sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Odal Ortuo Od - Segunda Parte

Segue a continuação da primeira aventura de Joshua e Miguel...
Antes leiam a primeira parte. Espero que gostem!
A vila era conhecida como Aiarp e era um enorme contraste com o terreno árido, do qual eles vinham, parecendo algo impossível. Uma grande extensão de mar surgia no horizonte, haviam árvores, gramíneas, diversos tipos de plantações, mas tudo a um limite, como se separasse a região desértica da vila.

Falando praticamente sílaba por sílaba, Joshua perguntou a Ocit, por que chamavam-na de Aiarp, ele apontou para o extenso trecho de água e disse:

- Porque Aiarp nos banha, dando comida e matando nossa sede... – sem mais o que questionar, após conseguir traduzir a resposta, Joshua começou a se concentrar nas moradias a sua volta. Eles moravam em cavernas:

- Por que cavernas? – perguntou e Ocit respondeu:

- São saturg! - Essa tinha sido fácil, mas Ocit ofereceu algo parecido com um lápis. Pegando o objeto, o rapaz ficou espantado com a criatividade:

- Que interessante, é carvão revestido com um tipo de cipó. Engenhoso! – então escreveu na madeira da carroça: - “Por que vocês moram em saturg?”, esperando Ocit ler, ouviu Miguel:

- Como aprendeu a escrever assim?

- Leonardo Da Vinci! – respondeu.

- O que tem ele?

- Nos meus estudos autodidatas de filologia, descobri que Leonardo Da Vinci tinha o costume de escrever ao contrário, então me acostumei a fazer o mesmo, pois assim posso guardar segredos, sem medo de alguém tentar ler. – Disse. Ao perceber que Ocit terminara de ler, lhe entregou o objeto de escrita, esperando a resposta. Com um olhar de desaprovação, ele sacou um bolo de folhas juntadas por um tipo de resina natural e indagou:

- Por que não me pediu o caderno antes? – o nível de vergonha chegou ao extremo em Joshua. Avaliara que, por eles morarem em cavernas, tinham um modo rudimentar de escrever, se expressando em paredes ou em qualquer lugar que pudessem se entender, mas percebera tarde demais que as tábuas da carroça não possuíam nada escrito, a não ser por ele.

Após escrever em uma das folhas, Ocit a arrancou cuidadosamente e entregou à Joshua, que leu em voz alta:

- “Saturg são as moradias que Arret nos deu. Ela é a deusa-mãe, que nos dá o que comer como Aiarp. É a força mantenedora, que unida a Uec, cuida de nós. Los e Aul são seus filhos que dividem o tempo, mantendo o equilíbrio”... – em um tom sarcástico, Miguel falou:

- Não servem pra você, Joshua, eles têm uma religião...

- É mais que isso, Miguel. – Disse o jovem, ajeitando os óculos. – Apesar de um intelecto avançado, eles ainda possuem a crença de que o solo e o firmamento, acima de nossas cabeças, são deuses. Estamos numa comunidade politeísta, eles crêem que tudo a volta deles são divindades, como Aiarp, que é mais do que o nome da vila deles...

- Aiarp? – retrucou Ocit, ao entender o nome, e voltou a escrever. Achava aquilo trabalhoso, mas estava gostando de poder se comunicar com os estrangeiros. Ao terminar, entregou uma nova folha a Joshua:

- O que diz aí, agora? – questionou Miguel.

- Ele só repete e afirma que Aiarp, como Arret, lhes dá comida e cessa a sede. – responde Joshua, e pensando no que falar, arranhou palavras inversamente:

- Quem é o líder? – Aquela conversa, próximo a carroça, chamou a atenção dos outros moradores. Uma mulher saiu da aturg que eles pararam na frente e falou com Ocit:

- Quem são estes gigantes, marido? – Ele a beijou e disse:

- São estrangeiros, esposa. – Pediu a folha a Joshua e escreveu no verso: - “Essa é minha esposa, Aivalf”, e entregou para o rapaz, que tornou a ler em voz alta, para que o primo soubesse de tudo. Vendo a atitude do marido, Aivalf o interroga:

- Desde quando você gosta de escrever, marido? – Percebendo a aglomeração, Ocit chama os três para entrarem. Joshua era mais alto que Ocit e Aivalf, mas Miguel era bem mais alto que ele, o que parecia para os diminutos seres, igual um gigante. Com seus 1,78 m, Miguel ultrapassava Joshua em dez centímetros, então foi certo incomodo para ele, mais do que para seu primo, entrar na aturg. Ao entrarem, Joshua reparou na quantidade de espaço que a moradia possuía, e como fora aproveitado. As estalagmites foram transformadas em locais para se sentar, coberto de almofadas dos mais diversos tipos e tamanhos. Eles tinham muitos enfeites, com pele de animais e, no meio daquilo tudo, eles tinham uma fonte natural, que caía dentro de uma piscina que não transbordava o que Joshua desconfiou fazer parte de um leito que deveria ir até o mar ali próximo, fazendo um processo de reciclagem natural da água. Olhou para Miguel, que parecia espantado com aquilo tudo:

- Meu filho, Onurb – falou Ocit, colocando a mão sobre o ombro de um jovem, que tinha sua altura, mas aparentava ter doze anos. Fez um gesto para ficarem a vontade e entraram mais no fundo da aturg, com o filho e a esposa.

Miguel correu à fonte e colocou a mão embaixo:

- É fria... – encheu a mão e bebeu. – e parece fresca, doce. Podemos bebê-la! – Joshua se aproximou do primo e fez o mesmo. Beberam o bastante para saciarem a própria sede, então Miguel foi em direção do sofá de pedra e sentou sobre as almofadas:

- Caramba, Joshua, estas almofadas são muito macias. – pegou uma na mão e apertou. – São feitas de pena! – Então surgem Ocit e Onurb, fazendo Miguel se levantar no salto. Gesticulando para que se sentissem a vontade, os anfitriões entregaram uma folha escrita a Joshua. Se sentando novamente, o rapaz pergunta ao primo:

- O que eles escreveram?

