quarta-feira, 17 de julho de 2013

Prole – Quarta Parte

Caramba, desde 2009 que eu não publico uma continuação do conto – que está virando uma novela – “Em Busca do Conhecimento – Prole”. Também foram três anos de faculdade, que me exigiam tempo integral de dedicação, junto com meu trabalho, o que dificultou, e muito, alguma publicação ou mesmo escrever alguma parte a mais de Prole.

Para se orientar e saber um pouco mais, ou mesmo recordar (pois recordar é viver!), leiam a primeira, a segunda e a terceira parte novamente, antes de ler essa nova! Boa leitura para todos!

Colonos italianos chegando na Hospedaria de Imigrantes

Durante todo o almoço, Miguel parecia vidrado em Minerva, enquanto Joshua se entretia conversando com seu bisavô, que nunca conhecera, nem mesmo por fotos:

-... E quando nós chegamos aqui, eu ainda era uma criança de fraldas. Vim a conhecer Ceres quando estudávamos no primário. Ela veio a mim quando tínhamos dez anos e me falou: “Você será meu marido!”, parecia determinada e era isso que gostava nela. Quando crescemos, meus pais me enviaram à capital, para completar meus estudos, quando retornei, nos casamos e montamos família. Acho que é isso!

- Então o senhor é um legítimo italiano? Pensei que tivesse nascido aqui. – Retrucou Joshua.

- Não, meu jovem. Vim com minha família para a cá. Desembarcamos no Porto da capital e com uma enorme caravana, viemos para este lugar, onde fundamos a primeira colônia de italianos... Ah, agora precisarei traduzir para os nossos amigos italianos.

- Se non si preocupa, farei isso pelo senhor. – disse Giácomo, e enquanto ele falava com seu irmão e Miguel – que entendera, mas precisa continuar se submetendo a traduções -, Joshua permanecia a conversa com seu bisavô:

- Para mim, é simplesmente maravilhoso conhecê-lo. Meus avôs sempre falaram da chegada dos imigrantes no estado, mas nunca pensei que conheceria algum de vocês...

- Por que não? Tudo bem que foi no século passado, mas vieram muitas crianças com seus pais, então a possibilidade de vir a me conhecer e a minha esposa, além de muitos outros que aqui residem, era bem possível.

- É verdade. – Joshua disse, sem pensar. – Ainda bem que tive a idéia de virmos para cá.

- Eu pensei que haviam vindos para a cá, por causa de vosso primo. Pois ele queria saber para onde seus descendentes haviam vindos. – Percebendo que cometera um erro, Joshua enrubesceu, mas deu sorte, pois as filhas de Enéias haviam descido. – Ah, as flores da minha vida. Minerva, sabia que estes jovens falam inglês? – Com um belo sorriso em seu rosto, ela respondeu:

- Sim, eu percebi babbo. – Joshua e Miguel trocaram olhares, enquanto ela os observava. – Estou indo à casa de Cassandra, ver uns materiais de estudo. Será que alguns dos senhores poderiam fazer companhia a esta jovem dama?

- Minerva, sabe que não é certo... – Mas ela interrompeu o pai, falando em italiano.

- Il signore Miguel, mi poteva accompagnare, se non ti disturba? 59 – Miguel abriu um largo sorriso e se levantou, respondendo.

- Sarà un grande piacere di accompagnarla. – Olhou para Joshua, que aparentava reprovar, - Se tuo padre per permettere, naturalmente.60 – Terminou dizendo, olhando diretamente nos olhos de Enéias.

- È la non certezza, - viu que a filha lhe olhava com suplica. - ma se il desiderio di mia figlia, mi fido di lei, il signore Miguel. 61

Quando ambos saíram pela porta, Miguel perguntou:

- Dove questa è la casa della sua amica?62 - Parando a frente dele, Minerva lhe olhou com seriedade e falou, em inglês:

- I know very little of this language, but enough to understand that you are not here! 63

- I do not know what you're talking about! 64 – Respondeu Miguel, virando as costas para Minerva. Ela andou graciosamente para frente dele:

- Of where you it’s? Or better, of where you they are? You and it’s cousin… 65 - Aquilo estava constringindo Miguel. Ele sabia que se falasse em português, se denunciaria, por causa de seu modo de falar, além de sentir um a certa atração por aquela jovem, que ele sabia não poder acontecer nada, pois ela era sua tia-avó. Queria que Joshua estivesse ali, para ajudá-lo. Foi então que pensou, esta era a idéia dela, separar os dois. Com certeza, percebera que Joshua era o “cabeça” dos dois e separando-os, conseguiria descobrir o que desejasse. Aquilo fez com que Miguel crescesse em determinação e num jogo de esquivas, ele seguiu seu caminho, esperando que ela lhe mostrasse para onde ir. Percebendo que não conseguiria que ele falasse, Minerva se prontificou a ficar à sua frente, levando-o até a praça da cidade:

- So che stai nascondendo qualcosa e non mi dice, ma io sono molto persistente. 66 – Ela disse, ao se sentar em um banco. Miguel permaneceu em pé, tentando manter sua impassividade. A praça parecia estar deserta, possivelmente as pessoas se preparavam para o almoço.

- Che cosa vuole di me? 67 – Ele terminou perguntando, sem esperar uma resposta agradável.

- Desidero la verità! 68 – Ela respondeu. Seus olhos pareciam duas fontes de brilho verde e apaixonante. A mente de Miguel lhe dizia que ela era sua tia-avó, mas seu coração parecia não se importar, como se fosse seu destino cruzar o caminho daquela jovem e ela o dele:

- La verità? Minerva credere che non si creda la verità ... Scherzi! – Sentou-se ao lado dela. - Le cose non sono così semplici, se sai cosa voglio dire. Non importa quanto mio cugino Joshua parlare con me su di esso, ancora non ci credo, anche. 69

Minerva olhava profundamente nos olhos castanhos de Miguel. Acreditava no que ele dizia, mas algumas coisas estavam inexplicadas:

- Joshua? Ma il nome del relativo cugino non è Josué? 70 – O rosto de Miguel enrubesceu e Minerva percebera a mudança de tonalidade na face dele. Miguel sentia seu rosto aquecer e não sabia o que dizer. O silêncio pairou durante alguns segundos, até ser quebrado por Minerva. – Você fala português, Miguel? – O olhar questionável de Minerva fazia o corpo de Miguel esquentar, ao ponto dele sentir um incomodo calor. Se ele falasse qualquer coisa, ela perceberia que ele entendera o que falara. Sentiu novamente a falta do primo. Então veio algo a sua mente. Sabia que se falasse aquilo, as coisas seriam bem piores, mas na falta do que dizer e com medo que ela o argüisse mais, falou:

- Già avete letto il libro “La Macchina del Tempo”? 71 – Acreditando que Miguel não entendera seu questionamento, Minerva respondeu:

- Sì, ho letto questo libro di recente. Si tratta di un ottimo libro…72

- Eu o vi em DVD! – Minerva tomou um susto com a resposta. Estava intrigada com aquilo e ao mesmo tempo assustada. Não entendera a última palavra, mas percebia que Miguel a compreendia muito bem.

- Você fala português? – Ela gaguejou. – Entendia tudo que os outros falavam? Por quê? Por que escondeu isso de nós, Miguel? – Os olhos de Minerva se marejavam de nervosismo. Ela estava assustada, intrigada e nervosa. Eram sentimentos mútuos que rondavam sua cabeça, quase a deixando incontrolável.

- Sim, eu entendo português, mas não pretendia enganar ninguém. Nem você, nem sua irmã e muito menos seus pais, muito menos Giácomo e Giancarlo. – Miguel estava com vontade de enterrar a cabeça no centro do parque, como um avestruz. “No que você me meteu Joshua!”, ele pensou. – O lance é que nem eu e nem meu primo somos daqui, ou melhor, não somos deste tempo, entende?

Aquilo parecia mais intrigante ainda, mas a primeira reação de Minerva foi:

- Você está brincando comigo? – Ela começou a ficar nervosa, à medida que falava com ele. – Quer dizer que vocês viajaram no tempo? E onde está a máquina de vocês, hein? Encontraram algum Morlock ou quem sabe um Eloi?...

- Olha, sei que não deve ser fácil... Pô, até agora nem eu entendo. Não tem exatamente uma máquina do tempo, é um tipo de portal, que leva as pessoas para outros lugares. Antes, eu e Joshua fomos pra um lugar muito doido, aonde todo mundo falava de trás para frente. Loucura pura! Agora viemos pra cá, pois o Joshua queria conhecer nossos parentes, com quem não teve muito contato na infância... Dá pra entender? – Minerva prestava total atenção em Miguel e quando ele terminou, ela começou a rir. – Do que ‘cê tá rindo?

- Seu jeito de falar, – ela disse entre o riso. – é muito estranho. – Aquilo deixou Miguel desconfortável: “Maldita hora pra contar a verdade.”, ele pensou. Mesmo com a risada dela, Miguel estava encantado. Era uma risada gostosa e prazerosa. Esperou que ela terminasse e quando isso aconteceu, começou a falar:

- Terminou de tirar uma com a minha cara? Então, acho que tu entendeu o que eu quis falar com aquele barato todo, não?

- Olha, pelo jeito que você fala, com certeza não é daqui, mas viagem no tempo? Não acha que está delirando, Miguel?

- Acredite Minerva, bem que eu gostaria de tá brincando, mas num to não. – E começou a contar a ela toda a história, somente dispensando dados relativos à descendência dele e de Joshua e a ligação sanguínea entre ele e Minerva, coisa que ele não queria acreditar que existia.

- Este seu relato é fantástico, beirando o delírio. Então Josué, ou melhor, Joshua tem um amor em outra dimensão, sendo que esta é neta do professor dele? Percebes a loucura do que me diz?

