Joshua é um estagiário no laboratório de ciência da universidade. Seu trabalho com o professor Fred é o de anotar e digitar as frações escritas no “quadro negro”.
O professor Fred possui o típico ar de cientista maluco, cabelo desgrenhado, barba sem fazer e olheiras mais escuras que seus olhos, que tinham aparência de intensa atividade, como se tivesse tomado doses cavalares de café, coisa que ele comumente fazia. Joshua já aparentava ser o tipo de “inteligente e tímido”. Óculos de aros de metal focavam sua hipermetropia, seus cabelos tinham um corte comum e estavam sempre bem penteados, com gel, para reter os fios rebeldes. Seus olhos apesar de não enxergarem bem a longa distância, eram bonitos, combinando com a pigmentação capilar, castanho-claros. Quando Joshua chegava ao laboratório e via o estado de seu mentor, prometia a si mesmo nunca ficar daquele jeito. Baseando-se em filmes e seriados, os estudos do professor Fred eram sobre viagens sobre portais, fossem dimensionais ou do tempo, o que ele queria era provar que as teorias sobre estes movimentos eram possíveis. A verba fornecida para este tipo de pesquisa era inexpressiva, pois ninguém achava viabilidade de aquilo existir ou mesmo uma utilidade para adentrar em outros mundos, fossem eles paralelos ou no passado ou no futuro. Seguindo teorias de física quântica, Fred fazia inúmeros cálculos, baseados em fracionamentos infinitos. Às vezes, seu discípulo e aluno o ouvia mencionando nomes com Heisenberg, Planck, Bell e Einstein. O fascínio de Joshua vinha da mesma motivação de Fred, por isso ele continuava, sem receber nada, também era estagiário.
Certo dia, Joshua ajudou Fred a construir algo que parecia um portal, intrigado, o interrogou:
- Professor, qual o objetivo algo tão cheio de fios e placas, em tamanho menor?
- Por que está perguntando isso, Joshua? – retrucou o professor. – Por acaso, não está se baseando que tamanho importa, não é? – Envergonhado, Joshua balançou a cabeça. Afirmativamente. Ignorando isso, Fred continuou:
- Se for isso, lhe falo que de acordo com a Mecânica Quântica, é completamente possível um corpo evoluir em energia distinta e ultrapassar este portal, chegando ao outro lado e retomando sua forma, sem prejuízos aparentes. Poderíamos até encaminhar dois corpos juntos, pois eles possuem características únicas, cada um, mesmo os inanimados. A energia quântica é indivisível, e quando gerada a energia fotônica correta, a onda de radiação eletromagnética age sobre os elétrons. Quando menor a onda, mais precisa ela é, atingindo o corpo e transformando em energia capaz de atravessar o portal. Agora com licença, porque preciso de um local isolado para não causar um buraco negro instável. – E olhou diretamente nos olhos cor de mel de seu estagiário, que deu um sorriso de compreensão, sem nem entender o que tudo aquilo queria dizer. Joshua relaxou a cabeça sobre o pescoço, e a balançou afirmativamente, fazendo o queixo bater no tórax.
Nos dias seguintes, após Fred esvaziar o seu escritório e colocar a mobília para fora, ele entrava e saía constantemente, sempre carregando algo para dentro da sala. O objeto que o professor denominou interportal, não saía da sala e somente ele podia entrar. Vez ou outra entrava com cadeiras ou frutas. Um apareceu com a porta do próprio carro:
- Preciso testar com objetos maiores. – disse ao léu. – Não posso somente trabalhar com frutas e cadeiras. Era estressante vê-lo entrar e sair da sala, até que um dia ele parou, pediu a Joshua seu gravador, um aparelho velho, aparentando uma caixa de sapato, com botões, onde ele gravava tudo, com fita cassete, e quando o pegou, começou:- Os testes aparentam ter um relativo sucesso. Tudo que é posto em frente do Interportal, parece ser tragado por uma onda que transforma a massa em energia concentrada. No último teste, coloquei um porta de carro – meu carro -, junto com uma banana e ao ativar o interportal, as duas massas se tornaram energias distintas e foram drenadas pela passagem, mas surge um problema, não tenho como saber se a matéria mantém mesmo sua integridade , já que os objetos inanimados não retornam pelo portal. Procurarei o centro veterinário para ver se eles me doam um animal adestrado, para meus testes, só não sei se eles farão a doação. – desligou o aparelho e entregou de volta a Joshua. Quando ele ia guardar o gravador pesado, teve sua atenção chamada para a porta do laboratório. Era Miguel, primo de Joshua.
