Durante anos eu fui um leitor ferrenho de romances de ficção e um desses foi O Alquimista, de Paulo Coelho.
Eu era um assíduo leitor de Paulo Coelho, que comecei a ler graças a minha amiga Daniella Navarro, mas deixei de lado tem ano. Só que, a influência de O Alquimista foi grande na minha vida. Então, determinado dia, decidi escrever o conto que vocês lerão abaixo (com algumas modificações, pois eu reescrevi ele). Boa leitura!
O Pastor
Um jovem pastor sempre conduzia
suas ovelhas do campo para a cidade mais próxima, onde ele tosquiava e vendia a
lã delas. Isso garantia sua sobrevivência por uma longa parte de seu ano, até a
próxima safra. Na cidade, ele já se supria de mantimentos para sobreviver ao
inverno. No mercado, sempre quem lhe atendia era a filha do dono. Uma jovem de
beleza contagiante e um sorriso de despertar o coração do mais frio guerreiro.
Ela sempre o tratava com afago e carinho, sempre lhe perguntando como estavam
os anhos e se o seu rebanho tinha dado lá o suficiente para seu sustento.
A preocupação da jovem parecia
tão legítima, que o jovem pastor estava encantado com ela. O senhor que tosquiava
suas ovelhas e carneiros era seu único conhecido na cidade. Ele não o chamava
de amigo, pois não tinha um laço mais próximo com aquele homem, mas era com
quem conversava enquanto ele trabalhava. Sempre perguntava ao senhor se ele
conhecia algum pretendente para a jovem filha do dono do mercado, e a resposta
era sempre a mesmo, não, pois os homens ficavam surpresos e perplexos com a
jovem, devido sua capacidade de articular e isso os intimidava.
O jovem pastor não se sentia
intimidado, mas era tímido demais para abordá-la.
Certa vez, enquanto desfrutava de
um pouco de schrobbeler[1]
e uma fatia de pão com queijo de cabra e um pedaço de salame, na praça da
cidade, enquanto esperava o tosquiar de suas ovelhas e carneiros, o jovem
pastor desfrutava da leitura de um livro que ele sempre carregara com ele. Já o
havia lido inúmeras vezes àquele livro, mas era sua única distração durante o pastoreio,
nas noites do campo em que passava. Ao seu lado estava seu fiel amigo, um
pastor holandês, que sempre o acompanhava e cuidava das ovelhas e carneiros,
enquanto ele descansava. Então ouviu uma voz doce questioná-lo sobre o nome do
animal. Ele levantou a cabeça do livro e viu o admirável e maravilhoso
semblante da filha do dono do mercado. Aos raios do sol tardio, ela era ainda
mais admirável. Sua pele alva, brilhava à luz do sol. Seus olhos pareciam duas
pedras de topázio azul das mais lindas e seus cabelos negros reluziam de forma
hipnotizante e, quando ela os mexia, exalava o mais inebriante odor de tulipas
na primavera. Ela se sentou ao seu lado e antes que pudesse dizer o nome do seu
companheiro, ela perguntou o que ele lia, então ele lhe permitiu que ela visse
o título do livro. Mesmo com a capa desgastada do tempo, ela viu e se admirou,
pois já havia lido àquele livro. Ela então falou de outros livros que lera, pois
seu pai lhe dava tal liberdade, coisa que outras moças não tinham.
Como mercador, seu pai tinha de
viajar as outras cidades e negociar com as pessoas as mercadorias para vender e
ele sempre trazia um livro para ela, o que a fazia ter um conhecimento amplo
sobre várias coisas. Ele já tinha lido desde romances de ficção até livros mais
didáticos. O jovem pastor não entendia nada do que ela dizia, mas estava
admirado demais para dizer que era leigo nos assuntos que ela tanto proferia.
Só pensava em se casar com ela e criar uma família.
O fim da tarde chegava e a jovem
então se despediu dele, beijando sua face de forma graciosa. O rapaz estava
interessadíssimo nela e, quando voltou ao seu conhecido para pegar o dinheiro
da lã, este disse que observou aos dois. Falou que ele tinha sido o primeiro a
dar total atenção à jovem, pois nenhum outro ousara algo assim. O jovem pastor
não sabia o que dizer, então pegou o dinheiro, alugou um quarto para passar à
noite e, após as compras, partiria cedo.
No outro dia, foi ao mercado, mas,
pela primeira vez, quem o atendeu foi o dono do mercado, pois a jovem ainda
repousava. Comprou seus mantimentos, alugou uma carroça para levar as compras e
partiu. Não esperava a hora de poder voltar para a cidade, pois pretendia
propor algo à jovem.