- Minerva, vai por mim, ninguém acha isso mais louco do que eu, mas é a verdade. Quando fomos para Aiarp, nunca imaginaríamos que algo tão louco aconteceria. Vivemos entre eles durante três meses e só ficamos sabendo disso no final de nossa estadia, e foi o próprio Joshua que chegou a esta conclusão, enquanto se encontrava em cárcere. Quando voltamos, ele tentou contar ao professor dele, sobre o fato, mas não rolou, pois o cara só queria saber de fatos ligados a cultura do local e à forma de vida de lá...

- E por que vocês vieram para a cá? Por que não retornaram ao tal local?

- Ah, isso é coisa do Joshua. Ele disse que seria quase impossível termos certeza da época em que havíamos chegado em Aiarp, por isso preferiu vir pra cá.

- Com qual objetivo?

- Oras, conhecer nossas origens, onde nossa família morava e tudo o mais. Como eu disse, Joshua não teve muito contato com nosso avô, então ele veio conhecê-lo.

- Se for verdade, o avô de vocês é jovem ainda, e desde que chegaram, somente estiveram conosco. Quando vós ireis procurá-lo?

- No momento estamos ajudando Giácomo e Giancarlo...

- Ajudando com o quê? Giácomo fala português muito bem, pode cuidar do irmão... Ah não ser que tenham um interesse a mais... Então, qual deles é o seu avô? – Miguel ficara constrangido com o questionamento.

- Você tá indo muito além do que é verdade. – Disse ele, taxativamente. – Só estamos ajudando Giácomo e Giancarlo, nada mais. Se eles fossem mesmo nossos parentes, estaríamos atrás deles, não seria um encontro acidental na estação de trem.

- É, tu tens certa razão nessa avaliação. Bem, quando decidirem procurar seus avôs, eu gostaria de ir junto, se for possível.

- Acho que não vai rolar. – Disse Miguel, com um ar de mistério. – ‘Cê já tá sabendo muito, na verdade, acho que Joshua vai querer me trucidar quando ele souber que a deixei a par disso tudo. Pô, foi uma loucura quando Giácomo descobriu, imagina quando ele souber que ‘cê sabe...

- Mas como Giácomo ficou sabendo?

- Ele nos pegou conversando em português.

- Então existe uma diferença, você me contou, eu não o peguei conversando com seu primo... – Miguel levantou de onde estavam e estava em polvorosa.

- Pior ainda. – Ele disse, ficando-se a frente dela. – Quando ele souber que lhe contei de livre vontade, vai querer me trucidar. – Aquilo parecia um absurdo, ainda mais pelo porte físico dele e do primo, mas sabia que Joshua poderia simplesmente transformar o resto da estadia de ambos num verdadeiro inferno.

Minerva se pôs de pé diante dele, a diferença de altura de ambos era bem perceptível. Ela lhe tocou o rosto preocupado com sua mão macia, segurou pelo queixo e disse:

- Me beije? – Aturdido, ele pela primeira vez ficara sem reação:

- Como?

- Eu quero que você me beije. – Os olhos dela cintilavam um brilho inebriante. – Será que existe algo que o impeça de fazer isso? – “Na verdade tem.”, ele pensou:

- Mas se alguém nos pegar? Tudo bem que na nossa época isso não era problema, mas nosso nonno sempre dizia que as moças não podiam beijar rapazes, pois era um afronta a família da moça e... – Os lábios de Minerva tocaram o dele, suavemente. Ela ficara na ponta dos pés para cometer o ato de beijá-lo.

O beijo dela era quente e confortável. Nada mais passava pela cabeça de Miguel, só queria aproveitar aquele momento. Esquecera tudo, somente se preocupava em sentir os macios lábios dela sobre os dele. Na medida em que ela ia deixando de ficar nas pontas dos pés, ele abaixava o próprio corpo, sem deixar de tocá-la nos lábios. As mãos dela seguravam delicadamente o rosto dele, enquanto ele tocava os longos cabelos negros dela, que passavam pelos seus dedos. O mundo havia parado, mas de repente voltara a se movimentar. Abrindo os olhos calmamente, ele sentia aquela sensação viciante que esquentava seu corpo e gaguejando disse:

- Por que fez isso?

- Porque você fala demais. – Ela respondeu. – E eu queria beijá-lo. – Quando terminou de abrir os olhos, Miguel tinha certeza que uma aura de luz iluminava Minerva, como se ela fosse uma divindade. O cheiro dos cabelos dela lhe davam uma sensação de prazer espiritual.

- Se nos pegam. – Ele se curvou para tocá-la nos lábios novamente. Ela sorriu e concordou com o beijo, que fora menos duradouro que o anterior. – Eu esqueci do mundo agora. – Ele terminou dizendo.

- Então somos dois. – Ela o abraçou como se quisesse apertá-lo. – O que faremos agora?

Traduções (Via Google Tradutor):

60 - Será um grande prazer para acompanhá-la. [...] Se o seu pai para autorizar, é lógico.

61 - Não é o certo, [...] mas se for o desejo da minha filha, eu confio nela, senhor Miguel.

62 - Onde esta é a casa de sua amiga?

63 - Eu sei muito pouco dessa linguagem, mas o suficiente para entender que você não é daqui!

64 - Eu não sei do que você está falando!

65 - De onde você é? Ou melhor, de onde eles são? Você e seu primo...

66 - Eu sei que você está escondendo alguma coisa e não quer me contar, mas eu sou bastante persistente.

67 - O que você quer de mim?

68 – Eu quero a verdade!

69 - A verdade? Acredito Minerva que você não acreditaria na verdade ... Sério! [...] As coisas não são tão simples, se é que me entende. Não importa o quanto o meu primo Joshua fale sobre isso comigo, eu ainda não acredito, também.

70 - Joshua? Mas o nome de seu primo não é Josué?

71 - Você já leu o livro "A Máquina do Tempo"?

72 - Sim, eu li este livro recentemente. É um livro muito bom...

segunda-feira, 8 de julho de 2013

A perda de um herói

Renato Russo em sua música “Love In The Afternoon” começa cantando:
“É tão estranho / Os bons morrem jovens / Assim parece ser / Quando me lembro de você / Que acabou indo embora / Cedo demais...”.
Algumas vezes o destino nos carrega pessoas preciosas que tem o costume de iluminar nossa vida e fazer dela melhor. Os céus exigem esta pessoa que nos dá alegria, para que ele venha a alegrar o reino divino.
Esta manhã de segunda-feira (08/07/2013), através da atriz Lilian Menenguci, tomei conhecimento do falecimento do meu amigo, o ator Gleison Dutra.
Gleison anos atrás lutou contra uma leucemia, fez transplante e conseguiu uma vitória, que exigiu muito de sua saúde. Ele lutou arduamente todos os dias, fazendo o que mais amava em todo o mundo: o teatro.
Gleison era um rapaz com saúde exemplar, ia de bicicleta de sua casa (em Cariacica) até a – hoje – Escola Técnica Municipal de Teatro, Dança e Música Fafi, que se localiza em Vitória – ES, para fazer suas aulas de teatro, na qual teve graduação no final do ano de 2000.
Eu tive o prazer de trabalhar ao seu lado em duas peças: “Os Pequenos Burgueses”, de Máximo Gorki, e
“O Casamento Suspeitoso”, de Ariano Suassuna. Em ambas, Gleison demonstrou toda sua paixão pelo palco na construção de dois personagens magníficos, sendo que o último, o gago Gaspar, é o que todos mais recordam, pois ficamos em temporada com a peça “O Casamento Suspeitoso” duarente o ano de 2001.
Gleison lutou bravamente como um herói que entra em um combate com o objetivo de vitória. Trabalhou com o diretor, ator e produtor José Luiz Gobbi em vários trabalhos de palco, além de auxiliá-lo como diretor e professor na Escola Leonardo da Vinci, onde dava aula de interpretação para os alunos.
Mas como todas as batalhas, nem sempre elas são favoráveis aos maiores guerreiros. Agora Gleison se encontra no Elísio, auxiliando Dioniso e Apolo, atuando ao lado dos grandes Moliére, Shakespeare, Nelson Rodrigues, e tantos outros. Mas ele nos deixa uma lição que nenhuma batalha deve ser considerava vencida. Que devemos sempre lutar por aquilo que acreditamos e que nos empenhamos a acreditar que é o melhor para nós. A batalha pela vida de Gleison e sua eterna continuidade junto àquilo que ele mais amava, só nos mostra que somos pessoas que devemos crer mais em nós mesmos.
Obrigado por isso, Gleison. Uma vez – durante uma aula na Fafi – falei em sala que considerava a todos como minha família, então posso dizer que sempre te considerei como um irmão, que demonstrou para mim que a felicidade sempre está dentro de nós e precisamos sempre buscá-la, não importa o que aconteça.


ADEUS MEU GUERREIRO!

domingo, 27 de novembro de 2011

Seminário sobre o imaginário no século XIX

Nos dias 21 e 22/11/2011, aconteceu na faculdade que sou discente o VI Seminário de Pesquisa e Prática Pedagógica Saberes. Todos os anos, alunos – como eu – apresentam projetos de pequisa que estão desenvolvendo ou que já estão em finalização.
No dia 22/11. eu apresentei o que pretendo realizar como meu Trabalho de conclusão de curso (o famoso TCC). Este meu trabalho pretende abordar o imaginário do século XIX, tão rico de escritores que se encantavam com o fantástico, como Mary Shelley, Robert Louis Stevenson, Lord Byron, John Polidori, H. G. Wells, Edgard Allan Poe, Sheridan Le Fanu e tantos outros. Mas minha concentração fica em “Dracula”, escrita por Bram Stoker e publicada pela primeira vez em 1897.
A diferença de Drácula para as outras obras com referência ao vampirismo foi o sucesso arrabatador que fez e todo o mito que ronda sobre ele. De cavaleiro que combateu os turcos-otomanos no século XV, com o nome de Vlad Ţepeş, a monstro literário da litaratura do século XIX, a trajetória do personagem passa por um surto de pânico nas Europas Central e Oriental, culminando na exumação de vários corpos que foram mutilados, duas dissertãções por catedráticos da Igreja Cristã-Católica, inúmeros poemas, romances de suspense, peças teatrais, pesadelo, até a obra de fato. Apesar de ter conhecimento do sucesso que possuía em mãos, Stoker – acredito eu – não tinha ideia do quão sua criação poderia ser uma influência e ainda gerar mais mitos em cima do mito. Abaixo segue o texto do trabalho que apresentei e ao final disaponibilizo um vídeo para apreciarem (está meio escruto, mas dá para ouvir).