Miguel possuía um porte atlético impressionante. Mas além de grande atleta, ele era um aluno dedicado, mesmo não chegando ao desempenho intelectual de Joshua, tanto que precisou de sua ajuda para estudar pro vestibular. Fez Educação Física, além de se tornar um exímio atleta da universidade, se destacando em ginástica olímpica, que faz desde os doze anos.
As visitas de Miguel sempre eram esperadas, pois era o alívio de Joshua em meio de tantas fórmulas e cálculos:- E aí já descobriram o wormhole? – esta era sempre a piada de entrada do Miguel. No começo, Fred se preocupava em respondê-lo, mas com o passar do tempo começou a ignorá-la, pensando que um dia ele poderia parar com aquilo, mas por conta da cara que sempre fazia, Miguel dificilmente pararia. Só que naquele dia algo estranho aconteceu:
- Ainda bem que você chegou Miguel. Faça companhia ao Joshua, enquanto vou ao Centro Veterinário, ver se eles me emprestam um de seus animais adestrados, se eles tiverem. – aquela era uma demonstração esquisita de confiança de Fred, ainda mais com Miguel. Pela primeira vez, o atleta ficara sem fala, mas assim que o professor sai da sala, olha sinistramente para seu primo:
- Primeira chance em semanas que teremos para ver como funciona o brinquedinho do...
- Não é um brinquedo, Miguel, é uma ferramenta de estudos...
- Ei, quem usou este termo, há duas semanas atrás, foi você mesmo: - “O professor Fred está criando um brinquedinho, cheio de fios e peças”... – Miguel fala, tentando imitar a voz do primo.
- Eu falei aquilo antes de ler e ouvir os resultados das pesquisas do professor Fred, Miguel. É incrível o que ele tem feito com o Interportal...
- É, mas isso não quer dizer que não possamos dar uma olhada e brincar um pouco. – anunciou Miguel. – O que é mesmo que ele usa? Frutas? Vamos lá, eu levo o abacaxi e você leva... Esta banana.
Mesmo meio receoso Joshua acompanhou o primo, temendo que ele estragasse o Interportal.
Entraram na sala, onde só havia uma mesinha de cabeceira e sobre ela, estava o pequeno objeto:
- Como a gente faz? – perguntou Miguel.
- Acreditamos que posicionamos a fruta na frente do Interportal, nos dirigimos para trás dele e o ativamos...
- Mas por que não podemos ficar na frente, para ver onde isso vai dar?
- Por causa da força de atração. O Interportal gera um pequeno buraco negro, que transforma matéria em energia. Vamos colocá-los aqui – falou Joshua, colocando a banana. – e deixar serem atraídos pela onde de energia quântica. Vem comigo... – os dois se posicionaram atrás do objeto, quando Joshua o ativou. Uma energia quase cegante foi a primeira coisa a acontecer, depois, como se toda a luz fosse atraída, um enorme breu tomou conta do ambiente:
- Não consigo enxergar nada. – reclamou Miguel. – To sentindo muito frio.
- É assim mesmo. – respondeu Joshua, com uma incerteza. – Depois tudo se estabiliza.
De repente, dois pequenos feixes de luz pareciam vir na direção deles, atravessando uma luz esbranquiçada, que parecia sair do umbigo deles:
- Fodástico! – exclamou Miguel, saindo do lado de Joshua. – Vamos ver como é isso...
- Não Miguel, - gritou Joshua. – enquanto o portal estiver ativado, qualquer matéria pode ser convertida e atraída.
- Que nada, olha só o tamanho desta coisa e o nosso tamanho. Nem que quisesse seríamos transformados em esferinhas de energia. Vamos lá! – E foi para frente do aparelho, impetuosamente. Assustado com a atitude desmedida do primo, e tentando segurá-lo, Joshua foi puxado para frente. Sentiu um formigamento no umbigo e ou viu o primo xingando:
- Que merda é essa? O que tá acontecendo comigo, Joshua...? – E a voz de Miguel se perdeu. Um clarão cegou Joshua e sentiu-se desmaiando.