- “Somos uma família humilde, vivemos do que Arret nos dá para comer, assim como Aiarp, que também supre a nossa sede. Eu, Ocit e meu filho, Onurb, os levaremos até o Dono”... Dono? Ele têm um dono?

- Talvez seja como aturg ou mesmo o nome deles, então seria... Onod? – Falou Miguel, levantando-se do sofá e indo em direção ao primo.

- Você deve estar certo Miguel... – afirmou Joshua. Pediu o lápis a Ocit e escreveu: - “Está bem, mas não nos importamos com quantidade ou qualidade, e sim com hospitalidade. O importante mesmo é que vocês têm o suficiente para si. Se puderem nos ajudar, ajudaremos vocês”, entregando para Ocit, que leu e sorriu humildemente, sacudindo a cabeça em afirmação:

- O que você escreveu? – Questionou Miguel, mas Joshua ignorou e disse:

- Bem, agora vamos até o Onod! – convidou o primo, indignado por não obter uma resposta, e os dois moradores daquela aturg para irem até seu próximo destino.

Ao saírem pela porta, aparentemente a vila inteira estava ali. Abrindo caminho entre eles, um homem de voz grave e rouca, chegava gritando:

- Deixem-me passar! Deixem-me passar! – Era um homem atarracado, com uma aparência robusta, mas apesar do seu tamanho, era mais alto que Ocit.

As definições de altura eram muito estranhas, pois todos eram mais baixos que Joshua, que ainda era dez centímetros mais baixo que Miguel, transformando este em um gigante entre todos:

- O que é isso Ocit? Quem são essas pessoas? – resmungou Solrac.

- São estrangeiros Onod. Encontrei-os perdidos em Otresed, quando eu voltava de Opmac... – Joshua e Miguel não entendiam nada, por mais que prestasse atenção na conversa, as palavras fluíam rapidamente:

- Como nos trás gigantes até o povoado, quando o Espilce está para acontecer? – a palavra foi ressaltada, chamando a atenção de Joshua, que conseguiu traduzi-la como eclipse e pensou: - “Por que temem a um eclipse?”, mas continuou a prestar atenção na conversa, para ver se conseguia captar mais alguma coisa:

- Eles pediram rendição e foram bem simpáticos, apesar de discutirem muito entre si. O maior não entende nada, mas o menor é bem inteligente, como a aiceforp diz. – Outra palavra se destaca e é traduzida facilmente por Joshua, profecia, então ele formula bem a pergunta a fazer para Ocit:

- Que profecia, Ocit? – mostrando a palma da mão aberta, em sinal de espera, para Joshua, o pequeno homem continuou sua conversa com seu líder:

- Estava levando-os ao honorável Onod, mas ele veio até nós! – concluiu, se curvando enquanto falava, em sinal de reverência. A curiosidade de Joshua parecia fervilhar dentro dele, mas Miguel parecia intrigado por perceber a ansiedade do primo, o que demonstrava que ele entendera alguma coisa daquela conversa:

- Joshua, o que você entendeu desta conversa toda? O que você perguntou para eles, que ficou sem resposta?

- Somente duas palavras e em frases diferente, vindas cada uma de cada um deles...

- Quê?

- Cada um deles falou algo, que consegui entender uma das palavras, que eles ressaltaram. – Disse. – Eclipse e profecia... Mas não imagino o sentido que elas têm...

- O que eles estão falando? – resmungou Solrac.

- Também não faço a mínima idéia, Onod.

- Eu sei, - disse uma voz no fundo da multidão, que foi se aproximando. – lembra papai, que eu estava aprendendo uma língua nova com o professor Ocirederf. Ele me ensinara a inverter nossas palavras, tanto na escrita, quanto na fala. – Uma linda jovem surgiu do meio da multidão curiosa:

- Alicsirp, minha filha, será que poderia nos dizer então os que eles falam?

- Eles tentam nos entender, como nós a eles. Estão tão curiosos quanto nós. – Disse isso, encarando Joshua, e então falou, de forma completamente compreensível para Joshua e Miguel. – Olá, meu nome é Alicsirp, filha do Onod Solrac, e futura Anod de Aiarp.

Joshua parecia fascinado com aquilo, mas Miguel sentindo aliviado, foi o primeiro a falar:

- Pô, finalmente alguém que fala certo...

- Entendam, para nós, vocês falam errado. – Ela respondeu. Sua voz era aveludada, ressoando docemente aos ouvidos de Joshua. Ele a observava, ela tinha belos cabelos compridos e anelados, que atingiam seu ombro, seu rosto tinha um desenho suave, numa pele num tom amorenado. Seus olhos tinham a mesma tonalidade dos dele, como se fosse um olhar no espelho. Ela possuía também o mesmo olhar de Joshua, de busca de conhecimento, de fascínio:

- Como aprendeu a fala igual a nós? – perguntou, afinal.

- Tive um professor particular, Ocirederf, tinha uma teoria de que existem outros povos além deste plano que estamos. Ele então tentou aprender a língua dos outros povos e as invertia, assim sua capacidade de tipos de falas se triplicava. Ele me ensinou tudo, sempre afirmando que uma Anod deve ter conhecimentos além das fornteiras no tempo e no espaço. Na verdade, nunca pensei que viria a ultilizar este tipo de língua, mas parece que estava errada...

- Você fala muito bem...

- Estudo idiomas desde nova. Sou preparada desde cedo para ser a futura Anod. – falou, encarando fixamente Joshua. E vocês, de onde são? Como chegaram aqui? – Se interpondo, Miguel falou:

- Caramba, pergunta isso não, que ele vai enrolar, fazendo observações científicas...