O fascínio pelo imaginário e fantástico no século XIX através da obra
de Drácula e a construção do seu mito
Drácula é o personagem-título do romance criado por Bram Stoker e publicado em 1897, se tornando o vampiro mais conhecido da modernidade e incitando no mundo a ideia de um ser poderoso e sem escrúpulos, capaz de qualquer coisa para saciar seus desejos. Seu inimigo, Van Helsing, o destrói se munindo de objetos relacionados à religião cristã-católica romana, como o crucifixo e a hóstia, além de usar o alho para afastá-lo e estacas para ataca-lo, crenças populares da Europa Oriental, região rica de mitologia vampírica. Mas antes de Drácula surgir ao final do século XIX, o mito do vampiro chegou a Europa Ocidental através de um surto de manifestações que levaram a investigações da igreja, que realizaram duas dissertações a respeito dos casos, assim como incitou o imaginário de muitos escritores que usaram o mito como base para suas obras.
Para melhor compreensão disso temos o caso de Arnold Paole, soldado sérvio que retornou para casa após um período de serviços prestados na Sérvia Turca, como era conhecido o exército daquela região. Ele comprou terras, se tornou agricultor e casou-se. Mas ele revelou a esposa que durante o período de serviços na Sérvia Turca fora atacado por um upirina[1], ao qual ele perseguiu até o cemitério e o matou. Comeu a terra do túmulo e cuidou das feridas com o sangue na intenção de se livrar dos efeitos do ataque, mas temia que ainda tivesse marcado, como uma maldição.
Paole então morre após um acidente, só que dias após sua morte um surto de visões começam a surgir e pessoas que disseram tê-lo visto, morrem. No 40° dia após sua morte, decidem desenterrar seu corpo. Acompanhados de dois cirurgiões militares, o povo da região aonde Arnold Paole residia abre seu caixão e o encontra como se tivesse sido enterrado há pouco tempo, somente com uma pequena camada de pele velha sobreposta a uma pele nova e com as unhas ainda crescendo. Eles estaqueiam o corpo do morto e ouvem um gemido, além de o sangue jorrar da ferida, mas não para por aí, pois as pessoas mortas, supostamente, por Paole, têm o mesmo fim. Em 1731, quatro anos após as mortes de Paole e suas supostas vítimas, uma jovem disse ter sido atacada por um homem chamado Milo, que havia falecido há pouco tempo. Desta forma o imperador austríaco nomeou o cirurgião Johannes Fluckinger para investigar o caso. Fluckinger se dirigiu a região de Medgevia, ao norte de Belgrado, aonde Paole havia nascido e residido e também local da aparição de Milo, para inspecionar o desenterro do corpo. Descobrindo-o em estado semelhante ao de Paole, foi ordenado o estaqueamento e a incineração do falecido. Numa busca pela resposta do motivo de uma pessoa ter se tornado vampiro depois de quatro anos, fora determinado que Paole houvesse “vampirizado” diversas vacas, sendo este o motivo do mais recente caso. Sendo assim, sob ordens do cirurgião nomeado pelo imperador, várias pessoas que haveriam falecido há pouco tempo foram desenterradas, estaqueadas e queimadas.
Essa pantofobia[2] relativa aos ataques de vampiros que tomou a região das Europas Central e Oriental foram abordadas pela Igreja Cristã-católica romana em dois trabalhos. O primeiro foi realizado em 1744 pelo arcebispo de Trani, região da Itália, Giuseppe Davanzati (1665-1755), que se chamava Dissertazione sopra I Vampiri[3].
Davanzati fora nomeado pelo papa Benedito XIV como patriarca de Alexandria quando a onda vampírica chegou à Alemanha. O bispo de Olmütz, Cardeal Schtrattembach, o convidou para participar das discussões acerca deste surto, que se originara com o caso de Paole, em 1727, daí então escreveu sua dissertação tendo como base os relatos deste caso e de estudo relacionados ao assunto.
Vampiri[4] era uma terminologia do vampir húngaro, que se originara do upír[5], e define o que Davanzati chamou de fantasia humana, com possibilidades de origem diabólica. Na sua argumentação, as aparições vampíricas se realizavam aos camponeses e analfabetos das classes mais baixas, cujo imaginário eram mais tendencioso do que para pessoas letradas. Mas sua dissertação foi superada pela do acadêmico francês Don Augustin Calmet, que escreveu em 1746 a Dissertations sur les Apparitions des Anges, des Démons e des Esprits, et sur les revenants, et Vampires de Hungrie, de Bohême, de Moravie, et de Silésie[6], que fora seu único trabalho a respeito do assunto.
Calmet, como acadêmico católico romano, havia lecionado Filosofia e Teologia na Abadia em Moyen-Moutier e trabalhara em um comentário maciço de 23 volumes sobre a Bíblia, além de tentar popularizar o trabalho de interpretação dela. O papa Benedito XIII chegou a oferecê-lo um bispado, mas ele recusou. A pesquisa de Calmet sobre os vampiros iniciou da mesma forma que a de Davanzati, por conta do surto de aparições que se iniciou em 1727 na Europa Oriental e se alastrou pela Alemanha. Na França não existiam relatos como aqueles, mas o acadêmico ficou impressionado com os detalhes dos testemunhos que corroboravam com a existência do vampirismo e não achava certo que fossem ignorados.
A definição de Calmet sobre os vampiros era que eles seriam pessoas mortas que retornavam de seus túmulos para perturbar os vivos, bebendo de seu sangue e, possivelmente, leva-los a morte. O único meio de eliminá-los seria desenterrando o corpo do suposto vampiro, cortando-lhe a cabeça, estaqueando uma madeira no corpo e queimando-o até que virassem cinzas. Mas Calmet tinha sérias críticas à histeria desenfreada que causou a exumação de vários corpos, aos quais achavam terem sido vampirizados, e suas mutilações. Também amainou o que Davanzati havia escrito sobre o fenômeno atingir somente as classes iletradas, referindo-se ao folclore popular das regiões, o parco conhecimento sobre as alterações dos corpos após a morte e sobre sepultamentos prematuros. Ao fim, Calmet deixa o assunto em aberto, não o concluindo, mas aparentando acreditar na existência de vampiros ao escrever “[...] que parece impossível não apoiar a crença que prevalece nesses países de que essas aparições na realidade provêm do túmulo e que são capazes de produzir terríveis efeitos tão difundidos e atribuídos a eles”[7].
Calmet, ao deixar em aberto a discussão sobre a existência ou não de vampiros, incentivou a busca por respostas a respeito deste ser folclórico que começara a se desenvolver na mente de poetas alemães, tanto que dois anos após a publicação de sua dissertação surge o poema Der Vampyr de Heinrich August Ossenfelder. Após a publicação de Ossenfelder, outros poetas alemães desenvolveram obras semelhantes, como Lenora de Gottfried August Bürger, Die Braut von Korinth de Johann Wolfgang von Goethe. Esses poemas chegaram a Inglaterra na década de 1790, quando William Taylor de Norwich traduziu Lenora para o inglês, que incentivou Samuel Taylor Coleridge a escrever Christabel em 1801 e Robert Southey que escreveu Thalaba the Destroyer.
Dois dos maiores incentivadores da literatura vampírica no início do século XIX foram Lorde George Gordon Byron e Percy Bysshe Shelley, tanto que em 1816, devido ao tempo que não permitia que transitassem pelas ruas de Genebra, Byron sugeriu que fossem escritos histórias de fantasmas para serem compartilhadas entre eles. Entre os convidados estavam, além de Shelley, Mary Wollstonecraft Goldwin, Claire Clairmont e John Polidori. As histórias começaram a ser escritas naquela noite e somente duas ganharam relevância após o encontro, uma delas fora escrita por Mary Goldwin, que mais tarde se casaria com Percy Shelley, e era intitulada Frankenstein. A obra se tornou extensamente popular, pois narrava um cientista que buscava descobrir como reanimar um corpo morto e quando conseguiu, este se torna um monstro, mas somente da ideia de infringir todas as leis da natureza, Mary Shelley, como é mais conhecida, conseguira imputar no imaginário humano a possibilidade de que a ciência era capaz de tudo, até mesmo dar vida aos humanos.
Outro membro da reunião que teve certo sucesso com sua obra foi John Polidori que escreveu o primeiro romance The Vampyre. A obra foi publicada em 1819 no New Monthly Magazine[8], e foi a primeira a gerar interesse dos ingleses pelos vampiros, antes somente interessantes para poetas. The Vampyre se tornou peça teatral na França e incentivou outros escritores a criar obras literárias sobre vampiros, como James Malcolm Rymer, que em 1840 publicou Varney, the Vampyre, e Joseph Thomas Sheridan Le Fanu que em dezembro de 1871 iniciou a publicação de Carmilla na revista Dark Blue[9] em quatro partes.
Carmilla contava a história de uma vampira que atormentava uma jovem e foi esta história a principal incentivadora para a criação de Drácula, pois depois de lê-la, Bram Stoker teve um pesadelo e iniciou o projeto para um livro sobre vampiros.
Impressionado com a abordagem do fantástico pelo escritor de Carmilla, Bram Stoker, que nessa época já havia escrito livros adultos e infantis, decide iniciar uma pesquisa.
Conforme descoberto pelo editor e pesquisador Marcos Torrigo e citado por ele na Introdução do livro “Drácula”, Bram Stoker aparentemente fez parte da Hermetic Order of the Golden Dawn[10], que buscava respostas sobre o imaginário que permeava o século XIX, e que possuía documentos que poderiam ser associados a Vlad Dracul[11], pai de Vlad Dracula, personagem-título da obra de Stoker.
Em um melhor entendimento sobre isso a necessidade do uso de um personagem da história da Europa Oriental na obra de Bram Stoker, cito Sandra Jatahy Pesavento que escreve sobre o imaginário:
“(As) representações teriam, na sua concepção, um fundo de apoio na concreticidade das condições reais da existência. Ou seja, as ideias-imagens precisam ter um mínimo de verossimilhança com o mundo vivido, para que tenham aceitação social, para que sejam críveis.” (S.J. Pesavento, 1995, p.22)
Dessa forma podemos compreender que Stoker ao usar Vlad, que também era conhecido como Vlad Ţepeş[12], busca criar alguma ligação com a realidade, já que este havia sido um sanguinário guerreiro da Igreja Cristã.
Com as informações sobre a família de Vlad e seu passou, e tendo como leitura o livro The Land
Beyond to the Forest
, de Emily Gerard, que narra com detalhes os costumes e tradições da região da Transilvânia, Bram Stoker desenvolveu sua obra. Ele junta as lendas do leste europeu, o envolvimento da Igreja na perseguição a estes seres demoníacos, um guerreiro romeno que lutou contra os turcos no século XV, para criar uma obra que influenciou – e ainda influencia – muitos trabalhos voltados para este tema, criando um mito que permeia o imaginário até os dias de hoje, pois como cita Roland Barthes em seu livro Mitologias: “O mito é um sistema de comunicação, uma mensagem.” (BARTHES, 2010, p.199), e Drácula funciona muito bem neste contexto, pois passa a mensagem da existência do vampiro dentro da sociedade vitoriana, abastecida pelo imaginário do fantástico com obras como Frankenstein de Mary Shelley e O Médico e o Monstro de Robert Louis Stevenson, que trabalham a ciência e o ocultismo lado-a-lado. Já o trabalho do mito e do fantástico desenvolvido por Bram Stoker se diferencia e dá mais destaque, pois busca em lendas que já vinham enriquecendo a literatura europeia sua base, usando uma região totalmente rica deste conteúdo, como a Transilvânia.
Bram Stoker não parece desconhecer o que criara, tanto que, com seu sócio e amigos, o ator Henry Irving, lança a peça Dracula, or The Un-dead no Lyceum Theater em 1897, no intuito de garantir os direitos sobre a obra, mas vinte e cinco anos depois, na Alemanha, o roteirista Henrik Gallen e o diretor Friedrich Wilhelm Murnau, apoiados por Albin Grau, diretor da Prana-Film, desenvolvem o filme Nosferatu, Eine Symphonie de Garuens[13]. O termo nosferatu vem do eslavo que significa portador de pragas. A locação se muda da Transilvânia para a cidade de Bremen, na Alemanha, e os nomes dos personagens se alteram, como Drácula passa a se chamar Conde Orlock, mas o filme é nitidamente baseado na obra de Stoker, o que trás problemas para a
película, que sofre um processo de direitos autorais e é ordenado que todas as cópias sejam queimadas, alimentando ainda mais o mito sobre Drácula.
O que alimenta o imaginário acerca de Drácula são todos os trabalhos midiáticos desenvolvidos com base na mitologia por trás da obra, como o sol, o espelho, os objetos religiosos (no plural mesmo), alho, rosas silvestres, sendo que alguns desses já foram desenvolvidos para o cinema, como o sol.
O mito do vampiro ficou mais enriquecido após a obra Drácula, escrita por Bram Stoker, e se tornou um fenômeno, mesmo tendo anteriormente escritores do mais diversos, se baseando neste folclore do leste europeu. Desmentindo Davanzati, podemos ver, com o crescente de obras sobre vampiros, que a influência do mito vai além do imaginário de um povo iletrado e camponês, podendo enriquecer-se na mente até mesmo de eruditos e assim construindo um mundo fantástico.