Quando acordou, estava deitado sobre uma região árida, o solo mostrava rachaduras disformes. Sentiu seu estômago revirar e vomitou todo o almoço:
- Eca, o que você comeu hoje, feijoada? – reclamou Miguel, que estava sentado ao seu lado. Ele parecia ter levantado a pouco, estava pálido e uma poça, que começava a ser drenada pelo solo, só restando pedaços de comida, estava ao seu lado. Miguel então se levantou, bambeou um pouco, mas não cedeu. Joshua preferiu ficar ali, sentado, tentando entender onde eles estavam.
- Então, não vai levantar.
- Você percebeu o que aconteceu conosco? – argumentou Joshua, nervoso.
- Lógico, viajamos no tempo. Devemos estar em algum ponto do futuro, ou do passado...
- Estúpido. – Esbravejou Joshua. – Você é um estúpido e ignorante, Miguel. Como pode afirmar que viajamos no tempo? Isso aqui não é filme ou seriado. Não temos certeza se viajamos no tempo ou se atravessamos a barreira do multiverso ou se passamos para outra dimensão...
- Ei, calma aí. Posso até ser estúpido, mas tenho ciência que em outra dimensão não estamos. Você sempre falou da improbabilidade do corpo...
- da matéria... – interrompeu Joshua.
- Isso, da matéria conseguir sustentabilidade em outras dimensões, certo? - questionou, por final, Miguel. Joshua o encarou e pensou: - “ele decorou cada palavra que eu disse”, encarou o chão, balançou a cabeça e levantou encarando o primo, um pouco mais calmamente:
- Sim, você está certo. – Naquele momento Joshua se lembrou que sempre contava ao primo tudo o que acontecia no laboratório. Ele sempre dava atenção ao que ele tinha a dizer, e sempre perguntava o que não entendia. As vezes questionava sobre o professor Miguel ser um maluco, mas naquele momento, Joshua desacreditava disso, completamente. Apoiou as mãos no chão, intencionando levantar. – Acredito que possivelmente atravessamos a barreira do multiverso, o que é fantástico, comprovando a existência de outros universos, talvez uma infinidade deles, como as galáxias e os planetas, talvez...
- Joshua, você está divagando. – Comentou Miguel, chamando a atenção do primo e dando-lhe a mão, para ajudá-lo a se levantar. – Vamos, é melhor tentar descobrir explorando do que ficar divagando, balbuciando.
- Você está adorando isso, não é? – Disse Joshua, aceitando a ajuda do primo, que somente deu um leve sorriso, no canto do lábio. Eles se limparam da poeira vermelha e começaram a rodar no próprio eixo, tentando observar onde estavam. O céu era alaranjado, com um sol esbranquiçado, iluminando o local. Seu brilho era forte e ele parecia maior, o solo era vermelho, criando um leve contraste com a imensidão espacial a volta deles, era seco e com nervuras sem fim, era um terreno inóspito. Para onde olhassem não encontravam um traço de civilização:
- Apesar da dimensão da estrela regente, a temperatura não é tão alta. O ar é respirável, então acredito que fomos enviados a um ambiente com capacidade de sustentabilidade igual ao da Terra...
- Dãããã... Se estamos vivos e respirando, com certeza que fomos. Mas tem outro porém, será que eles falam o mesmo idioma que nós?
- Difícil dizer, enquanto não encontrarmos nativos. Digo isso por conta do ambiente, que apesar de desértico, é estável para criação de vida inteligente. Se tivermos mesmo viajado pela barreira do multiverso, poderia ser como do outro lado do espelho...
- Como é que é?
- Alice no País dos Espelhos, lembra? Vovó chegou a ler para nós. Alice viajava através do espelho, para um mundo onde objetos inanimados ganhavam vida.
- Então podemos estar em um lugar que uma priva cuspiria na gente? – indagou ironicamente, Miguel.
- Não é isso! O que eu quero dizer é que em um lugar além da nossa compreensão. Provavelmente eles nem falam nenhum dos idiomas conhecidos por nós.