O ano passou. Como o jovem pastor
era sozinho e a maior parte do seu suprimento era alimento que perdurava doze
meses, além da ração para seus caprinos e comida para seu cachorro, ele não
precisava retornar à cidade. Quando chegou a época do tosquiar de suas ovelhas
e carneiros, o rapaz então, ansioso, voltou à cidade, mas algo estava
diferente, pois as ruas estavam vazias. Quando chegou no local para tosquiar
suas ovelhas e carneiros, o seu conhecido também não estava lá. Como tinha
liberdade para poder deixar seus caprinos em um cercado, ele o fez e se dirigiu
ao centro da cidade, onde uma grande aglomeração estava saindo da igreja local,
pois um casamento estava ocorrendo ali. Ao chegar mais, perto pensando que
aquele seria o local ideal para dizer à jovem filha do dono do mercado o que
sentia, ele a viu saindo da igreja, de vestido de noiva, com um homem bem-apessoado
ao lado. Era um homem mais alto do que ela, com a pele bronzeada, forte e com
aparente vigor. Ouviu comentários que diziam que a moça dera sorte, pois casara-se
com o filho de um grande fazendeiro, que tinha uma grande produção de leite e
vendia para fora do país, até. Mas o jovem não se importava com aquilo, somente
olhou para o sorriso no rosto dela e o sorriso no rosto dele e pensou que ali
poderia estar ele.
Amoado e triste, o jovem pastor
foi para a praça central e testemunhou, a distância, a jovem saindo com seu
esposo em uma carroça com uma comitiva logo atrás, indo à festa que estava
planejada. Sabia que não teria como sair dali naquele dia, pois precisava do
dinheiro do aparo de suas ovelhas e carneiros para passar mais um ano. Sentou
no banco da praça e ficou ali, remoendo seus sentimentos, somente tendo seu
cachorro como companhia. Pensou até em alugar um quarto para ficar distante
daquilo tudo, mas pensou que a dona da pousada também deveria estar naquela
comitiva para a festa. Então, de repente, ouviu uma voz que lhe perguntou por
que não participava dos festejos do casamento.
A jovem, que estava à sua frente,
também tinha a pele bem bronzeada, os cabelos eram cachos amorenados que caíam
sobre seus ombros. Suas vestes eram diferentes das vestes que estava acostumado
a ver das jovens que ali perambulavam. Ela se sentou ao seu lado e voltou a
questioná-lo, então ele lhe disse que não havia motivos para festejar, pois a
jovem que se casava era a mulher com quem ele pretendia se casar. Então a jovem
lhe questionou se ela sabia disso, e ele disse que não. Aquela conversa o
estava aborrecendo, pois desejava ficar ali, com sua própria raiva. A moça
então lhe disse que ela também não tinha motivos para comemoração, pois o rapaz
era um prometido dela. Eles haviam jurado que um dia se casariam, mas quando o
pai dele enriqueceu com as vendas de leite das vacas que tinha, esqueceu dela.
Há cinco meses ele havia conhecido a filha do dono do mercado e ambos iniciaram
algo que terminou naquele casamento.
A jovem lhe contou que a família
dela tinha carneiros e ovelhas, mas não prosperava como a família do homem que
se casava naquele dia. Então o jovem pastor também disse que tinha ovelhas e
carneiros e estava na cidade para poder tosquiá-las. Então uma conversa se
iniciou entre ambos que perceberam ser muito parecidos entre si. Quando sentiu
vontade de comer, o rapaz tirou seu pão com queijo e salame, oferecendo um
pedaço à jovem, além de um cálice de licor adocicado, e ambos apreciaram juntos
e continuaram a conversa.
O final da tarde chegou e o jovem
pastor achou que passou muito rápido. Viu que as pessoas já retornavam para
suas casas e, antes de se despedir, pediu à jovem que o encontrasse no outro
dia, ali na praça. Ela não entendeu a proposta, mas aceitou o convite.
No dia seguinte, a jovem o encontrou, como combinado, e então ele lhe explicou que sua vida era complicada, pois ele morava distante e somente voltava uma vez ao ano para a cidade, mas que queria conhece-la melhor. Então pediu que ela o esperasse, pois ele gostara muito dela e não queria perde-la. Os olhos esverdeados da jovem pareciam duas jades brilhantes e ela disse que sentia o mesmo por ele e que sim, o esperaria. Então ela o beijou suavemente no rosto e partiu. Agora o jovem pastor tinha que ir até o seu conhecido para o tosquiar de suas ovelhas e carneiros. Lá ele perguntou sobre a família da moça que conhecera e o homem explicou que eles eram pessoas humildes, mas lutadoras e batalhadoras, como ele. O homem viu um brilho nos olhos de esmeraldas do rapaz e sabia que ali era nutrido uma esperança. Depois de pagá-lo, o jovem foi ao mercado e o dono lhe atendeu, fez suas compras e partiu, esperançoso que no próximo ano teria sua futura noiva à espera.
[1] Schrobbeler
- licor condimentado holandês adocicado e herbário. Tem gosto de alcaçuz como
um aviso para aqueles que não gostam desse sabor.