Referências bibliográficas:
BARTHES, Roland. Mitologias. 5 ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2010.
MCNALLY, R. T.; FLORESCU, R. Em busca de Drácula e outros vampiros. São Paulo: Mercuryo, 1995.
MELTON, John Gordon. O livro dos vampiros: A enciclopédia dos mortos-vivos. São Paulo: M.Books do Brasil, 2003.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Em busca de outra história: Imaginando o imaginário. Revista
Brasileira de História. São Paulo, v. 15, n. 19, 1995.
STOKER, Bram. Drácula. São Paulo: Madras, 2002.

[1] Termo servo-croata para definir vampiro.
[2] Temor mórbido de um mal desconhecido (HOUAISS).
[3] Dissertação sobre vampiros.
[4] Vampiro, em italiano.
[5] Nome dado ao vampiro pelos bielorrussos, tchecos e eslovacos.
[6] Dissertação sobre as aparições de anjos, demônios, dos espíritos e fantasmas e vampiros na Hungria, Boêmia, Morávia e Silésia.
[7] MELTON apud CALMET, 2003, p. 223.
[8] Revista inglesa criada por Henry Colburn em 1814.
[9] Revista inglesa criada por John Christian Freund em 1871.
[10] Ordem fundada em 1888 por Samuel Liddell MacGregor Masters que estuda ocultismo.
[11] Nobre que se tornou membro da Ordem do Dragão em 1431.
[12] Vlad, o Empalador, em romeno.
[13] Nosferatu, Uma sinfonia de horror, de 1922.
Seminário “O fascínio pelo imaginário e fantástico no século XIX através da obra de Drácula e a construção do seu mito”

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Crônica: Você já brincou de casinha?

Este ano eu iniciei meus estudos para me graduar em Licenciatura em História, então das várias aula que temos, uma é sobre a construção de texto. Eu já aprendi - assim espero! - a fazer um fichamento, escrevi um artigo - que me ajudou a decidir com que base farei minha monografia - e agora me fez fazer um crônica.
Bem, nunca fui chegado a crônicas, tanto que muitos podem ver que meus textos, em geral, são bem extensos. Gosto mesmo de contos (sendo que "Prole" se encaminha para se tornar uma novela) ou romances, como "A Grega". Mas como isso fazia parte de um teste avaliativo, não tinha como escapar, então, entrando no embalo de meu irmão em "Contos de Mórris", que tem narrado sua infância e adolescência, de uma forma ficcional, decidi escrever sobre o título desse post, então segue abaixo o resultado, que me rendeu uma boa nota =)

Você já brincou de casinha?

Você já brincou de casinha? Acredito que todo mundo já brincou – ou ainda brinca – de casinha, seja com a irmã, seja com parentes, sempre alguém é o pai, a mãe, os filhos e por aí vai. Eu posso dizer, com toda convicção, que já brinquei muito de casinha. Mas não com minhas primas, e eu nunca tive uma irmã, então praticava esse ato na escola mesmo, sempre no final das aulas, esperando minha mãe e meu pai chegarem, e como mais velho, era constantemente o pai.

A brincadeira consistia no seguinte: como pai, eu ia trabalhar e me despedia dos meus filhos (um casal de gêmeos que estudavam com meu irmão), do cachorro (que era o pobre do meu irmão) e da minha esposa (que era uma das filhas das donas da escola, sendo uma delas minha madrinha), que eu beijava – essa era a melhor parte.

Ir para a escola era um martírio, mas tudo valia a pena ao final do dia, quando brincávamos de casinha. O pior era ser pego pela minha madrinha, enquanto eu beijava sua filha, pois a unha dela era tão grande, que o beliscão doía na alma.

Eu fico pensando como isso seria visto hoje em dia. No mínimo meus pais seriam processados por eu assediar as meninas ou seria minha madrinha a processada, por ter me beliscado, mas com certeza não teria o mesmo tom ingênuo daquela época, quando um beijo de estalinho significava o mesmo que andar de mãos dadas.

Hoje, na minha idade, “brincar de casinha” tem um outro significado. É construir uma família, ter um trabalho para sustentá-los, uma casa para abrigá-los e um veículo para locomovê-los, mas na infância, quem disse que isso importava. O legal era chegar ao final do dia, ir ao balanço que representava o carro, olhar para os gêmeos e vê-los como meus filhos, observar meu irmão “de quatro” e acreditar que ele era o cachorro e ver as filhas das donas da escola como sendo minhas esposas a quem eu beijaria. Como era bom ser criança e brincar de casinha... Ou vai me dizer que você não gostaria de voltar a ser criança?

terça-feira, 15 de junho de 2010

Contos do Móris: Meu irmão

Nossa, fazem três meses que eu não apareço por aqui, ou melhor, desde que comecei minha faculdade.

Pois é, tem sido complicado, mas gostoso, pois estou fazendo algo que é quase um sonho, estou estudando para dar aulas de História. Só que não vim até aqui para falar disso.

Bem, quase todos que vêm aqui veem meus contos publicados, pois esta foi uma forma que arranjei de disponibilizar o que gosto de escrever para aqueles que gostam de ler. Só que, não sou somente eu o escritor, filho da Sra. Aédyla e do Sr. Armando, mas também o outro filho deste casal, meu irmão, Armando Rogério Brandão Guimarães Junior (UFA!).