- Eu adoraria ouvir. – Falou, deixando Miguel no meio de uma fala. Continuou olhando para Joshua. – Conte-me tudo, adoraria aprender.

Exatasiado e fascinado, Joshua sentiu a presença da mão dela, tocando a sua e segurando-a:

- Sua mão é macia. – Ela disse.

- A sua também. – Exclamou, timidamente. Vendo o rosto dela corar e um leve sorriso se formar, ele sorriu também. Então ela disse, na própria língua:

- Vou conversar com este estrangeiro, depois lhes comunicarei o que conversamos... – Solrac se aproximou dela e disse:

- Cuidado minha filha, não podemos confiar nestes gigantes, eles não conhecem nossas tradições...

- Meu pai, eu sei como me cuidar. Quando terminar minha conversa com ele, lhe contarei tudo. – Enquanto isso, Miguel falava com Joshua:

- Qual o lance das mãozinhas dadas?

- Não sei, ela deve querer conversar comigo em particular, acredito. A medida do tempo que passamos aqui, começo a compreender um pouco mais do jeito deles falarem...

- Aê Joshua, chega de blá-blá-blá... Ela pode ser a mó gatinha, mas cuidado. Não conhecemos nada dos hábitos deste pessoal, eles falam super-diferente, não nos entendem e nem nós a eles, aí aparece uma mina mó linda, sei não... Sinistro demais!

- Acredito que você está desconfiado a toa. Pelo menos, agora, posso descobrir mais como aquelas duas palavras se encaixam... – ela se interpôs entre os dois:

- Vamos?

- Peraê, aonde cês vão? – retrucou Miguel, preocupado.

- Precisamos conversar, em particular. – Ela respondeu, puxando Joshua e deixando Miguel atordoado:

-Peraí, faz isso não! Ô Joshua! Joshua, num me deixa aqui sozinho, não! Pelo menos você escreve, como vou fazer pra me entender com esse pessoal? – Só que era tarde e ele viu o primo pelas costas, tomando distância. Apesar dos gritos e berros, que levou a todos os moradores olharem estranhamente para ele, ficou no vácuo e completamente solitário, no meio de tantas pessoas da vila. Olhou para eles, que os observava, e disse:

- Let’s play?

Joshua e Alicsirp se distanciaram bastante da aglomeração, indo parar as margens de Aiarp. Que quebrava em pequenas marolas, com espumas cintilantes.. Sentaram-se no solo fofo e deixaram os pés, que eles descalçaram, serem molhados pelas quebras d’água. Sentindo uma vontade crescente em interrogá-la, Joshua foi o primeira a quebrar o silêncio:

- Por que somente eu? Meu primo também tem direito de participar desta conversa...

- Sim, eu sei, mas de acordo com Ocit, você é o mais inteligente dentre os dois. Ele já deve ter lhe contado algo sobre nossas crenças, não?

- Sim ,ele mencionou sobre Arret, Uec, Los e Aul, mas durante a conversa de seu pai com Ocit, consegui identificar duas palavras, espilce e aiceforp, o que significam?

- Bem, não sou tão crente quanto o resto do povo, mas vou lhe contar nossa mitologia...

- Você não é tão crente?

- Na verdade, não acredito no mesmo que eles. Ocit e todo o povo acreditam em uma aiceforp que já foi desmistificada pelo professor Ocirederf, só que ele foi considerado um descrente, foi xingado de oxurb e sacrificado.

- Sacrificado? – Joshua engoliu a seco, assustado. – Mas por que fizeram isso?

- Bem, para você entender melhor, preciso lhe contar nossa mitologia: - “Tudo se inicia com Uec. Quando este decidi se unir a Arret e untar os dois reinos, geram filhos, Los e Aul. Los se casa com Aid e Aul com Etion. Los, sempre fiel, nunca deixa Aid sozinha, enquanto Aul, sempre larga Etion só, o que a leva a ter um ciúmes doentio. Quando Aul reina sobre Etion, com seus filhos, salertse, chamamos de Aralc Etion, mas quando Aul desaparece do firmamento, deixando Etion sozinha com seus filhos, chamamos de Arucse Etion. Só que, de vinte em vinte anos, Etion explode de ciúmes, e cobre Aid e expulsando Los, achando que Aul é seu amante, e solta seus sovroc, causando o Espilce.

- Um eclipse solar!

- Um o quê? – perguntou Alicsirp, surpresa.

- Um eclipse solar é um acontecimento muito raro de se acontecer, podendo variar de tempos em tempos, mas é o momento em que o satélite natural que rodeia seu planeta se interpõe diante da estrela, causando uma enorme sombra, ou melhor, uma escuridão temporária. Os eclipses podem ser totais, onde a escuridão é plena, parcial, onde somente um canto da estrela é tampado, ou anular, onde se cria um anel de luminosidade em volta do satélite natural, no caso de vocês Aul.

- Fascinante! – Ela exclamou. – Você tem a mesma noção de Ocirederf... Mas isso não explica os sovroc!

- Devem ser morcegos, – pensou bem na resposta. – ou melhor, sogecrom.

- Sogecrom?

- Sim, eles devem sair mais cedo em período de eclipse... Isso sempre acontece?

- Não sei, pois nunca sai durante o Espilce, e nunca foi permitido a ninguém fazê-lo. Só que, dias atrás, Ocirederf testemunhou ter saído durante o último. Foi no dia em que eu nasci. Ele disse que não era nada demais, somente um breve desaparecimento de Los, depois ele retornava, como se nada tivesse acontecido. Só que a relatos nos livros antigos que falam sobre ataques de animais enormes, mas nunca pensei em sogecrom. Os que eu vi, durante o dia, eram pequenos...