- Bem, – disse Miguel, decididamente. – ou ficamos em indagações ou procuramos provas. Vamos nessa... – e começou a andar, quando se interrompeu, por perceber que Joshua não o seguia. – E aí, vamos ficar fingindo ser estátuas?- Não é isso! O que eu quero dizer é que em um lugar além da nossa compreensão. Provavelmente eles nem falam nenhum dos idiomas conhecidos por nós.
Joshua parecia indeciso. Era a chance dos sonhos de qualquer cientista, um lugar a ser explorado, mas ao mesmo tempo, se sentia culpado por ter agido sem autorização do seu professor:
- Não sei Miguel, Fred pode chegar ao laboratório há qualquer momento, isso se ele já não chegou, pois não temos idéia de há quanto tempo estamos aqui. Acho melhor esperarmos pelo caminho de volta ser apontado...
- Convenhamos Joshua, nem você se existe mesmo um caminho de volta. Melhor procurarmos algum tipo de civilização, pois como você mesmo disse, não sabemos a quanto chegamos e se escurecer...
- A estrela está muito acima, na imensidão alaranjada...
- Mesmo assim... – continuou Miguel, nervoso. – Ficarmos parados, esperando sermos encontrados, pode nos levar a sede e a fome. Se procurarmos habitantes, temos a chance de nos alimentar. – Por mais que não quisesse admitir, Joshua sabia que Miguel estava certo. Sem nada para argumentar, acompanhou o primo.
Andaram por muito tempo. Miguel se lembrou que estava com seu telefone móvel, mas quando o pegou, viu que não estava funcionando:
- Nem sempre dispositivos eletrônicos sobrevivem a qualquer descarga de energia, por isso pedem para não deixar telefones móveis perto de fornos microondas em funcionamento. Ainda bem que você não está com seu relógio de pulso, senão seria uma perda em dobro.
- Assim parece até Julio Verne no livro Viagem no Tempo... – Joshua dá uma gargalhada. – Do que você tá rindo?
- Do seu conhecimento literário. Primeiro, Julio Verne escreveu Viagem à Lua e Viagem ao Centro da Terra e segundo, o nome do livro é A Máquina do Tempo e o personagem não tem nome. Este livro foi escrito por H. G. Wells, o mesmo que escreveu A Ilha do Dr. Moreau e A Guerra dos Mundos...
- O filme com Tom Cruise? – percebendo o que falara, Miguel acompanhou Joshua no riso. Pararam assim que sentiram um leve tremor no solo seco, forçaram um pouco as vistas, devido ao brilho intenso da estrela, e viram algo que parecia uma carroça:
- Bem, pelo menos eles descobriram a roda. – argumentou Joshua. Miguel olhou-o estranhamente, com um leve sorriso nos lábios. – Quê? Eu também sei fazer piadas, só não sei contar anedotas.
- Vamos tentar chamar a atenção dele! – falou Miguel, ignorando o comentário humorado do primo, e então os dois começaram a gritar e balançar os braços no alto, se dirigindo ao veículo. O animal, que parecia um cavalo robusto, grunhiu assustado e o homem que guiava a carroça, não entendendo nada, puxou um instrumento, que parecia ser um facão feito de pedra. Apontou na direção dos dois, fazendo-os abaixar os braços:
- Hey, take it easy, sir! – falou Miguel, num inglês arranhado.
- Por que o inglês? – retrucou Joshua.
- Oras, porque é praticamente o idioma universal. – Só que o homem não pareceu entender e esbravejou palavras incompreensíveis para ele, descendo da carroça, munido de sua arma:
- Bem, acredito que não seja o idioma daqui! – indagou Joshua. – Senão conseguirmos nos comunicar, vai ser difícil... – então, Joshua sem avisar, caiu de joelhos no solo rachado.- O que você está fazendo? – perguntou Miguel.
- Simbolizando. – argumentou Joshua, esticando os braços com as mãos abertas e as palmas viradas para cima. Sem mais o que questionar, Miguel tomou a mesma atitude.
Mesmo sem entender o porquê daquilo, Ocit compreendia um sinal de rendição. Nunca fora para uma batalha, preferia a aragem a campos de guerra, mas já se deparara com dissidentes, fugitivos e feridos de guerra, que quando eram de outros povoados e não falavam o mesmo idioma, eles agiam quase igual àqueles dois. Ele desceu de sua carroça, deixando seu oacaf no banco:
- Es metnavel! – disse, encostando a mão no ombro do mais franzino, que se ajoelhou primeiro. Joshua considerou a dicção compreensível, não se parecia com os grunhidos que ouviram antes, mas não compreendia o idioma. Com o raciocínio centrado nos idiomas que conhecia, tentou compreender a língua.
