Você já brincou de casinha?
Você já brincou de casinha? Acredito que todo mundo já brincou – ou ainda brinca – de casinha, seja com a irmã, seja com parentes, sempre alguém é o pai, a mãe, os filhos e por aí vai. Eu posso dizer, com toda convicção, que já brinquei muito de casinha. Mas não com minhas primas, e eu nunca tive uma irmã, então praticava esse ato na escola mesmo, sempre no final das aulas, esperando minha mãe e meu pai chegarem, e como mais velho, era constantemente o pai.
A brincadeira consistia no seguinte: como pai, eu ia trabalhar e me despedia dos meus filhos (um casal de gêmeos que estudavam com meu irmão), do cachorro (que era o pobre do meu irmão) e da minha esposa (que era uma das filhas das donas da escola, sendo uma delas minha madrinha), que eu beijava – essa era a melhor parte.
Ir para a escola era um martírio, mas tudo valia a pena ao final do dia, quando brincávamos de casinha. O pior era ser pego pela minha madrinha, enquanto eu beijava sua filha, pois a unha dela era tão grande, que o beliscão doía na alma.
Eu fico pensando como isso seria visto hoje em dia. No mínimo meus pais seriam processados por eu assediar as meninas ou seria minha madrinha a processada, por ter me beliscado, mas com certeza não teria o mesmo tom ingênuo daquela época, quando um beijo de estalinho significava o mesmo que andar de mãos dadas.
Hoje, na minha idade, “brincar de casinha” tem um outro significado. É construir uma família, ter um trabalho para sustentá-los, uma casa para abrigá-los e um veículo para locomovê-los, mas na infância, quem disse que isso importava. O legal era chegar ao final do dia, ir ao balanço que representava o carro, olhar para os gêmeos e vê-los como meus filhos, observar meu irmão “de quatro” e acreditar que ele era o cachorro e ver as filhas das donas da escola como sendo minhas esposas a quem eu beijaria. Como era bom ser criança e brincar de casinha... Ou vai me dizer que você não gostaria de voltar a ser criança?
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