- Mas com as asas abertas, eles aumentam a própria envergadura, parecendo maiores do que são. – argumentou. Alicsirp estava encantada com Joshua, completamente extasiada com todo seu relato. Ele a lembrava tanto de seu mestre, por quem um dia revelou uma paixão. Ocirederf, meio encabulado com tal revelação, lhe disse:

- “A confusão que faz é completamente natural. Sinto-me honrado com tal revelação, mas acho que está confundindo os sentimentos. Você é jovem, Alicsirp, está em período de descobertas, um dia aprenderá a entender melhor seu sentimentos. No momento acredito que esteja confundindo o seu sentimento com admiração. Um dia, encontrará um jovem, da sua idade provavelmente, no qual sentirá esta paixão, mas talvez não saiba identificá-la, e confundirá com admiração”. – Aquela lembrança veio como um baque para ela, tanto que Joshua se assustou com o olhar perdido dela:

- Aconteceu alguma coisa? Você está bem?

- Ele rop adanoxiapa uotse? – falou, num murmúrio e rapidamente.

- O quê você disse? – retrucou Joshua, que não entendera nada.

- Não... Nada... Estou bem, sim, é que me lembrei de algo que meu professor me falou...

- Você gosta muito dele, não é?

- Sim, - disse de forma sonhadora. – eu tinha uma grande admiração por ele. Tudo que ele estudava, o que ele aprendia, sua sabedoria... Mas era só isso. – E sentiu um frio na barriga, ao confirmar.

- Que bom. – Respondeu Joshua, sorrindo. O sorriso dele fez o rosto dela corar e esquentar, o corpo começou a formigar:

- No que você acredita, Joshua? – perguntou com uma voz melodiosa, que até mesmo ela estranhou.

- Eu... Bem, num contexto geral, acredito que sempre existe uma explicação para tudo...

- Não é disso que estou falando. – Falou, meio contrariada, mas retornou rapidamente ao tom anterior. – Você acredita que existe uma pessoa para cada um? Romances espontâneos? Amor à primeira vista?

- Por que está perguntando isso? – retrucou Joshua, sentindo a boca secar.

- Não, nada... – respondeu, como se despertasse de um transe. – É que, há muito tempo atrás, meu professor soltou a teoria sobre amores repentinos, e eu queria se você tinha a mesma teoria. – Achando aquilo sem cabimento, Joshua preferiu ignorar e retomar a conversa anterior:

- Bem, mas você não falou sobre aiceforp. O que isso tem haver conosco?

- Com vocês, não, com você! Isso é parte do mito. Dizem que um gigante, munido de enorme sabedoria, convenceria Etion de que Aul não a trai com Aid, e que era para desistir de tomar o lugar que pertence a ela, deixando-a em paz com Los. Dizendo em poucas palavras, o Espilce acontecerá dentro de três ciclos e você será nosso salvador, expressando seu feito na pedra de frente à alupúc, onde nos escondemos. – Joshua ficou estático com aquilo. “Ser salvador” não estava nos objetivos dele.

Levantaram-se. O Los já havia se posto, dando lugar a Aul, Etion e Salertse, seus filhos. Eles voltaram ao centro, que já estava vazio. Alicsirp retorna ao seu lar, enquanto Joshua volta para a aturg de Ocit, onde Miguel o espera, sentado na carroça:

- E aí?

- E aí, o quê?

- Se beijaram?

- Fala sério, Miguel?! Nós fomos lá para conversar, não para paquerar...

- Ah sei... Então tá, ô virgem, sobre o que conversaram? Ela falou o que queria dizer as tais palavras, no contexto geral?

- Sim, fazem parte de um crença deles, um tipo de profecia. – falou, enquanto se sentava ao lado do primo:

- Então conta aí! – Exclamou Miguel e Joshua iniciou o relato, de tudo que Alicsirp havia lhe falado:

- Você, herói e salvador? – ponderou Miguel, em tom de surpresa, ao fim da revelação, e então argumentou, pesadamente. – Cê tá ferrado, cara! Só espero que estejamos de volta a nossa Terra, quando daqui a vinte anos, eles perceberem que vocÊ não fez nada...

- Eu não quero estar aqui amanhã! – exclamou Joshua, abruptamente. – Não quero ser a pessoa a mentir para este povo dentro de três meses, e nem quero ser morto, por tentar revelar a verdade. Amanhã escreverei a Ocit, pedindo para nos levar aonde nos encontrou.

- Mas por que isso? – Pergunta Miguel, espantado com a reação do primo.

- Pra que ficarmos mais aqui? Você já teve sua aventura, até de gigante eles te chamaram, e eu tenho fatos e relatos suficientes para o resto do meu período na universidade. Poderia fazer uma defesa de doutorado com o que testemunhamos aqui. O que mais temos para fazer?

- E a... Como é mesmo o nome dela?

- Alicsirp?! O que tem ela?

- Nomezinho complicado... – comentou Miguel, em voz baixa. – Olha, posso não entender esses nomes ou mesmo o jeito de escrever ou falar desse povo, mas quando pinta um clima, dá pra sacar...

- Que clima? – retruca Joshua, com o rosto esquentando. – Não sei do que você está falando...

- Ah Joshua, cê acha que eu sou otário? Eu vi a tua cara quando aquela moça, a Acipre... sei lá das quantas, pegou na tua mão! – respondeu Miguel, fazendo Joshua corar. – Sem contar que a pergunta dela, sobre amor à primeira vista...

- Ela perguntou sobre romances espontâneos... – argumentou, pois não contara sobre a outra frase, guardando para si.

- Dá na mes ma! – garfou Miguel, percebendo o acanhamento do primo. – Você sentiu o estômago embrulhar? Sua cabeça girar? Seu corpo suar frio? – Joshua tenta falar, mas Miguel continua. – Não tenta argumentar sobre o que você entende pouco... Aí, encontrei uma coisa da qual você não entende nada, sentir algo por alguém...

- E o que você entende disso? – falou Joshua, nervosamente e sem pensar. – O único relacionamento sério que você teve foi... foi... – preferiu não continuar, pois percebera a besteira que falou. Miguel então retrucou aborrecido:

- Continua... Vamos, fala de Cynthia! Vamos ver o quanto você sabe sobre relacionamento...

