sem sentido! Miguel, tem uma sala de mantimentos ali, pode usá-la, e Joshua acho melhor você usar meu escritório, pois não quero que venham a me questionar o motivo de você estar usando certas roupas. – Então cada um seguiu seu caminho. Quando saíram, Miguel e Joshua trajavam ternos de cor parda, de ombros largos e camisas meio amareladas, devido aos anos que estavam guardadas, os sapatos de amarro eram de bico fino e com couro desgastado:

- Carai, to sentindo que este sapato vai arrebentar a qualquer minuto... – profetizou Miguel.

- Consegui algum dinheiro da época, na coleção de papai. Se eu conseguir trocar, ele vai ter outras, da mesma época.

- Num entendo essa mania de titio de colecionar dinheiro. Pô, ele tem até dinheiro atual, como aquela nota de plástico. Dá pra gastá-la ainda!

- É melhor ser um notafílico, do que bolafílico. – Discorreu Joshua, sobre a mania de Miguel de colecionar bolas vazias, desde pequeno.

- Vamos. – Disse Fred, antes que uma nova discussão se iniciasse. Indo pro computador, perguntou. – Em que ano seus avôs vieram para o país?

- Bem, não foram nossos avôs! – Acertou Joshua. – Foi só nosso avô, vovó havia nascido aqui, era ítalo-brasileira, morava ao norte do estado. Vovô e nosso tio-avô Giácomo, vieram ao país, fugidos da Segunda Guerra Mundial. Isso foi em 1942, quando começou a campanha contra o Eixo.

- Que doidêra isso, meu! – Esbravejou Miguel. – Vovô veio fugido da guerra. Se bem me lembro da história, tio Giácomo sabia falar muito pouco o português, que aprendera com uma namorada, mas mesmo assim se sentiram deslocados. Graças a uma pessoa que os ajudou, eles chegaram à cidade de vovó.

- Vocês falam italiano? – perguntou Fred.

- Miguel sabe. – Respondeu Joshua, acanhado. – Ele e nosso primo Abel aprenderam desde pequeno.

- É, nonno ensinava a nós dois. A Abel por ser o primo nipote, e a mim por que eu era um piano, um chato, como ele mesmo dizia.

- Exemplificando, Abel era o neto mais velho e Miguel era um pentelho chato. – Replicou Joshua, um pouco chateado.

- Certo, então vamos lá. Colocarei vocês nesse período.

- Legal. – Indagou Miguel.

Depois de digitar algumas coisas, Fred disse:

- Vamos ao escritório, e peço que se posicionem em frente ao Interportal para partirem. Nada de relógios ou aparelhos móveis, sabem que não funcionará no lugar que estão indo. – Foram para a sala do professor Fred, enquanto ele se posicionava atrás do diminuto aparelho de transporte, os dois ficavam de frente e, com o acionar de um botão, um brilho intenso surgiu a frente deles e seus corpos se tornaram frações de luzes, que adentraram pelo pequeno círculo do Interportal, viajando a uma velocidade incalculável.

Miguel se levantou, instantes depois, em um gramado aparado e úmido, com se tivessem enorme cuidado com ele. Sentiu uma enorme pressão na região abdominal e vomitou o sanduíche natural e o suco de acerola que consumira no intervalo entre as aulas:

- Que merda! – vociferou. – Da próxima vez não como nada.

- Seria bem pior. – Disse Joshua, levantando a cabeça, depois de vomitar. – Você vomitaria somente bílis e poderia prejudicar seu canal digestivo, sem contar que o corpo poderia ficar enfraquecido, fazendo-o necessitar de consumo de alimento, no qual poderia demorar em encontrarmos... Onde estamos?

- Aquilo é o quê? – Perguntou, apontando para um poste a distância, no breu da noite. – E por que chegamos à noite? Pensei que chegaríamos à tarde.

- Victoria Golf & Country Club! – pronunciou Joshua.

- Como é que é?

- Em 1966, o Victoria Golf & Country Club foi desapropriado para a construção da universidade, que começou em 1967. – Explicou ao primo espantado:

- Sabe, as vezes eu fico espantado de sua cabeça ser tão pequena.

- Titio que me contou isso! – contrapôs. – Se você fosse tão atencioso com nossos tios e tias como é com as amigas de nossas primas, aprenderia mais! – Miguel riu desdenhosamente, mas Joshua ignorou. – Vamos, precisamos sair daqui, antes que sejamos pegos...

- O problema, filho, é que vocês foram. – disse uma voz altiva. A pessoa carregava um lampião, para iluminar o terreno. – Quem são vocês, como entraram aqui? – Miguel e Joshua gaguejaram, sem saber o que responder. – Bem, mudos eu sei que vocês não são, pois os ouvi conversarem. Então? – Joshua se precipitou.

- Desculpe-nos, meu bom senhor, fomos pegos em um trote dos nossos colegas. Eles nos amarraram, nos amordaçaram e nos trouxeram até aqui, para que voltássemos a pé.

- Como eles lhes trouxeram?