Joshua era um árduo filólogo, só que era autodidata, já que não existia o curso na sua universidade. Fazia parte de um grupo de estudo de esperanto, fez cursos de espanhol, inglês, alemão e francês – os únicos disponíveis nos cursos de idiomas de sua cidade – e procurou por vários outros idiomas pela internet, sempre com um raro sucesso. As vezes ia a consulados, para aprender na marra, os vários tipos de escritas e falas:
- Es etnavel ?! – disse Ocit, agora segurando no braço de Joshua na intenção de erguê-lo. Como se sua mente se iluminasse, Joshua disse:
- De trás para frente!... – E começou a se levantar, fazendo gesto para que Miguel fizesse o mesmo.
Em pé, Joshua percebeu o quanto o nativo era pequeno, batendo no seu ombro:
- O que você disse? – indagou Miguel.
- Peraí, deixe-me ver como falo isso: - “Joshua é enom uem!” – disse, pensando em cada sílaba.
- Ocit é uem o! Mêv sêcov edno ed? – Ocit falava agilmente, o que dificultava o raciocínio de Joshua. Sem compreender, Miguel interferiu:
- Como você sabe o que ele está falando?
- Peraí Miguel, preciso raciocinar o que ele disse. “De on-de vo-cês vêm?”, acho que é isso...
- Pára tudo! – esbravejou Miguel. – Você entende o idioma dele?
- O idioma dele é o mesmo que o nosso, só que invertido, como palavras no espelho. – fazendo um leve esforço para saber como falar, Joshua disse:
- Egnol ed... O-je-raliv ves oa ra-vel son a-i-re-dop? Ufa, essa foi difícil! - Entendendo o que o jovem dizia, Ocit, no seu modo de falar invertido, disse:
- Sim, subam na parte detrás da carroça que eu os levarei. – Aquela frase foi um tormento para Joshua, tanto que cutucou Miguel, para que pudesse ajudá-lo. Compreendendo a dificuldade dos rapazes, Ocit apontou para a carroça, então eles entenderam e envergonhados, foram para a parte detrás:
- Como eu ia saber que açorrac é carroça...? – resmungou Miguel.
- Raciocínio invertido, Miguel. – respondeu Joshua. – Eles falam nosso idioma, mas de forma invertida. É português, ao contrário.
- Nossa, que sorte encontrarmos uma pessoa que fala nosso idioma, ao contrário... – falou Miguel, tonalizando incerteza e ironia. – Qualé, Joshua, essa foi forçada.
- Você é uma anta mesmo. – retrucou Joshua para o primo cético. – Isso faz parte de uma continuidade. O ambiente se altera, mas o local não. Se estivéssemos na Inglaterra, por exemplo, possivelmente encontraríamos a língua inglesa invertida. Se situa, Miguel. – Aquela foi a gota d’água para o jovem robusto, que ele deu soco forte no braço do primo:
- Ai! Por que isso?
- Você pára de me chamar de estúpido e anta! Não sou obrigado a ter o mesmo conhecimento que você dessas coisas. – Daí então ficaram sem se falar, o que foi um alívio para Ocit, que não entendia nada do que eles tagarelavam.
A Segunda e a Terceira partes já estão disponíveis. Boa leitura!
4 comentários:
Você consegue detalhar os personagens de modo objetivo, o que me chamou atenção foi o vocabulário despojado... interessante...
Muito bom! O Miguel parece ser mais inteligente do aparenta!
Ansioso pela próxima parte!
A intenção Luciana é não seguir padrões literários de liguajar coloquial. Estamos falando de dois jovens, estamos falando da atualidade. Como bom leitor de quadrinhos - e eles trazem uma linguagem mais despojada -, eu sigo o mesmo caminho.
O Miguel ainda vai demonstrar muito mais conhecimento do que imaginamos. O grande lance dele é a curiosidade, a busca. Em breve terei mais uma parte!
Postar um comentário