- Foi mal, Miguel, eu não quis te ofender... – falou Joshua, tentando se desculpar, mas Miguel já saltara da carroça, lhe dando as costas:

- Melhor entrar pra dormir, – disse, numa voz soturna. – acredito que teremos um dia longo amanhã. – Seguiu em direção à aturg de Ocit e entrou.

Joshua, por um momento, esquecera totalmente do sofrimento que o primo passara com a ex-namorada. Raramente eles falavam sobre assunto, mais raro ainda era mencionar o nome dela. Cynthia e Miguel haviam começado o namoro na quinta série e continuaram durante todo o ensino fundamental. Faziam planos de viajar juntos e cursar o ensino superior fora do estado, talvez até mesmo fora do país. Mas um desastre aconteceu na vida de Miguel, a avó dele e de Joshua, havia adoecido seriamente e internada. Aquilo abalou toda a família, piorou mais ainda quando ela faleceu. Sua mãe ficou completamente arrasada e ficara inviável abandonar a família, só que Cynthia não queria saber. Terminou com Miguel, dizendo que eles tinham incompatibilidade de prioridades, arrumou as malas e se mudou antes da conclusão da oitava série.

Miguel ficou e fez o vestibular. Dá última vez que tiveram notícias dela, estava trabalhando em uma loja de roupas e namorando um artista performático, em Nova Iorque.

Joshua sentiu-se mais culpado ainda, depois de lembrar daquele fato e entrou, cabisbaixo e cheio de remorso.


A Terceira parte já está disponível também, caso queiram lê-la.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Odal Ortuo Od - Primeira Parte

Certo, vou publicar alguma coisa do conto e vou fazê-lo assim, até ficar todo pronto. Quando isso acontecer, o publicarei todo. Este primeiro conto se chama "Odal Ortuo Od", e conta como tudo começa para nossos aventureiros, Joshua e Miguel. Divirtam-se com esta primeira parte:


Joshua é um estagiário no laboratório de ciência da universidade. Seu trabalho com o professor Fred é o de anotar e digitar as frações escritas no “quadro negro”.
O professor Fred possui o típico ar de cientista maluco, cabelo desgrenhado, barba sem fazer e olheiras mais escuras que seus olhos, que tinham aparência de intensa atividade, como se tivesse tomado doses cavalares de café, coisa que ele comumente fazia. Joshua já aparentava ser o tipo de “inteligente e tímido”. Óculos de aros de metal focavam sua hipermetropia, seus cabelos tinham um corte comum e estavam sempre bem penteados, com gel, para reter os fios rebeldes. Seus olhos apesar de não enxergarem bem a longa distância, eram bonitos, combinando com a pigmentação capilar, castanho-claros. Quando Joshua chegava ao laboratório e via o estado de seu mentor, prometia a si mesmo nunca ficar daquele jeito. Baseando-se em filmes e seriados, os estudos do professor Fred eram sobre viagens sobre portais, fossem dimensionais ou do tempo, o que ele queria era provar que as teorias sobre estes movimentos eram possíveis. A verba fornecida para este tipo de pesquisa era inexpressiva, pois ninguém achava viabilidade de aquilo existir ou mesmo uma utilidade para adentrar em outros mundos, fossem eles paralelos ou no passado ou no futuro. Seguindo teorias de física quântica, Fred fazia inúmeros cálculos, baseados em fracionamentos infinitos. Às vezes, seu discípulo e aluno o ouvia mencionando nomes com Heisenberg, Planck, Bell e Einstein. O fascínio de Joshua vinha da mesma motivação de Fred, por isso ele continuava, sem receber nada, também era estagiário.
Certo dia, Joshua ajudou Fred a construir algo que parecia um portal, intrigado, o interrogou:
- Professor, qual o objetivo algo tão cheio de fios e placas, em tamanho menor?
- Por que está perguntando isso, Joshua? – retrucou o professor. – Por acaso, não está se baseando que tamanho importa, não é? – Envergonhado, Joshua balançou a cabeça. Afirmativamente. Ignorando isso, Fred continuou:
- Se for isso, lhe falo que de acordo com a Mecânica Quântica, é completamente possível um corpo evoluir em energia distinta e ultrapassar este portal, chegando ao outro lado e retomando sua forma, sem prejuízos aparentes. Poderíamos até encaminhar dois corpos juntos, pois eles possuem características únicas, cada um, mesmo os inanimados. A energia quântica é indivisível, e quando gerada a energia fotônica correta, a onda de radiação eletromagnética age sobre os elétrons. Quando menor a onda, mais precisa ela é, atingindo o corpo e transformando em energia capaz de atravessar o portal. Agora com licença, porque preciso de um local isolado para não causar um buraco negro instável. – E olhou diretamente nos olhos cor de mel de seu estagiário, que deu um sorriso de compreensão, sem nem entender o que tudo aquilo queria dizer. Joshua relaxou a cabeça sobre o pescoço, e a balançou afirmativamente, fazendo o queixo bater no tórax.
Nos dias seguintes, após Fred esvaziar o seu escritório e colocar a mobília para fora, ele entrava e saía constantemente, sempre carregando algo para dentro da sala. O objeto que o professor denominou interportal, não saía da sala e somente ele podia entrar. Vez ou outra entrava com cadeiras ou frutas. Um apareceu com a porta do próprio carro:
- Preciso testar com objetos maiores. – disse ao léu. – Não posso somente trabalhar com frutas e cadeiras. Era estressante vê-lo entrar e sair da sala, até que um dia ele parou, pediu a Joshua seu gravador, um aparelho velho, aparentando uma caixa de sapato, com botões, onde ele gravava tudo, com fita cassete, e quando o pegou, começou:
- Os testes aparentam ter um relativo sucesso. Tudo que é posto em frente do Interportal, parece ser tragado por uma onda que transforma a massa em energia concentrada. No último teste, coloquei um porta de carro – meu carro -, junto com uma banana e ao ativar o interportal, as duas massas se tornaram energias distintas e foram drenadas pela passagem, mas surge um problema, não tenho como saber se a matéria mantém mesmo sua integridade , já que os objetos inanimados não retornam pelo portal. Procurarei o centro veterinário para ver se eles me doam um animal adestrado, para meus testes, só não sei se eles farão a doação. – desligou o aparelho e entregou de volta a Joshua. Quando ele ia guardar o gravador pesado, teve sua atenção chamada para a porta do laboratório. Era Miguel, primo de Joshua.
Miguel possuía um porte atlético impressionante. Mas além de grande atleta, ele era um aluno dedicado, mesmo não chegando ao desempenho intelectual de Joshua, tanto que precisou de sua ajuda para estudar pro vestibular. Fez Educação Física, além de se tornar um exímio atleta da universidade, se destacando em ginástica olímpica, que faz desde os doze anos.
As visitas de Miguel sempre eram esperadas, pois era o alívio de Joshua em meio de tantas fórmulas e cálculos:
- E aí já descobriram o wormhole? – esta era sempre a piada de entrada do Miguel. No começo, Fred se preocupava em respondê-lo, mas com o passar do tempo começou a ignorá-la, pensando que um dia ele poderia parar com aquilo, mas por conta da cara que sempre fazia, Miguel dificilmente pararia. Só que naquele dia algo estranho aconteceu:
- Ainda bem que você chegou Miguel. Faça companhia ao Joshua, enquanto vou ao Centro Veterinário, ver se eles me emprestam um de seus animais adestrados, se eles tiverem. – aquela era uma demonstração esquisita de confiança de Fred, ainda mais com Miguel. Pela primeira vez, o atleta ficara sem fala, mas assim que o professor sai da sala, olha sinistramente para seu primo:
- Primeira chance em semanas que teremos para ver como funciona o brinquedinho do...
- Não é um brinquedo, Miguel, é uma ferramenta de estudos...
- Ei, quem usou este termo, há duas semanas atrás, foi você mesmo: - “O professor Fred está criando um brinquedinho, cheio de fios e peças”... – Miguel fala, tentando imitar a voz do primo.
- Eu falei aquilo antes de ler e ouvir os resultados das pesquisas do professor Fred, Miguel. É incrível o que ele tem feito com o Interportal...
- É, mas isso não quer dizer que não possamos dar uma olhada e brincar um pouco. – anunciou Miguel. – O que é mesmo que ele usa? Frutas? Vamos lá, eu levo o abacaxi e você leva... Esta banana.
Mesmo meio receoso Joshua acompanhou o primo, temendo que ele estragasse o Interportal.
Entraram na sala, onde só havia uma mesinha de cabeceira e sobre ela, estava o pequeno objeto:
- Como a gente faz? – perguntou Miguel.
- Acreditamos que posicionamos a fruta na frente do Interportal, nos dirigimos para trás dele e o ativamos...
- Mas por que não podemos ficar na frente, para ver onde isso vai dar?
- Por causa da força de atração. O Interportal gera um pequeno buraco negro, que transforma matéria em energia. Vamos colocá-los aqui – falou Joshua, colocando a banana. – e deixar serem atraídos pela onde de energia quântica. Vem comigo... – os dois se posicionaram atrás do objeto, quando Joshua o ativou. Uma energia quase cegante foi a primeira coisa a acontecer, depois, como se toda a luz fosse atraída, um enorme breu tomou conta do ambiente:
- Não consigo enxergar nada. – reclamou Miguel. – To sentindo muito frio.
- É assim mesmo. – respondeu Joshua, com uma incerteza. – Depois tudo se estabiliza.
De repente, dois pequenos feixes de luz pareciam vir na direção deles, atravessando uma luz esbranquiçada, que parecia sair do umbigo deles:
- Fodástico! – exclamou Miguel, saindo do lado de Joshua. – Vamos ver como é isso...
- Não Miguel, - gritou Joshua. – enquanto o portal estiver ativado, qualquer matéria pode ser convertida e atraída.
- Que nada, olha só o tamanho desta coisa e o nosso tamanho. Nem que quisesse seríamos transformados em esferinhas de energia. Vamos lá! – E foi para frente do aparelho, impetuosamente. Assustado com a atitude desmedida do primo, e tentando segurá-lo, Joshua foi puxado para frente. Sentiu um formigamento no umbigo e ou viu o primo xingando:
- Que merda é essa? O que tá acontecendo comigo, Joshua...? – E a voz de Miguel se perdeu. Um clarão cegou Joshua e sentiu-se desmaiando.
Quando acordou, estava deitado sobre uma região árida, o solo mostrava rachaduras disformes. Sentiu seu estômago revirar e vomitou todo o almoço:
- Eca, o que você comeu hoje, feijoada? – reclamou Miguel, que estava sentado ao seu lado. Ele parecia ter levantado a pouco, estava pálido e uma poça, que começava a ser drenada pelo solo, só restando pedaços de comida, estava ao seu lado. Miguel então se levantou, bambeou um pouco, mas não cedeu. Joshua preferiu ficar ali, sentado, tentando entender onde eles estavam.
- Então, não vai levantar.
- Você percebeu o que aconteceu conosco? – argumentou Joshua, nervoso.
- Lógico, viajamos no tempo. Devemos estar em algum ponto do futuro, ou do passado...
- Estúpido. – Esbravejou Joshua. – Você é um estúpido e ignorante, Miguel. Como pode afirmar que viajamos no tempo? Isso aqui não é filme ou seriado. Não temos certeza se viajamos no tempo ou se atravessamos a barreira do multiverso ou se passamos para outra dimensão...
- Ei, calma aí. Posso até ser estúpido, mas tenho ciência que em outra dimensão não estamos. Você sempre falou da improbabilidade do corpo...
- da matéria... – interrompeu Joshua.