- Através do canal que passa por ali. – E apontou. – Atravessaram a barco e entraram no manguezal, conosco dentro.

- Vocês não têm jeito... Está bem, desta vez não darei queixa, mas se eu vir-los novamente aqui, se arrependeram. Sigam-me até a sede, pedirei ao charreteiro para levá-los ao outro lado. – E seguiram o homem até o prédio que sediava o clube, de lá foram levados numa charrete pequena até o outro lado, pela ponte que passa sobre o canal. Deixados no meio do nada, Joshua e Miguel começaram a andar, sem um destino aparente:

- Certo. – Retorquiu Joshua. - Precisamos ir para o Centro, mas já deve ser tarde e os bondes só devem passar amanhã cedo, e uma caminhada até lá é muito longa. Temos de encontrar uma casa que nos aceite, pelo menos esta noite e partiremos logo cedo, tentando chamar o mínimo de atenção.

- Que lugar é este, não me lembro de nada disso?

- Nem adianta queimar neurônios tentando lembrar. Nossa cidade era bem menos desenvolvida neste período que estamos. Percebe que a ponte só é um caminho para se chegar ao clube de golfe? Não há mais nada daquele lado, nem o bairro onde moramos existe ainda, somente pequenas casas, pois os prédios só viriam a começar suas construções na década de 70. O que temos de fazer agora é procurar algum lugar, vamos lá. – E começaram a andar. – Ah, mais uma coisa, Miguel. Deixe-me falar com as pessoas.

Injuriado com a proposta, esbravejou:

- Por quê?

- Por causa do seu modo de falar. Você utiliza muitas gírias e seu estilo de falar é muito século XXI.

- Ah tá. – Ele concorda. – Neste ponto você tem razão, não conseguiria falar parecendo um afrescalhado. Posso falar em italiano...

- Nem pensar. – Alertou. – Se estivermos no período correto, recentemente um barco de passageiros foi atacado bem próximo daqui e muitos morreram. A raiva em cima dos italianos, japoneses e alemães, tomou conta do país, de forma que várias fábricas e o comércio dos descendentes deles foram atacados. Ser um descendente ou falar italiano não seria o mais interessante no momento.

- Ok então, vou falar inglês. Inglês pode, não? – Joshua abanou a cabeça. Localizaram um pequeno hotel, a beira do canal, com algumas luzes acesas e foram em sua direção. Miguel bateu violentamente na porta, com um olhar de reprovação do primo, ao abrir da porta um senhor de idade estava lá para atendê-los:

- Por que batem com tanta violência? Minha senhora e eu estamos a ouvir as notícias no rádio.

- Perdoe a imprudência do meu amigo, meu senhor, mas ele não é daqui. Somos estudantes e fomos pegos em um trote por nossos companheiros. Se fosse possível nos dar abrigo até amanhã, prometo que partiremos no primeiro horário do dia.

- Meu jovem, estamos em dias difíceis para ficarem até tão tarde na rua. Esses seus colegas não sabem que é um período de guerra que passamos? Vocês deveriam ficar em suas casas.

- Sei bem disso, mas é que chegamos a pouco na cidade e não conhecíamos este tipo de brincadeira.

- Bem, podem adentrar. Encaminhar-lhes-ei a um dos quartos daqui, onde poderão repousar até amanhã.

- Fico por deveras agradecido. – E a porta se abriu um pouco mais, para que eles pudessem entrar. O velho não tirava os olhos de Miguel:

- Seu amigo não sabe falar?

- Como eu disse, ele não é daqui, é estrangeiro, não entende nossa língua. - respondeu. – Sei que o deve estar pensando que ludibriaria um sujeito de tão tamanho e porte, mas é que ele é manipulável. – E dá um tapa na cabeça de Miguel. – Vê, ele não liga. – Dando um sorriso para o primo, que retribui com outro. Quando o senhor vira de costas para ambos, Miguel dá um safanão no primo, que quase beija o chão:

- Dá próxima vez que fizer isso, vai dormir por três dias. – cochichou, entre os dentes. Seguiram atrás do senhor, que passou por trás de um balcão e tirou uma chave:

- Aqui está. É o primeiro quarto, assim que subirem as escadas. Fiquem a vontade...

- Sinto não ter como pagar pelo quarto! – exclamou Joshua.

- Sem problemas, meu filho. Acordarei vocês assim que o dia raiar. Tenham uma boa noite e descansem. – E os dois subiram as escadas. Assim que entraram no quarto, viram duas camas:

- Assim não brigaremos para ver quem dorme no chão. – argumentou Miguel.

- Fique quieto. – ressaltou Joshua. – Já não basta ter cochichado, agora fala em alto e bom som?

- Ih, fica calmo, Joshua. É só um casal de velhos, acha que vão conseguir ouvir alguma coisa aqui em cima?

- Vamos nos deitar, temos de partir o mais rápido possível, pois quanto mais tempo permanecemos aqui, mais encrencas nos meteremos. – Dormiram rapidamente e acordaram no outro dia com batidas na porta. Quando Joshua abriu, era o dono do hotel:

- Então, prontos para o café da manhã?