Desde pequeno meu irmão demonstrou talento para escrever, também era um – quase – mini-gênio. Sacava tudo e entendia tudo muito facil. Logo se destacava entre seus colegas. Um verdadeiro nerd! Pois bem, este meu irmão “caçula” (mas mais alto do que eu!) decidiu me prestar uma homenagem dupla. A primeira eu não contarei, mas acredito que um dia ele conte quando o livro for publicado, mas a segunda é um conto sobre minha pessoa. Com autorização dele (lógico!), eu disponibilizo aqui para vocês “Meu irmão” (obrigado irmão!):

Meu Irmão

O meu melhor amigo definitivamente é  meu irmão, sem desmerecer as amizades que fiz ao longo de minha curta vida, mas suportar tudo que eu fiz com ele e ainda me chamar de irmão, tem que ser muito amigo!

Quando digo que ele me chama de irmão é no sentido literal da palavra, ele nunca me chamou pelo nome, sempre só me chamou de irmão, alguns podem pensar que isso seria pra facilitar, assim se tivéssemos vários irmãos, não precisaria de decorar os nomes de todos, mas não é esse o caso, somos só nós dois, quer dizer, tenho um outro irmão caçula que tenho pouco contato, mas depois conto dele.

Não aprontava com meu irmão por ele ter me feito de cachorro na escola, aprontava pelo simples fato de ser legal aprontar pra cima de alguém, coisa de espírito de porco mesmo.

Certa vez estávamos em casa numa boa, quando decidi que os óculos do meu irmão me incomodavam, são óculos de grau mesmo, ele tem hipermetropia e astigmatismo, alguns anos depois eu descobri que tinha miopia, acho que foi castigo divino, mas por implicância divina continuo não usando óculos. Pois bem, meu irmão depende dos óculos dele pra poder ler e etc. e por ter dois problemas o óculos terminava sendo muito caro e minha mãe sempre cobrou dele que cuidasse daqueles óculos com todo cuidado possível. Eu, incomodado com o mundo, peguei os óculos enquanto ele tomava banho e escondi dentro da estante, mas bem no fundo e atrás de um monte de coisas, onde ninguém pudesse ver. Quando ele saiu e se deu conta que os óculos não estavam onde ele tinha colocado com toda calma do mundo, começou a procurar em outros locais e somente quando não tinha mais onde procurar ele foi perguntar pra minha mãe que já ficou nervosa só de pensar no prejuízo, mas minha mãe teve a calma de pensar que se ele estava com os óculos antes do banho então tinha que estar dentro de casa.

Foi um tal de procurar debaixo das camas e nas gavetas, no chão, embolado na roupa e etc., que minha mãe começou a perder a calma e cobrar a localização com mais austeridade, meu irmão não era fácil de se fazer chorar, era capaz de tomar uma surra de cinto e ficar encarando minha mãe só pra peitá-la, mas dessa vez ele estava ficando desesperado, pois ele sabia que o que estava em jogo ali era muito mais do que uma surra.

Quando notei que a coisa tava ficando preta me propus a ajudá-los, e por sonseira minha fui direto procurar na estante, exatamente onde tinha escondido. Minha mãe ficou só de longe olhando o que eu fazia. Coloquei meus bracinhos miúdos e magrelos dentro do compartimento da estante e lá do fundo tirei os óculos e os levantei pro ar, como se eu tivesse achado uma pepita de ouro. Meu irmão, que era tão moleque quanto eu (1 ano e meio mais velho, lembram?), veio me abraçou e ficou lá me agradecendo com toda a pureza que uma criança podia ter naquela idade. Enquanto ele me abraçava eu vi minha mãe vindo por trás dele pra me pegar já com o chinelo na mão, não deu tempo de fazer muita coisa a não ser empurrar meu irmão pra cima dela e sair correndo pelo apartamento. O apartamento era (e ainda é) muito pequeno então não tinha muito que fazer a não ser correr pra dentro do meu quarto e fechar a porta pra ganhar um tempo. Logo que entrei no quarto fui pra debaixo da cama, e quando minha mãe entrou no quarto só ouvi meu irmão chorando gritando com ela que não poderia me bater, pois eu havia encontrado os óculos dele e que ela teria que bater nele também então. Acho que minha mãe se comoveu com o sentimento piedoso e puro do meu irmão, pois a única coisa que ela fez foi fechar a porta e avisar que eu não poderia sair de lá naquela noite a não ser pra jantar, meu irmão até tentou ficar no quarto comigo, mas minha mãe disse pra ele deixar de ser bobo e retirou ele do quarto. Fiquei lá, debaixo da cama, só imaginando como ela poderia ter descoberto tão facilmente minha armação. Quando me dei conta da minha besteira comecei a me morder o braço todo, como forma de me punir pra não dar tanto mole.

Semanas depois lá estávamos nós dois brincando sabe-se lá de que na frente de nosso apto, quando minha mãe aparece da janela e nos chama usando um tom meio agressivo. Fomos com calma pra dentro do apto, afinal de contas esse poderia ser o tempo que ficaríamos fora do castigo pelo restante do dia, eu ainda não tinha idéia do que eu tinha feito dessa vez, mas com certeza minha mãe havia descoberto. Quando entramos no apartamento ela nos chamou na cozinha e mostrou dentro da geladeira um vidro de catchup que estava virado na parte de cima da geladeira e por conta disso havia caído quase tudo dentro da panela de arroz e assim desperdiçado parte do nosso futuro almoço. A pergunta da minha mãe foi bem simples: “QUEM FOI?”, meu irmão tinha parado do lado dela e por conta disso estava de frente pra geladeira aberta eu estava do outro lado da porta aberta da geladeira e por conta disso não havia visto a cagada, minha mãe repetiu a pergunta pela segunda e última vez: “QUEM FOI?”. Os 3 segundos que se passaram pareciam 3 horas, então meu irmão assumiu a responsabilidade pela besteira e logo em seguida pediu desculpas para minha mãe que sem muito estardalhaço o mandou para o castigo e me liberou para voltar pra rua. Aquele dia meu irmão ganhou o meu respeito de uma forma que nunca mais perderia, aconteça o que acontecesse, a forma como ele assumiu a culpa, estando do lado da minha mãe pra mim era um feito único e nesse dia nem consegui mais ficar brincando na rua, fiquei lá sentado na beira da calçada pensando naquela situação, obvio que por muitas vezes nós saímos no tapa, e sem dó nem piedade eu sentava o braço nele, e apanhava dobrado, mas o fato do meu irmão ter assumido a culpa de algo que ele não tinha feito pra mim foi único, era eu quem tinha esquecido o catchup aberto na geladeira, depois de ter passado no pão pra comer, e meu irmão estava junto na hora e com certeza ele não mexeu naquele catchup, não sei se eu teria o mesmo castigo ou se teria sido algo mais enérgico. Depois que ele saiu do castigo fui contar pra ele que na verdade eu que tinha deixado o catchup aberto, a resposta dele me deixou com um sentimento de culpa maior ainda: “EU SEI.”, e não falou mais nada naquele dia, o fato de eu lembrar isso até hoje mostra o quanto isso me marcou.

Fonte: GUIMARÃES JUNIOR, Armando Rogério Brandão. Contos de Móris. Belo Horizonte: [s.n.], [2010?]. Paginação irregular.colonia-de-ferias

sábado, 1 de agosto de 2009

“A Grega” no Clube de Autores

Você já teve a sensação de estar realizando seus maiores sonhos? Ou melhor, você já realizou seus maiores sonhos? Quando eu comecei a fazer teatro, foi a primeira vez que tive essa sensação. Era uma delícia estar no meio de pessoas que gostavam de conversar sobre as mesmas coisas que você e conseguiam te compreender. As trocas eram bastante familiares e – quase – sempre estavavamos em sintonia.

Teatro foi uma grande realização na minha vida, que eu simplesmente adoro, mesmo longe dos palcos (escolha e opção pessoal!). Quando comecei a escrever (isso bem antes do teatro) também tive essa mesma sensação.

A primeira vez que eu comecei a escrever textos grandes, foi na Escola Nacional Junior, onde desenvolvi aventuras da minha turma em viagens de foguete, saindo de dentro do Morro ao lado da escola (foi assim que criei o esconderijo do meu personagem Combate). Depois eu comecei a desenvolver um texto sobre Alexander Ulianov III e com incentivo de minha professora de português, eu desenvolvi o que seria minha primeira versão de um romance sobre vampiros.

“Amor Sombrio” de romance, virou peça teatral e assim ficou, pois então conheci a minha Marcelle.

Uma ex-namorada que eu chamava gentilmente de “vampirinha” e Marcelle Anthemimuspor causa dela criei Marcelle Anthemimus, uma vampira secular, que vinha ao Brasil, com sua secretária, e contava a história a uma estudante de História, que ficou por anos sem nome.

Essa versão, para mim, não era o ideal, então a modifique completamente (cheguei a apagar todo o livro na época). Neste momento conheci minha ex-namorada, Caroline, e a partir daí criei uma nova personalidade e um nome para minha segunda personagem. A jornalista Caroline Guimarães, estudava comunicação social na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e foi chamada por Marcelle para ouvir sua história. Isso ainda não me satisfez.

cover_front_big Agora sem namoradas, precisei me basear em outras coisas, então comecei a contar a história do ponto de vista de Marcelle, como se fosse ela contando a todos sua história, sem delongas. Então era o seguinte, Caroline Guimarães, uma jornalista que trabalhava numa revista de grande circulação do estado do Espírito Santo, fora chamada pela historiadora Marcelle Anthemimus, sem um motivo aparente. Quando chega ao hotel em que Marcelle está instalada, descobre que ela é uma vampira. Totalmente descrente disso, precisou de provas para crer na afirmação da “grega”  só assim ouviu sua história. Marcelle pediu que Caroline contasse sua história do seu ponto de vista, ou melhor, como se fosse a própria grega contando a todos.

Daí surgiu a versão que está disponível no Clube de Autores de “A Grega”. Marcelle Anthemimus é uma vampira que viaja todo o mundo, após ser tragicamente num eterno ser depende de sangue humano para sobreviver. Durante suas viagens, conhece seus parceiros, encontra outros vampiros e enfrenta desavenças com um vampiro milenar. Marcelle conta toda a história a Caroline, que passa a mim todas as informações, pois some depois de receber ameaças.