- Isso, da matéria conseguir sustentabilidade em outras dimensões, certo? - questionou, por final, Miguel. Joshua o encarou e pensou: - “ele decorou cada palavra que eu disse”, encarou o chão, balançou a cabeça e levantou encarando o primo, um pouco mais calmamente:
- Sim, você está certo. – Naquele momento Joshua se lembrou que sempre contava ao primo tudo o que acontecia no laboratório. Ele sempre dava atenção ao que ele tinha a dizer, e sempre perguntava o que não entendia. As vezes questionava sobre o professor Miguel ser um maluco, mas naquele momento, Joshua desacreditava disso, completamente. Apoiou as mãos no chão, intencionando levantar. – Acredito que possivelmente atravessamos a barreira do multiverso, o que é fantástico, comprovando a existência de outros universos, talvez uma infinidade deles, como as galáxias e os planetas, talvez...
- Joshua, você está divagando. – Comentou Miguel, chamando a atenção do primo e dando-lhe a mão, para ajudá-lo a se levantar. – Vamos, é melhor tentar descobrir explorando do que ficar divagando, balbuciando.
- Você está adorando isso, não é? – Disse Joshua, aceitando a ajuda do primo, que somente deu um leve sorriso, no canto do lábio. Eles se limparam da poeira vermelha e começaram a rodar no próprio eixo, tentando observar onde estavam. O céu era alaranjado, com um sol esbranquiçado, iluminando o local. Seu brilho era forte e ele parecia maior, o solo era vermelho, criando um leve contraste com a imensidão espacial a volta deles, era seco e com nervuras sem fim, era um terreno inóspito. Para onde olhassem não encontravam um traço de civilização:
- Apesar da dimensão da estrela regente, a temperatura não é tão alta. O ar é respirável, então acredito que fomos enviados a um ambiente com capacidade de sustentabilidade igual ao da Terra...
- Dãããã... Se estamos vivos e respirando, com certeza que fomos. Mas tem outro porém, será que eles falam o mesmo idioma que nós?
- Difícil dizer, enquanto não encontrarmos nativos. Digo isso por conta do ambiente, que apesar de desértico, é estável para criação de vida inteligente. Se tivermos mesmo viajado pela barreira do multiverso, poderia ser como do outro lado do espelho...
- Como é que é?
- Alice no País dos Espelhos, lembra? Vovó chegou a ler para nós. Alice viajava através do espelho, para um mundo onde objetos inanimados ganhavam vida.
- Então podemos estar em um lugar que uma priva cuspiria na gente? – indagou ironicamente, Miguel.
- Não é isso! O que eu quero dizer é que em um lugar além da nossa compreensão. Provavelmente eles nem falam nenhum dos idiomas conhecidos por nós.
- Bem, – disse Miguel, decididamente. – ou ficamos em indagações ou procuramos provas. Vamos nessa... – e começou a andar, quando se interrompeu, por perceber que Joshua não o seguia. – E aí, vamos ficar fingindo ser estátuas?
Joshua parecia indeciso. Era a chance dos sonhos de qualquer cientista, um lugar a ser explorado, mas ao mesmo tempo, se sentia culpado por ter agido sem autorização do seu professor:
- Não sei Miguel, Fred pode chegar ao laboratório há qualquer momento, isso se ele já não chegou, pois não temos idéia de há quanto tempo estamos aqui. Acho melhor esperarmos pelo caminho de volta ser apontado...
- Convenhamos Joshua, nem você se existe mesmo um caminho de volta. Melhor procurarmos algum tipo de civilização, pois como você mesmo disse, não sabemos a quanto chegamos e se escurecer...
- A estrela está muito acima, na imensidão alaranjada...
- Mesmo assim... – continuou Miguel, nervoso. – Ficarmos parados, esperando sermos encontrados, pode nos levar a sede e a fome. Se procurarmos habitantes, temos a chance de nos alimentar. – Por mais que não quisesse admitir, Joshua sabia que Miguel estava certo. Sem nada para argumentar, acompanhou o primo.
Andaram por muito tempo. Miguel se lembrou que estava com seu telefone móvel, mas quando o pegou, viu que não estava funcionando:
- Nem sempre dispositivos eletrônicos sobrevivem a qualquer descarga de energia, por isso pedem para não deixar telefones móveis perto de fornos microondas em funcionamento. Ainda bem que você não está com seu relógio de pulso, senão seria uma perda em dobro.
- Assim parece até Julio Verne no livro Viagem no Tempo... – Joshua dá uma gargalhada. – Do que você tá rindo?
- Do seu conhecimento literário. Primeiro, Julio Verne escreveu Viagem à Lua e Viagem ao Centro da Terra e segundo, o nome do livro é A Máquina do Tempo e o personagem não tem nome. Este livro foi escrito por H. G. Wells, o mesmo que escreveu A Ilha do Dr. Moreau e A Guerra dos Mundos...
- O filme com Tom Cruise? – percebendo o que falara, Miguel acompanhou Joshua no riso. Pararam assim que sentiram um leve tremor no solo seco, forçaram um pouco as vistas, devido ao brilho intenso da estrela, e viram algo que parecia uma carroça:
- Bem, pelo menos eles descobriram a roda. – argumentou Joshua. Miguel olhou-o estranhamente, com um leve sorriso nos lábios. – Quê? Eu também sei fazer piadas, só não sei contar anedotas.
- Vamos tentar chamar a atenção dele! – falou Miguel, ignorando o comentário humorado do primo, e então os dois começaram a gritar e balançar os braços no alto, se dirigindo ao veículo. O animal, que parecia um cavalo robusto, grunhiu assustado e o homem que guiava a carroça, não entendendo nada, puxou um instrumento, que parecia ser um facão feito de pedra. Apontou na direção dos dois, fazendo-os abaixar os braços:
- Hey, take it easy, sir! – falou Miguel, num inglês arranhado.
- Por que o inglês? – retrucou Joshua.
- Oras, porque é praticamente o idioma universal. – Só que o homem não pareceu entender e esbravejou palavras incompreensíveis para ele, descendo da carroça, munido de sua arma:
- Bem, acredito que não seja o idioma daqui! – indagou Joshua. – Senão conseguirmos nos comunicar, vai ser difícil... – então, Joshua sem avisar, caiu de joelhos no solo rachado.
- O que você está fazendo? – perguntou Miguel.
- Simbolizando. – argumentou Joshua, esticando os braços com as mãos abertas e as palmas viradas para cima. Sem mais o que questionar, Miguel tomou a mesma atitude.
Mesmo sem entender o porquê daquilo, Ocit compreendia um sinal de rendição. Nunca fora para uma batalha, preferia a aragem a campos de guerra, mas já se deparara com dissidentes, fugitivos e feridos de guerra, que quando eram de outros povoados e não falavam o mesmo idioma, eles agiam quase igual àqueles dois. Ele desceu de sua carroça, deixando seu oacaf no banco:
- Es metnavel! – disse, encostando a mão no ombro do mais franzino, que se ajoelhou primeiro. Joshua considerou a dicção compreensível, não se parecia com os grunhidos que ouviram antes, mas não compreendia o idioma. Com o raciocínio centrado nos idiomas que conhecia, tentou compreender a língua.
Joshua era um árduo filólogo, só que era autodidata, já que não existia o curso na sua universidade. Fazia parte de um grupo de estudo de esperanto, fez cursos de espanhol, inglês, alemão e francês – os únicos disponíveis nos cursos de idiomas de sua cidade – e procurou por vários outros idiomas pela internet, sempre com um raro sucesso. As vezes ia a consulados, para aprender na marra, os vários tipos de escritas e falas:
- Es etnavel ?! – disse Ocit, agora segurando no braço de Joshua na intenção de erguê-lo. Como se sua mente se iluminasse, Joshua disse:
- De trás para frente!... – E começou a se levantar, fazendo gesto para que Miguel fizesse o mesmo.
Em pé, Joshua percebeu o quanto o nativo era pequeno, batendo no seu ombro:
- O que você disse? – indagou Miguel.
- Peraí, deixe-me ver como falo isso: - “Joshua é enom uem!” – disse, pensando em cada sílaba.
- Ocit é uem o! Mêv sêcov edno ed? – Ocit falava agilmente, o que dificultava o raciocínio de Joshua. Sem compreender, Miguel interferiu:
- Como você sabe o que ele está falando?
- Peraí Miguel, preciso raciocinar o que ele disse. “De on-de vo-cês vêm?”, acho que é isso...
- Pára tudo! – esbravejou Miguel. – Você entende o idioma dele?
- O idioma dele é o mesmo que o nosso, só que invertido, como palavras no espelho. – fazendo um leve esforço para saber como falar, Joshua disse:
- Egnol ed... O-je-raliv ves oa ra-vel son a-i-re-dop? Ufa, essa foi difícil! - Entendendo o que o jovem dizia, Ocit, no seu modo de falar invertido, disse:
- Sim, subam na parte detrás da carroça que eu os levarei. – Aquela frase foi um tormento para Joshua, tanto que cutucou Miguel, para que pudesse ajudá-lo. Compreendendo a dificuldade dos rapazes, Ocit apontou para a carroça, então eles entenderam e envergonhados, foram para a parte detrás:
- Como eu ia saber que açorrac é carroça...? – resmungou Miguel.
- Raciocínio invertido, Miguel. – respondeu Joshua. – Eles falam nosso idioma, mas de forma invertida. É português, ao contrário.
- Nossa, que sorte encontrarmos uma pessoa que fala nosso idioma, ao contrário... – falou Miguel, tonalizando incerteza e ironia. – Qualé, Joshua, essa foi forçada.
- Você é uma anta mesmo. – retrucou Joshua para o primo cético. – Isso faz parte de uma continuidade. O ambiente se altera, mas o local não. Se estivéssemos na Inglaterra, por exemplo, possivelmente encontraríamos a língua inglesa invertida. Se situa, Miguel. – Aquela foi a gota d’água para o jovem robusto, que ele deu soco forte no braço do primo:
- Ai! Por que isso?
- Você pára de me chamar de estúpido e anta! Não sou obrigado a ter o mesmo conhecimento que você dessas coisas. – Daí então ficaram sem se falar, o que foi um alívio para Ocit, que não entendia nada do que eles tagarelavam.