- Obrigado meu bondoso senhor, vou acordar meu amigo e já encontro com o senhor lá embaixo. – O dono do pequeno hotel saiu, com um sorriso no rosto. Quando Joshua fechou a porta, foi até o primo que babava sobre o travesseiro:

- Miguel, anda. Acorda, precisamos descer para irmos.

- Mais uma hora. Hoje eu não tenho a primeira hora.

- Lógico que não, demente, pois nem no futuro nós estamos. – Miguel levantou como de um pesadelo:

- Carai, quase esqueci. Que horas são?

- Tá cedo ainda, mas acredito que eles devem sempre madrugar. – Se aproxima da janela. – Está vendo, o sol nem saiu ainda. Melhor descermos, eles estão nos esperando... Por favor, Miguel, ponha as roupas. – Falou Joshua assim que o primo levantou, nu.

Assim que Miguel se vestiu, os dois desceram e encontraram uma mesa repleta de comida, quando se sentaram, o casal saiu da cozinha, carregando um bule de café e outro de leite:

- Que bom que desceram. – Disse a senhora, parecendo animada. – o bolo está fresco, podem se servir. De onde vocês dois são?

- Eu sou desta região mesmo, o meu amigo veio de fora do país, dos Estados Unidos.

- Sei. – Disse o senhor, enigmático. – A não ser que vocês estejam fugindo de algo, não precisam manter essa mentira. Eu ouvi vocês dois conversando normalmente ontem, então não há motivos para permanecerem com essa mentira.

Joshua parecia perplexo, mas se virou enervado para Miguel:

- Eu te falei para ficar quieto.

- Ah, qualé Joshua! Menos mal que eles saibam quem somos, pelo menos não precisamos ficar nos escondendo.

- Seu modo de falar é peculiar, meu jovem. Começo a acreditar que teu amigo está certo, quando diz que és estrangeiro.

- Desculpe-o, meu bom senhor! – retrucou Joshua, enquanto se servia de uma xícara de café. – É que somos de bem longe mesmo e estamos aqui numa missão, precisamos reencontrar alguns parentes nossos.

- Fico deveras aliviado, meu jovem. Fiquei a imaginar se não seriam desertores ou algo parecido. Mas pelo bom trajar de suas vestes, pensei que pudessem até serem caixeiros viajantes. Mas estes parentes, residem aonde?

- Ao norte do estado, meu senhor.

- Norte do estado? São então descendentes dos italianos? – Joshua sentiu seu rosto queimar de arrependimento, pois percebeu que cometera um grave erro. – Não fique avexado, meu jovem. Também sou descendente de italianos. Nestes tempos de guerra, é raro encontrar pessoas dispostas a revelar suas origens, ainda mais após o incidente. Pobre rapaz!

- Fala do professor? – perguntou Miguel, para surpresa de Joshua.

- Exato jovem. Aquela embarcação que explodiu foi um destino cruel para o rapaz, mas a revolta e o desejo de vingança que assolou a mentes do pessoal daqui, foi ainda pior. Muitos descendentes de italianos e alemães tiveram suas lojas queimadas ou apedrejadas. Perdemos muitos fregueses e por várias vezes pensamos em retornar para o norte, só que não temos mais nada por lá, tudo nosso foi investido nesta pensão. Nossos filhos estão crescidos e possuem suas próprias vidas, então preferimos permanecer por aqui.

- Meu avô sempre dizia que a família é para isso, apoiar um ao outro. – Retrucou Miguel. – Se os seus filhos são sua herança, eles saberão acolhe-los.

- Seu avô era um sábio. Onde ele nasceu?

- Calábria.

- Eu era muito jovem quando chegamos, mas somente me lembro de três famílias calabreses, os De Rosa, Spina e Pirillo, de qual deles vocês são? – Joshua percebeu que Miguel poderia simplesmente causar-lhes mais problemas e interveio:

- Nosso nonno não veio junto com a grande imigração no século XIX. Ele chegou depois e conheceu nossa nonna, que é toscana, da família Gentili.

- Ah sim, também somos de Toscana, tanto eu quanto minha esposa. Nossa família se mudou para a mesma região, éramos vizinhos. – Miguel chega ao pé do ouvido do primo e cochicha:

- Esse papo ta didático demais pra mim. – Percebendo os dois de segredo, o dono da pousada fala:

- Há algum problema?

- Não. – Retruca Joshua, olhando com severidade para Miguel, que concorda com a cabeça. – Sempre é bom saber de nossas origens. Então possivelmente deve ter conhecido nossa nonna.

- Sim, é possível, mas não pretendo prendê-los mais com lembranças de pessoas velhas. Vocês precisam seguir viagem, mas tomem mais cuidado com trotes. Tiveram sorte de não perderem a roupa do corpo. – Sentindo o rosto ruborizar, Joshua com concordou com a cabeça, sem tirar a xícara de café de perto da boca.

Agora leia a Segunda Parte e depois a Terceira Parte.