Eu espero que curtam este romance sobre um vampira grega.

Link para adquirir o livro: http://clubedeautores.com.br/book/3535--A_Grega, que custa R$ 41,72 (mais custos de entrega).

Abaixo o promo do romance, feito pela minha amiga Luciana Waack:

livro do andré cópia

sábado, 11 de abril de 2009

Prole – Terceira Parte

Depois da primeira e da segunda parte deste conto, chego a vocês com a terceira parte do conto Prole, dos contos Em Busca do Conhecimento. Nesta parte, Miguel é Joshua conhecem muito mais do que a região em que seus descendentes moravam. Boa leitura!

imigrantes-no-esQuando acordaram, a pedido de Joshua – Miguel não estava muito animado com isso -, foram procurar Giacomo e Giancarlo:

- Pô, o cara se desfez de tua generosidade e cê ainda quer ir atrás dele? Cê acha que é quem? Gandhi?

- De onde você tirou Gandhi, agora? – Questionou Joshua, espantado.

- Ah qualé Joshua, té parece que sou tão ignorante assim. Você com essa de aceitar o modo que Giancarlo te trata, ta parecendo Gandhi, sim. Tá, se você quer procurá-los, vamos nessa, mas não espere que eu seja amigável com ele.

- Você já percebeu que parou de tratá-lo como nonno?

- Cê queria o quê? Pode até ser meu nonno, mas isso não dá motivos para destratar meus parentes, ou melhor, os parentes dele...

- Miguel, ele não sabe...

- Tô ciente disso, mas mesmo assim, não se destrata quem quer te ajudar. – Seguiram então o caminho deles, mas parecendo dois turistas do que pessoas com o objetivo de conviverem com o avô e o tio. Não reconheciam a cidade, sendo que já haviam visitado outras vezes, mas a infra-estrutura era completamente diferente, pois os prédios ainda não existiam, sendo o centro da cidade formado de casas, com uma igreja bem de frente para uma praça:

- Tá parecendo cenário de novela. – Exclamou Miguel, a certa altura. – Aí, cansei! Vamos parar por aqui e dar uma descansada. Pô, primeiro que num to acostumado de acordar tão cedo, segundo que já perdemos o objetivo dessa viagem, por mim nós voltamos para o nosso tempo, agora. – Quando terminaram de falar, duas jovens passavam por eles, deixando Miguel fascinado. Uma delas chegou a olhá-lo dentro dos olhos, com um enorme frisson:

- Você viu isso? – Arguiu Miguel, sacudindo o primo, com empolgação.

- O quê? – Questionou Joshua assustado, quando olhou na direção do dedo do primo, viu as jovens. – Miguel, é titia e nonna!

- Como é que é? Cê ta de sacanagem que nonna e titia eram tão gostosas?

- Miguel, mais respeito, são nossas parentes.

- Ah Joshua, elas nem tem consciência disso... – Ao terminar de falar, ouviram uma voz atrás deles, o que assustou-os:

- Eu tinha consciência de que algo estranho os cercava! – Na hora que olharam, viram Giácomo em pé, ao lado do braço de Miguel. – Que explicação vocês têm para nos dar?

O medo se apoderou de ambos, fazendo Miguel ficar sem ter o que dizer, foi quando Joshua começou a balbuciar:

- Somos pessoas que vieram num túnel gerado por um pequeno portal, que denominamos de Interportal. Ele gera uma força centrífuga, que traga os corpos a sua frente, enviando-os para qualquer lugar, sem distinção, mas graças ao trabalho do professor Fred, meu mentor, conseguimos ser enviados no tempo até o momento de encontrá-los, tanto você quanto o nonno...

- Joshua! – Gritou Miguel. – Que cê tá fazendo?

- Mas do que este jovem está a falar? – Perguntou Giácomo, completamente sem entender.

- Nada, Giácomo, ele somente está falando coisas incongruentes...

- Não Miguel. – Interrompeu Joshua, depois de respirar bastante. – Acho melhor contar tudo a nosso tio.

- Eu, tio de vocês? Do que está a falar, rapaz? Desde quando somos parentes? E por que ele lhe chamou de Joshua?

- Desculpe confundir sua cabeça desse jeito, Giácomo, mas agora já foi dito. Meu nome verdadeiro é Joshua. Eu e Miguel somos de outro tempo, viemos para cá através de um portal dimensional...

- Joshua, meu jovem, eu também li A Máquina do Tempo, de Wells...

- Não estou falando de um livro de ficção científica, Giácomo, estou falando de realidade. Viemos de uma faculdade do futuro, num interportal, que nos transportou para esta época, pois queríamos conhecê-los quando jovens, tanto você quanto nosso nonno, Giarcarlo.

- Tu queres me dizer que Giancarlo é nonno de vós? Isto está deveras confuso!

- Por favor, sente-se, pois temos muito para lhe contar, mas peço que tenha paciência, pois a história é longa! – Mesmo sentindo-se aturdido, Giácomo sentou e ouviu o relato de Joshua, enquanto Miguel não tirava o olhar vidrado das duas moças. Ao final da história, sem contar detalhes maiores, Giácomo levantou, como se na sua cabeça pesasse o universo:

- Quella è eccessivamenteioselvaggia da credere. Devono giocare con me, solo può essere. Come sarebbe viaggio possibile nel tempo? In libro delle possibilità scientifiche di romanzo di questo esista soltanto per accadere…28

- Ei… Ora so di dove Joshua ha tolto questa mania per mumble il desodernadamente.29 – Disse Miguel para o tio e depois se voltou para Joshua. – Pronto, cê embolou a cabeça do homem que ele até esqueceu o português.

- Eu não me esqueci de nada, rapaz Miguel. Este teu modo de expressar não é comum e o relato das roupas, nem havia me tocado de quão parecido esta roupa tua e com a minha, rapaz Josu... Quer dizer, Joshua. Sendo isto verdade, apesar do absurdo, eu gostaria de mais detalhes, como com quem eu casarei, se eu serei feliz...

- Não. – Estacou Joshua. – Infelizmente este tipo de informação não poderia lhe fornecer, mas sim, você será uma pessoa muito feliz... Nem sei mais como chamá-lo!

- Prefiro que continue me chamando de Giácomo, não estou acostumado de ser tio, ainda tão novo, se podem compreender. – Os dois balançaram a cabeça, em afirmação. – Não podemos abrir isso a Giancarlo, pois ele não acreditaria, na verdade nem eu estou acreditando... Certo, não espero que entrem em mais detalhes, mas se vão conviver conosco, peço a vós que entendam meu irmão e rapaz Miguel, mantenha-se como um italiano... Como conhece tão bem a Itália? Ainda mais a região de Calábria? – Arguiu Miguel.

- Já fui para lá, como meus pais, numa viagem de verão minha mãe queria conhecer a região onde vocês dois nasceram, então meu pai deu este presente de natal para ela.

- Com certeza, é um belo presente. Nossa, é tão fácil assim viajar para os lugares? – Antes que Miguel respondesse, Joshua interpôs:

- Acho melhor esquecermos o futuro e nos concentrarmos no agora. Aonde vocês dois dormiram, Giácomo? – Meio desnorteado com aquela posição de Joshua, depois de todas as outras informações, Giácomo demorou a processar:

- Ah... Nós conhecemos uma família, no final da rua. Discendenti degli italiani. Moram aqui desde a chegada dos primeiros colonizadores. Mio fratello ficou por lá, relatando fatos atuais da Itália, quando vi as meninas deles saindo, aproveitei para me retirar também. Quando os vi aqui, sentados, decidi me aproximar. Ao ver o giovanotto Miguel falando fluentemente o português, sabia que algo estava errado. Pensei que ambos eram trapaceiros, enganadores, que pretendiam nos dar o golpe, mas isso foi muito além do que pensei. – O sorriso transbordava do rosto de Giácomo. – Quando eu imaginaria encontrar alguém do meu futuro? – Ignorando àquilo, Miguel indagou:

- Carai, sabe o que me veio à cabeça agora... Será que madrinha num é filha de titio não? – Aquilo espantou a Giácomo é Joshua. – Pô, é verdade, vocês dois quando estão nervosos, balbuciam desenfreadamente, só pode ser genético.

- Rapaz Miguel, isto foi... Inusitado! Mas o balbuciar é algo que sempre acontece a todos na família, mesmo Giancarlo faz isso...

- Então eu acho que to na família errada. – Com um sorriso desdenhoso no rosto, olhou para Joshua. – Será que não me trocaram na maternidade?

- Ah Miguel, deixa de falar besteira! – Respondeu Joshua, com um sorriso aliviante no rosto. As coisas acalmaram, mas durante um breve silêncio, Miguel falou:

- Então tio... Quer dizer, Giácomo, cê tá de olho em alguma das duas?

- Ahn?... Não meu rapaz. Nada contra as italianas, pelo contrário, as duas jovens são belas, mas não mexem comigo. Acredito que não seja o meu momento. – Falou, olhando para Joshua, que aparentou impassível.

- Então tá, vou nessa! – E seguiu na direção das meninas quando Joshua segurou no seu braço, quase sendo carregado pelo primo.

- Miguel, uma delas é nossa avó! – Disse, ao pé do ouvido do primo, sem que Giácomo ouvisse. – Miguel, dando com os ombros, pronunciou sem som audível “qual das duas?”, aquilo deixou Joshua inquieto, fazendo-o sacudir a cabeça em negação ao que o primo estava por fazer, e apontou o dedo em direção da mais loira. Se soltando de Joshua, Miguel fez sinal de ok e continuou o caminho:

- It doesn’t forget to speak in Italian!30

- Por que o inglês? – Questionou Giácomo, ao se aproximar de Joshua, que olhava o primo, desiludido.