A Segunda e a Terceira partes já estão disponíveis. Boa leitura!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Em Busca do Conhecimento

Nunca fui muito fã de blogs. Conheço blogueiros, mas nunca foi minha praia. Só que agora comecei a escrever contos e achei que este era o melhor jeito de divulgá-los. Pretendo estar postando constantemente meus contos aqui, sempre que estiverem prontos. Todos seguindo o título: Em Busca do Conhecimento. Os contos serão sobre dois jovens, que fazem viagens interportais. Isso aí mesmo que vocês leram. Comecei com isso por causa de um sonho sobre o assunto e quando comecei a pesquisar, percebi que seria bem complicado, mas sempre dizem para irmos atrás dos nossos sonhos e estou indo atrás deste. Os dois jovens se chamam Joshua e Miguel. Eles são primos e estudam na mesma universidade. Um faz Física e o outro faz Educação Física. A idéia é que eles, fazendo estas viagens, podem parar em tempo diferentes, em mundos diferentes e até universos diferentes. Seguindo uma linha de fantasia e ficção científica, pretendo levar a vocês boas histórias. Se gostarem, ficarei muito feliz em entretê-los, senão espero opiniões sinceras, pois podem ter certeza que farei o máximo para dar respostas a altura. Espero que se divirtam, como eu fiz...