Esta história que eu inventei, foi nos verões que passava com meu irmão e meus primos em Piúma, litoral sul do Espírito Santo, que é uma zona rural. Eu criei depois de assistir O Jardim Secreto (1993) e tentei criar uma lenda urbana sobre um pomar e, sempre que podia, contava aos meu primo Attila e meu irmão, Armando Junior. Lógico que dei uma reformulada na história, mas a ideia permaneceu. Esperem que gostem!
Esta é uma história que contavam
na região rural, ao sul do Espírito Santo. Dois irmãos e seu primo, todos os
verões, iam para uma cidadezinha bem rural. O primo destes dois irmãos tinha
uma casa, que conseguia hospedar, praticamente, toda a família deles. Mas os
três eram como unha e carne. Iam para o rio tomar banho, jogavam bola no areal,
perto da casa e iam, caçavam passarinhos juntos, pescavam juntos e iam a chácara
da vizinha desfrutar do farto pomar que ela tinha.
No pomar da vizinha tinha
laranjais, limoeiros, pés de carambola, goiabeiras, pequenos – mas fartos –
amoreiras, jamelões, fruta-pão, jaqueiras, cajazeiras, cajueiros, mamoeiros, cacaueiros,
ananás e abacateiros. Era uma grande variedade de frutas que ela permitia que
eles desfrutassem até certo horário do dia. Um dia, sentados em uma área atrás
da casa, se aquecendo perto do fogão de lenha em um dia chuvoso e desfrutando
das frutas que colheram antes, o mais velho dos três meninos perguntou porquê
não podiam colher frutas quando a noite caía e ela lhes contou:
- Quando éramos mais jovens, eu e
marido ainda namorávamos, decidimos entrar no pomar, à noite, para ficar longe
das vistas de nossas famílias. Foi um grande erro, pois o lugar ganhava vida
depois do surgir da lua. Sons tenebrosos podem ser ouvidos, as árvores parecem querer
te engolir. É o momento de descanso delas, então não é bom interromper.
Quando voltaram para casa, os
três comentavam da história que a dona do pomar contara. O mais velho se sentia
confiante, dizia não ter medo de nada. O irmão dele, tentava imitá-lo, mas
ouvia-se o tremular de sua voz. Já o caçula dos três não fingia a temerança e
não achava certo desafiar as recomendações. Então o mais velho o chamou de
medroso e disse que entraria naquele pomar na próxima noite e queria ver quem o
seguiria. Seu irmão, que o admirava, falou que iria com ele, mesmo com medo. O
primo deles não se sentia tão confiante para isso.
No outro dia, depois de jogarem
bola com os meninos da região, irem tomar banho no rio e pescarem, o mais velho
disse que naquela noite eles iriam entrar no pomar. De forma reticente, seu
irmão abanou a cabeça confirmando, já o primo caçula continuava incerto. Ao
cair da noite, eles perceberam que os mais velhos estavam na sala, conversando
e decidiram sair pelas portas dos fundos. Seguiram de cabeça baixa pela garagem
e, sem fazer muito barulho, saíram pelo portão.
Adentraram pelo portão de madeira
da chácara e ouviram o latido do cachorro que eles conheciam. Deram biscoitos
para ele ficar quieto e seguiram em frente. Quando estavam de pé no portal da horta,
o mais novo falou que dali ele não passaria e, novamente, o mais velho o chamou
de medroso e puxou seu irmão – que parecia querer desistir, também – para dentro
do pomar. Eles estavam de lanternas acesas, os três, mas o mais velho e seu
irmão foram tão fundo no pomar que o breu tomou conta do lugar, sem conseguir
enxergar o brilho da lanterna de seu primo. Então, de repente, sons guturais
começaram a ser ouvidos, os dois sentiram espinhos dos limoeiros arranhando
suas pernas e braços e, de repente, suas lanternas falharam. Do lado de fora do
pomar, o primo deles ouvia os gritos dos dois e se desesperou. Correu para a casa
de seus pais, chamando-os para irem ao pomar. Ele terminou acordando a dona da
chácara e seu marido. Percebendo o que tinha ocorrido, os pais dos meninos
foram até uma guarita, que ficava do outro lado da pista, no sopé de um morro e
chamaram os guardas para ajudarem nas buscas.
Os pais, o dono da chácara e dois
policiais, munidos de lanternas, entraram no pomar, mas estava muito escuro
para poderem ir mais fundo. No outro dia, bem cedo, antes de sair para a roça,
o dono da chácara entrou no pomar, para ver se encontrava os dois meninos
perdidos, mas nada achou, além de suas lanternas e o boné que o mais velho
usava. Ele levou o que achou até a casa do seu vizinho e entregou o que achou
para os pais. Inconformados com isso, chamaram várias pessoas para buscar pelo
pomar. Por dias procuraram, mas nada acharam.
Depois disso, ninguém nunca mais visitou o pomar. Ele se encontra abandonado, mas dizem que, à noite, ainda pode se ouvir os gritos assustadores dentro dele.
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