- É uma língua que aprendemos em um curso.

- Por que ele sabe italiano e você não?

- Porque o nonno ensinou a ele, mas não a mim.

- E por que Giancarlo não fez isso? Vocês dois são netos dele, oras! – Observando o olhar curioso e atento de Giácomo, Joshua respirou fundo e disse:

- Eu sei que está ansioso para saber do futuro, Giácomo, mas não posso lhe contar, pois pode interferir no continuum e assim eu posso terminar criando outra dimensão, gerando um delta no espaço-tempo.

- Meu rapaz, tu falas difícil. Acredito que era o mais querido dos netos. – Desolado, Joshua tocou no ombro e Giácomo, fazendo-o sentar.

- Giácomo, nonno nunca me conheceu. – Aquilo arregalou os olhos do italiano. – Ele não quis me conhecer, pois minha mãe, sua sobrinha, se casou com um brasileiro, sem raízes italianas. Conhece bem o preconceito de Giancarlo quanto a isso. – Giácomo balançou em afirmação. – Então, eu vim para cá para conhecê-lo...

- Mas sua mãe, ela se casou numa igreja cristã-católica, não? Quem a levou ao altar?

- Você! – Respondeu taxativo. – Você, de certa forma, foi meu verdadeiro nonno, Giácomo. Só que não aceitava que eu o chamasse assim, pois esperava que seu irmão perdoasse a filha, como ele fez contigo... – Percebendo que falara demais, preferiu parar. Percebendo, Giácomo olhou com desconfiança, mas não persistiu. Olhando em outra direção, deixando Giácomo e Joshua, Miguel se aproximou das duas jovens:

- Attendo non interrompere niente! Buon giorno, senhoritas?31 – As duas se entreolharam e a que parecia mais nova comentou:

- Diana, ele é italiano, como aquele outro que ficou a conversar com nosso pai.

- Deu para perceber não é Minerva, mas pelo menos ele parece mais bonito, pena que é novo demais para mim. – Miguel quis sorrir, mas continuou fingindo que não entendia nada, foi quando Diana, ajeitando suas longas madeixas loiras, falou. – Você aprendeu com a vovó falar italiano, então conversa com ele. Pergunte de onde ele é...

- Está bem. – Disse Minerva, e com seus olhos cor de jade, que deixou Miguel mais fascinado ainda, ela disse a ele. – Dove di voi lode? È arrivato qui con Giancarlo e Giácomo?32

- Ah, Giancarlo e Giácomo erano venuto lo stessi in treno che laioed il mio cugino, ma noi non arrivano insieme al Brasile,ioarriva qui bene prima. Stava funzionando in una locanda dei miei zii, nel capitale.33 – Contou, dando prosseguimento no relato criado por Joshua sobre o motivo de eles estarem ali. – Il miei cugino ed io sono venuto fino a qui, conoscere il posto di atterraggio del nostro dello stesso paese un quando erano arrivato al paese. Miniera di fortuna da attraversare con i giovani così bei, che il relativo favore?34

- Denomino Minerva e la mia sorella se denomina Diana. Esso siete gentile dire che sono bello, ma tutti parlano che la mia sorella è più graziosa.35 – Interrompendo a conversa dos dois, Diana exclama:

- E então, sobre o que estão falando?

- Sobre você. Ele disse que nós duas somos lindas, mas disse-lhe que todos elogiam a tua beleza, acima de todas.

- Já disse para não se menosprezar Minerva, você é mais bela que eu, só que ninguém ainda descobriu, pois és jovem. Babbo já se referiu várias vezes a ti como “olhos com cor do mar profundo”, isso é um grande elogio. Mas continue a conversa, não o deixe com essa cara de bobão. – Miguel gargalhava por dentro, mas não podia deixar refletir. Aprendera com o passar dos tempos a fazer cara de desentendido, ainda mais convivendo com seu primo Joshua, que sempre usava fórmulas e teorias em suas conversas. A pergunta que não saía de sua cabeça era: “Por que Joshua?”, já que os dois não tinham nada a ver, mas ele sempre encontrava a resposta, pois ele considerava o primo um aliado, o seu maior companheiro e amigo:

- Intendono essere molto tempo questo senso?36 – Ela perguntou.

- Bene, non so. Credo che dobbiamo ritornare presto verso il capitale, ma perchè voi non mostrate la regione me. Sarò molto felice nel sapere…37 - E antes que pudesse terminar, Joshua chegou e puxou o primo:

- What it thinks that’s making?38 – Ele questionou Miguel.

- Which its problem, Joshua? We have to use to advantage while we are here.39

- My problem…? – Esbravejou Joshua. – I’m not that I am giving on of my grandma and the sister of it…40 - Percebendo o tom de discussão dos seus recém descobertos sobrinhos, Giácomo decidiu distrair as duas jovens:

- Buon giorno minhas jovens, é meu irmão, aonde se encontra? – Se desviando da discussão de Joshua e Miguel, Diana proferiu:

- Bom dia, signore Giácomo. Ele ficou a conversar com nosso babbo a respeito da Itália. Ele parece muito apaixonado pelo seu país.

- Sim, meu irmão é... Como se diz?... Deslumbrado pelo nosso país. Precisou que fossemos convocados para a guerra, para convencê-lo a vir.

- Vocês foram convocados? – Diana pareceu fascinada, enquanto Minerva se mantinha entretida com a discussão de Joshua e Miguel. – Mas por que não aceitaram a convocação?

- Ah, são tempos difíceis na Itália, minha cara. O governante do país se aliou a outros governantes de natura dubbiosa, por isso nostro padre preferiu que nós viéssemos para o seu país, assim não teríamos de sofrer a vergonha de servir a um homem que se mistura com assassinos.

- Mas como assim?

- Corre uma história de que o governante della Germania construiu campos de concentração e que neles, aqueles que não se submetem, são mortos. Disseram também que ele odeia os ebrei e por isso os mata, também.

- Ouvimos no rádio que todos estão sendo convocados para ir à guerra. Que o presidente enviará soldados nossos para a região da guerra, parece que eles irão para o seu país.

- Se for assim, só posso desejar-lhes boa sorte e agradecer a Deus por não estar lá. – Percebendo que os dois ainda discutiam e que Minerva parecia entretida com aquilo, Giancarlo procurou lhe chamar a atenção. – E aonde as duas estavam a ir?

- Ah, - disse Diana, cutucando a irmã. – nossa mãe pediu que fossemos ao mercado. Será que o signore e seus amigos nos acompanhariam? – Se aproximando de Joshua e Miguel, Giácomo respondeu:

- Seria um imenso prazer acompanhar as duas jovens. – Percebendo que falavam com eles também, Joshua respondeu:

- Seria de muito agrado acompanhá-las. – E Miguel, por sua vez, falou:

- Sarei adulato in quanto segue.41 – E seguiram com as jovens. Eles permaneceram atrás dela, em sinal de respeito, cochichando:

- Por que não podemos seguir ao lado delas? – indagou Miguel.

- Em sinal de respeito, devemos deixar as jovens seguirem à frente. Somos acompanhantes, não noivos. – Retrucou Giácomo. – A mais jovem, Minerva, ficara entretida na conversa de ambos, será que ela compreendeu o que diziam?

Joshua refletiu sobre o que Giácomo falara, mas não recordava de comentarem que Diana, tia-avó dele e de Miguel, compreendesse inglês:

- Eu acredito que não. O inglês era uma língua pouco difundida nesta região do país, então acho difícil... – Antes de continuar, percebeu que estava deixando Giancarlo confuso, novamente. – Desculpe, ti... Quer dizer, Giácomo.

- Tutto Il buon, é que ainda não me acostumei com essa idéia de viaggio nel tempo, mas vamos, elas entraram logo ali. – E aceleraram o passo, entrando logo depois delas.

Ao saírem, carregavam as compras das jovens, que seguiam à frente, cochichando e rindo. Miguel, devido ao seu porte físico, era o que carregava o mais pesado:

- Carai, como elas iriam carregar tanto peso? – reclamou, aos murmúrios.

- Tenha compostura, rapaz Miguel. – Censurou Giácomo. – Rapaz Joshua, percebeste na jovem que estava no estabelecimento, acompanhada do pai? – Joshua reformulou tudo em sua memória, para ver se encontrava o rosto que Giácomo falava e lembrou que fora a primeira pessoa que ele reparara dentro do mercadinho, assim que entraram:

- Sim, uma jovem índia. Deve ser nativa a região.

- Tens certa razão. Será que seria muito incomodo eu convidá-la, pois desconheço os costumes dos nativos de a cá.

- Giácomo, eu acredito que somente ela poderá lhe responder isso, ou ela ou o pai dela.

- Estais deveras certo neste argumento. Mais tarde retornarei ao centro para ver se consigo localizá-la. – Joshua nunca pensara que eu tio-avô fosse tão determinado. - E gostaria que viesse junto, pois caso eu fique nervoso, poderás me ajudar... E quem sabe, encontre alguém que lhe interesse, também.

- É, quem sabe. – Argumentou desdenhosamente Miguel, pois sabia que o primo faria qualquer coisa, menos trair suas lembranças sobre Alicsirp. Joshua olhou irritado para o primo, mas concordou em ir, pois adoraria conhecer sua tia-avó jovem, também.

Quando chegaram a casa delas, Minerva falou para Miguel, com um sorriso no rosto:

- Può prendere questo per la cucina, la mia madre riceverà da voi.42 – E seguiu para a cozinha, com Joshua e Giácomo atrás. Ao chegar lá, Miguel colocou o que carregava sobre uma grossa mesa de madeira, que aparentava ser bem pesada:

- Signora Ceres, trouxemos suas compras. – Ceres se encontrava de frente para um fogão de lenha, de costas para eles. Era uma mulher corpulenta. Seus cabelos negros formavam um coque, em cima da cabeça, presos desgrenhadamente, aparentando ter sido feito as pressas.

- Grazie, jovem Giácomo. – Quando se virou, reparou nos dois rapazes ao lado de Giácomo. – Quem são estes?

- Desculpe-me minha senhora, eu me chamo Josué e este é meu primo Miguel. Ele veio da Itália, como Giácomo e Giancarlo. – Joshua disse, pegando na mão grossa e calejada de Ceres e beijando-a. – Viemos da capital para a cá, na intenção de conhecer aonde nossos parentes desembarcaram ao chegar no país.

- Que coisa boa. Então és descendente de italiano?

- Sim senhora, mas somente em parte. Minha mãe é casada com um brasileiro, descendente de portugueses.

- Ora, mas não somos todos brasileiros? Sem contar com o jovem Giácomo, Giancarlo e seu primo aqui, todos nós nascemos e vivemos nesta terra abençoada. – Ela abriu um sorriso amarelado. – Fico imensamente agradecida pela bonaventura de vós. Peço-vos que fiquem para o almoço.

- Se não for nenhum incomodo. – Replicou gentilmente Joshua.

- De jeito maneira, será um imenso prazer. Por favor, jovem Giácomo, siga com os jovens para a sala de visitas, meu marido deve estar por lá com vosso irmão. – E eles saíram da cozinha atrás de Giácomo:

- I wait that it hasn’t forgotten that I’m dissimulating not to know Portuguese, “Josué”.43 – Esbravejou Miguel.

- It can leave, I didn’t forget, but it now painted distrust with the commentary of Giácomo. E if Minerva will understand what we talk?44 – Indagou Joshua.

- This would be possible? I never knew of it to know the English.45 – E pararam de falar assim que chegaram à sala, com Joshua dando com os ombros. No sofá estava sentado Giancarlo, enquanto numa cadeira, que mais lembrava uma espreguiçadeira, estava sentado o pai de Diana e Minerva, Enéias. Os três se aproximaram, ao sinal deste:

- Buon giorno, giovane Giácomo, quem são seus amigos? – Perguntou entre uma tragada do seu cigarro de palha, que empesteava a sala com o cheiro, mas antes que pudesse responder, Giancarlo interpôs:

- Sono i due giovani che erano venuto lo stessi in treno che io ed il mio fratello. Uno è stato sopportato in Italia, come noi e l'altro è sopportato qui, nel paese.46 – As últimas palavras foram ditas com certo desdém, mas Enéias preferiu ignorar e continuou:

- Bem, um jovem nativo, como nós. – Ele sorriu, sem dentes estavam amarelados, devido ao fumo. – O que lhes trazes aqui, jovens? Ah, pardons me ma non deve non capire niente di che cosa dico, io che ho chiesto che cosa portate loro qui.47

- Nós viemos descobrir mais sobre o local onde nossos parentes desembarcaram. – Respondeu Joshua. – Meu nome é Josué e este é meu primo Miguel, ele veio de Calábria, também.

- Minha família, os Gialdi, vieram da Província de Parma, na região de Emilia-Romagna. In quale provincia pagamento rinviato la relativa famiglia, Miguel?48

- Sono venuto della provincia di Catanzaro.49 – Respondeu Miguel.

- Catanzaro? Ma i membri della relativa famiglia non erano venuto durante l'immigrazione grande del secolo XIX? Non mi ricordo del mio padre per non accennare nessuno di Catanzaro. Senza contare quel conosco tutti qui le famiglie residenti e nessuno di questa provincia.50 – Miguel ficara nervoso, mas tentando não demonstrar falou com o primo, em inglês:

- I find that I complicated myself. It wants to know on the region of Catanzaro, therefore nobody lode of this province for here in the period of the great immigration.51 – Enéias estranhou a lingual que Miguel falava:

- Que idioma é está que ele está usando. – Num ato de impulso, Joshua respondeu:

- Inglês, senhor. Com sua licença. – E respondeu ao primo. - I don’t know I eat to help it; therefore my knowledge on the great immigration is well distinct. You don’t remember you’re welcome not, anything that grandpa can have mentioned?52

- Not, it’s silly one. One forgot that grandpa arrived now and it did not come with the other immigrants?53

- Then he thinks about something, fast, therefore it will start to distrust.54 – disse, percebendo que Enéias começava a olhá-los de modo estranho. Percebendo uma pausa na conversa dos dois, Eneías disse:

- Inglês? Minha filha mais nova estava aprendendo inglês, pois desejava ir para a guerra, mas não podia permitir que ela se envolvesse neste conflito. Se quiser posso ajudá-los, chamando-a. – Aquilo revirou o estômago dos dois, ela então podia entender o que eles falavam e deixava-os bem encrencados. Percebendo que ambos haviam se metido numa baita encrenca, Giácomo decidiu intervir:

- Você chegou a mencionar a província de Cosenza, Josué, acredito eu. – Percebendo a ajuda de Giácomo, Joshua se retomou e Miguel respirou aliviado:

- Ah sim, Cosenza, província de Calábria. Perdoe-nos senhor, é que quando iniciamos uma conversa em inglês, esquecemos do resto. - Sorriu, olhando pro primo, que fingia não compreender nada, assim como Giancarlo, que não entendia mesmo. – Nossa família vivia na província de Cosenza, mas depois que alguns vieram para o país, os outros foram para Catanzaro, onde Miguel nasceu.

- Ah sim, completamente compreensível. Bem, o importante é que estão aqui e poderemos conversar bastante. – Percebendo que Giancarlo não compreendia nada, se desculpou com o italiano:

- Mille giustificazioni, il mio giovanotto costoso, li lasciamo del colloquio all'esterno.55

- Se non importa con questo. Per l'abilità, dovrò imparare la vostra lingua, per potere partecipare ricompensa delle parole dette.56 – Falou Giancarlo, mio acanhado.

- Ciò non sarà problema, i miei più vecchi studi del figlio da essere insegnante. Così essendo, potrà da insegnare esso. – Olhou para Miguel e disse. - Per i giovani anche, se così volere.57

- Sarà un piacere, signore…58

- Dove sono i miei sensi, il mio nome è Enéias.59 – E cumprimentou Miguel, depois se virou para Joshua e se apresentou também. – Meu nome é Enéias, Enéias Gialdi.

Tradução:

28 – Isto é louco demais para eu acreditar. Eles devem estar brincando comigo, só pode ser. Como seria possível viagem no tempo? Somente em livro de ficção científica existem possibilidades disso acontecer...

29 - Ei... Agora eu sei de onde Joshua tirou essa mania de balbuciar desodernadamente.

(...)

30 - Não esqueça de falar em italiano!

(...)

31 - Espero não estar interrompendo nada! Bom dia, senhoritas?

32 - De onde você veio? Chegou aqui com Giancarlo e Giácomo?

33 - Ah, Giancarlo e Giácomo vieram no mesmo trem que eu e meu primo, mas não chegamos ao Brasil juntos, eu chegue aqui bem antes. Estava trabalhando em uma pousada dos meus tios, na capital.

34 - Meu primo e eu viemos até a cá, para conhecermos o local de desembarque de nossos conterrâneos quando chegaram ao país. Sorte a minha cruzar com tão belas jovens, qual a sua graça?

35 - Eu me chamo Minerva e minha irmã se chama Diana. Você é muito amável em dizer que sou bonita, mas todos falam que minha irmã é a mais graciosa.

36 - Pretendem ficar muito tempo por aqui?

37 - Bem, eu não sei. Acredito que deveremos voltar em breve para a capital, mas por que vós não me mostrais a região. Ficarei muito feliz em conhecer...

38 – O que pensa que está fazendo?

39 - Qual o seu problema, Joshua? Temos de aproveitar enquanto estamos aqui.

40 – Meu problema...? (...) Não sou eu que estou dando em cima de minha avó e da irmã dela...

41 - Eu ficaria lisonjeado em acompanhá-las.

(...)

42 - Pode levar isso para a cozinha, minha mãe receberá de você.

(...)

43 - Espero que não tenha esquecido que estou fingindo não saber português, "Josué".

44 - Pode deixar, não esqueci, mas pintou um receio agora com o comentário de Giácomo. E se Minerva estiver entendendo o que conversamos?

45 - Isso seria possível? Eu nunca soube dela conhecer o inglês.

(...)

46 - São os dois jovens que vieram no mesmo trem que eu e meu irmão. Um nasceu na Itália, como nós, e o outro é nascido aqui, no país.

47 -... perdoa-me mas não deve estar entendendo nada do que eu digo, eu perguntei o que lhes trazes aqui.

48 -... Em qual província mora sua família, Miguel?

49 - Eu vim da província de Catanzaro.

50 - Catanzaro? Mas membros de sua família não vieram durante a grande imigração do século XIX? Não me lembro de meu pai mencionar ninguém de Catanzaro. Sem contar que conheço todas as famílias residentes aqui e ninguém desta província.

51 - Acho que me encrenquei. Ele quer saber sobre a região de Catanzaro, pois ninguém veio desta província para a cá. no período da grande imigração.

52 – Eu não sei como ajudá-lo, pois meu conhecimento sobre a grande imigração é bem distinto. Você não se lembra de nada não, qualquer coisa que vovô possa ter mencionado?

53 - Não, seu bobo. Esqueceu-se que o vovô chegou agora e não veio com os outros imigrantes?

54 - Então pense em algo, rápido, pois ele começará a desconfiar.

55 - Mil desculpas, meu caro rapaz, deixamos você fora da conversa.

56 – Não se importe com isso. Pelo jeito, terei de aprender o vosso idioma, para poder participar mais gratificantemente das conversas.

57 - Isso não será problema, minha filha mais velha estuda para ser professora. Assim sendo, ela poderá lhe ensinar.(...) Para o jovem também, se assim desejar.

58 – Será uma honra, senhor...

59 - Aonde estão meu modos, meu nome é Enéias.